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A tática manjada dos “isentões” de esquerda: Bolsonaro representa ameaça maior do que PT à democracia?
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A tática já é bastante manjada: o sujeito é esquerdista até a medula, mas finge ser um analista independente que “critica” tanto a esquerda como a direita. Mas basta ler nas entrelinhas para ver o verdadeiro alvo: é sempre a direita, enquanto a esquerda, mesmo em sua versão mais radical, acaba sendo poupada.

Hoje tivemos um caso claro disso na coluna de Pablo Ortellado. Quem não conhece o autor, não perde nada. Quem o conhece sabe se tratar de um esquerdista que simula imparcialidade para sempre defender a esquerda. E é esse sujeito que tem poder e influência sobre a “checagem de fatos”.

Mas vamos focar na coluna de hoje. Nela, Ortellado solta a bomba: Bolsonaro produz declarações preocupantes para defensores do regime democrático. E lá no meio consta sua principal mensagem, colocada sem mais nem menos, de forma sub-reptícia: o PT pode ser corrupto, mas nunca atentou contra a democracia. Diz ele:

Em vídeo recentemente divulgado, Bolsonaro reafirmou sua posição de que não reconhecerá a eventual vitória de um adversário. Um pouco antes, o general Mourão, vice em sua chapa, declarou que considera legítimas tanto a possibilidade de autogolpe quanto a de uma revisão da Constituição realizada por constituintes não eleitos. 

A ameaça é tão grave que é preciso um compromisso dos principais atores em defesa das instituições democráticas. Para começar, precisam reconhecer a legitimidade do adversário.

A direita, de um lado, tem tratado Lula e Bolsonaro como expressões diferentes do mesmo fenômeno populista que não respeitaria as regras da democracia liberal —isso, a despeito dos governos petistas terem observado rigorosamente esses limites (má gestão econômica e corrupção são problemas de outra natureza). 

Os governos petistas observaram rigorosamente os limites democráticos? Só mesmo na cabeça do autor! O PT fez de tudo para destruir nossa democracia, a começar pelo mensalão, que não foi apenas corrupção, mas uma tentativa de golpe contra a democracia, ao comprar deputados diretamente, subvertendo as funções do Congresso.

Mas não foi “só” isso. Há inúmeros indícios de uso da máquina estatal para fins partidários, de tentativa de calar a imprensa, de recursos ilícitos do exterior para campanha, de descaso para com as leis eleitorais, de aparelhamento das instituições republicanas etc. A lista é bem grande, mas basta lembrar do seguinte: o PT defende oficialmente o regime venezuelano, que matou a democracia em seu país com essas táticas perversas, usando a própria democracia para tanto.

Logo, a essência da mensagem do texto, que é colocar Bolsonaro como perigo à democracia, sendo que há apenas falas infelizes, enquanto livra o PT dessa ameaça, sendo que há atos petistas no governo claramente contra a democracia, é fruto de uma “análise” a serviço de uma ideologia. Ortellado até “critica” o PT, vejam só. Mas é para, no fundo, defende-lo de sua principal acusação: mais do que corrupto, o “partido” é uma quadrilha totalitária que rejeita os pilares da democracia.

Para Ortellado, os problemas do PT são a má gestão econômica e a corrupção. Sobre seu constante desrespeito às leis, sobre seus infindáveis ataques às instituições republicanas, sobre sua oficial reverência aos regimes ditatoriais de Cuba e da Venezuela, nem uma só palavra. O cara de pau quer convencer o leitor de que Lula é apenas um pouco incompetente e corrupto, como tantos outros por aí. A natureza antidemocrática do partido é deixada de fora. Muito conveniente, não?

Rodrigo Constantino

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