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Tango argentino
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Ricardo López Murphy, ex-ministro de Economia no governo Fernando de la Rúa, está em Porto Alegre para evento organizado pelo Instituto de Estudos Empresariais (IEE). Ele concedeu entrevista para o Valor, acusando o governo Kirchner de mascarar os dados para vencer mais uma eleição. Abaixo, alguns trechos:

Valor: Recentemente o Indec divulgou um crescimento de 4,9%. O sr. confia nesses índices?

Murphy: Não confio. A baixa estimativa de inflação infla o número de crescimento real. É verdade que o segundo trimestre do ano passado foi ruim, mas o crescimento está entre 2% e 3% este ano.

Valor: O Indec disse ainda que a inflação em 12 meses foi de 10,5%. Qual o sr. acha que é o dado real?

Murphy: Próximo de 25%, acompanhando as altas taxas recentes de emissão monetária.

Valor: Para o Indec, a taxa de desemprego na Argentina é de 7,9%.

Murphy: Desconfio desse número. Os preços e as estatísticas econômicas estão maquiados. Não há hoje uma referência aceita pelos atores sociais. Os líderes sindicais falam da inflação do supermercado como forma de assinalar a incredulidade com os dados oficiais. É provável que haja menos distorção na estatística de emprego, mas ela também sofre com essa crise de credibilidade generalizada.

[…]

Valor: Quais os maiores erros da presidente Cristina na economia?

Murphy: Fechar a economia, submetê-la a controles absurdos de preços, confiscar propriedade privada, estimular a alta inflação com um déficit fiscal significativo, financiado com emissão monetária, e ter ignorado por muito tempo a grave crise energética.

Valor: Como melhorar a relação comercial entre Argentina e Brasil?

Murphy: Deveríamos voltar ao espírito original do Mercosul, criado para expandir o comércio e favorecer a concorrência e nossa própria eficiência. O regionalismo aberto buscava avançar em direção a economias muito competitivas, sem mecanismos artificiais como os que estão em vigência. Eliminar todas as restrições ao comércio introduzidas nos últimos 11 anos seria um passo favorável.

Valor: O Mercosul tem futuro?

Murphy: Sob as regras atuais e as decisões arbitrárias, nada pode funcionar de maneira positiva. A região e o Mercosul devem ser resultado da vontade dos países de aderir a regras não modificáveis por conjunturas de curto prazo. As regras devem promover segurança jurídica, o que tornaria a área mais previsível. Isso é o que se perdeu e não parece muito possível ser recuperado no presente.

O alerta de Murphy é importante para nós, brasileiros, pois a Argentina está alguns passos à frente do Brasil no processo de “revolução bolivariana”. Àqueles que pensam que o triste destino da nação vizinha não poderia acontecer no Brasil, lembro que a Argentina contava com ampla classe média e nível elevado de alfabetização. Nada segurou a onda populista da esquerda.

Ataque à liberdade de imprensa e manipulação de dados estatísticos oficiais, com fraca oposição no Congresso, isso arrasou de vez com a pátria de los hermanos. Soa familiar? Deveria! Todo cuidado é pouco. Há muita gente no governo que olha para a situação argentina não como uma lição sobre o que evitar, e sim como uma meta a seguir! A economia pode estar em frangalhos e a inflação descontrolada, mas o poder político ainda está concentrado em Kirchner. E sabemos que alguns petistas só pensam naquilo… no poder!

O tango argentino é trágico. Que saibamos evitar esse destino por aqui.

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