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Brasília - O presidente interino Michel Temer durante cerimônia de posse aos novos ministros de seu governo, no Palácio do Planalto (Marcello Casal Jr/Agência Brasil)
Brasília - O presidente interino Michel Temer durante cerimônia de posse aos novos ministros de seu governo, no Palácio do Planalto (Marcello Casal Jr/Agência Brasil)| Foto:

Em sua coluna de hoje, Denis Rosenfield comenta sobre a votação no Congresso que acabou dando fôlego ao presidente Temer. Para o professor de filosofia, a população não pressionou os deputados por perceber a fraude por trás do movimento “ético” da extrema-esquerda. Diz ele:

É inegável que o resultado da votação da denúncia oferecida pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, configurou uma vitória expressiva do presidente Temer. Alguns analistas, que mais pareciam torcidas organizadas, chegaram a dizer que os seus dias estavam contados e que os deputados o abandonariam, dada a sua baixa popularidade. Não foi isto o que aconteceu. Mais uma vez, o presidente mostrou-se um hábil articulador, profundo conhecedor da Câmara dos Deputados, capaz de desarmar toda uma oposição que nem soube se comportar dignamente.

Diga-se, aliás, que o PT e o PSOL, nos dias anteriores, esmeraram-se em defender a ditadura de Nicolás Maduro, que, seguidor de Chávez, consumou a falência da Venezuela. As mortes rotineiras, perpetradas pelas milícias bolivarianas, são um triste retrato do “socialismo do século XXI”, tão ardentemente defendido pelas lideranças petistas. O país está em ruínas, a população na miséria, os supermercados desabastecidos, a democracia ferida de morte e o que faz a nossa esquerda? Apoia um regime claramente liberticida. Eis a alternativa que ofereceram ao país no processo de julgamento da denúncia oferecida pelo procurador-geral. Nesta perspectiva, não seria de estranhar o silêncio das ruas. Tratar-se-ia de apoiar o PT nesta sua radicalização?

Ricardo Noblat, em sua coluna de hoje, também resumiu bem por que a derrota de Temer, neste momento, não interessava a quase ninguém:

Temer ficou porque era melhor para todo mundo. Melhor para o Congresso acuado pela Lava Jato e interessado em extrair vantagens de um presidente fraco. Melhor para a oposição que imagina crescer batendo nele. Melhor para os reais donos do poder satisfeitos com a sua agenda de reformas. Melhor até para a maioria dos brasileiros que o rejeita. Trocá-lo por quem? E a 15 meses de uma nova eleição? As ruas não roncaram contra Temer porque não são tão bobas.

Ou seja, em parte Temer fica por motivos sombrios e preocupantes, em parte por razões absolutamente compreensíveis e legítimas. Infelizmente, nem todos à direita entenderam assim. Ou, se entenderam, não podem expor, já que faz parte de sua estratégia de chegada ao poder demonizar “tudo e todos que estão aí”, o “sistema” todo, sem fazer distinção entre o ruim e o pior, entre comunistas golpistas e social-democratas ou fisiológicos.

A narrativa dessa turma teve de ser purista demais, condenando todos que votaram a favor de não aceitar a denúncia agora como se fossem “defensores de bandidos”. Péssima estratégia. Em uma análise que tive acesso do consultor Manoel Carlos, que já prestou serviço para diversos políticos de direita, consta o principal motivo do erro dessa postura, principalmente por parte da militância de Jair Bolsonaro:

Que todos, ou quase todos os deputados acreditam que Temer possa estar envolvido em algum caso de corrupção, isso é praticamente consenso. O que difere do discurso do Bolsonaro, na votação de afastamento de Temer, não é no “padrão” da conduta criminosa ou na possibilidade de ter-se praticado um crime, mas no “critério” de estabelecer uma punição e o próprio afastamento de Temer. Apoiadores de Bolsonaro não iriam dizer que ele apoia bandido, caso votasse pelo não afastamento de Temer, pois para os mais atentos isso já havia ocorrido, em outros moldes, no caso do Fora Cunha, quando perguntado sobre o ex-presidente da Câmara, Bolsonaro reconhecia sua importância naquele momento. Porém, em seu voto pelo afastamento de Temer, o que mais chamou a atenção não foi o voto de Bolsonaro em si, nem a diferença de postura que teve diante do Caso Cunha, mas as entrevistas que Bolsonaro e Eduardo deram quanto ao tema e a patrulha de parte de sua militância, muitos desinformados e sem estabelecer os devidos critérios para um debate justo.

Avançando. A esquerda é tão eficiente quando o assunto é comunicação, que a narrativa da “tal” INVESTIGAÇÃO; a caça aos “inimigos” da nação que votaram contra investigação do “bandido” Temer – nada mais é do que uma propaganda da esquerda, mais um chavão da mídia esquerdista que acabou sendo comprada equivocadamente por muitos de todos os lados, direita, esquerda, pessoas comuns que não acompanham a política e “isentões”. A bem da verdade, os deputados que votaram SIM, em grande parte, votaram pelo NÃO AFASTAMENTO DO TEMER. O contrário disso, representaria a entrada dos comunistas por meio do Maia, assim pode-se compreender como uma justificativa real e perfeitamente admissível.

Com o Temer afastado, se aprovado na votação, alguém ocuparia esse espaço. Essa era a intenção do PSOL, PC do B, PT, Rede e parte do PSB.

[…]

Onde está o erro estratégico? Não me refiro a justificativa e a decisão política ou jurídica, mas a questão puramente estratégica. Então, passo a dissecar a decisão de Bolsonaro sob a ótica estratégica. O que pudemos perceber diante do patrulhamento desnecessário de apoiadores de Bolsonaro, Jair e Eduardo quiseram capitalizar, acenderam o pavio e a militância explodiu, os reflexos negativos dos estilhaços ainda estão por vir. Um erro que pode lhe custar muito caro num futuro próximo, tanto para 2018 quanto em suas retóricas.

Após todos os embates – discussões entre intelectuais da própria direita e militância sobre o voto de Eduardo e Jair Bolsonaro – a família Bolsonaro ficou atrelada ao discurso dos comunistas. Mas como isso é possível? Será verdade? Faça sua própria avaliação.

Vamos aprofundar: (1) Bolsonaro pratica o respeito com o dinheiro público, isso é inquestionável; (2) Os comunistas discursam bonito contra a corrupção, mas praticam o inverso do que dizem; (3) a grande mídia é contaminada pela ideologia marxista; (4) a grande mídia coloca Molon (esquerda), Chico Alencar (esquerda), Ivan Valente (esquerda), Jandira (esquerda), Marina Silva (esquerda), Randolfe Rodrigues (esquerda) como os tutores do combate à corrupção; (5) a narrativa que prevalece é a da esquerda sob qualquer aspecto; (6) o maior assalto aos cofres públicos de nossa história foi praticado pela extrema-esquerda comuno-petista, mas isso é dissolvido por generalizações de que todos são corruptos e, agora, pelo Fora Temer; (7) hoje os comuno-petistas e extremistas de esquerda estão na oposição, na posição que sabem atuar; (8) a tutela da luta contra a corrupção volta às mãos da extrema-esquerda no discurso e na mídia; (9) quando subirem à tribuna para falarem de corrupção, Bolsonaro terá que ouvir; (10) Bolsonaro não poderá discordar desses criminosos hipócritas. Não, pelo menos no discurso; (11) por fim, banalizou-se o combate contra a corrupção, agora esse tema está na boca de qualquer esquerdista, com apoio da mídia e do senso comum; (12) estrategicamente, a extrema-esquerda com apoio da mídia, conseguiu, com uma única cartada, aniquilar o maior ponto do discurso de Bolsonaro para 2018; (13) a população sabe a diferença entre discurso contra a corrupção e a prática contra a corrupção?

Antes dos embates desnecessários que se instauraram entre a própria direita, militantes atacando intelectuais e também deputados de direita, todo o desgaste que está por vir poderia ter sido evitado.

Mas não foi. E a postura agressiva da militância demonstra como o próprio Bolsonaro já pode ter percebido o equívoco, e agora está na defensiva. Chamar de “defensor de bandidos” todo aquele que rejeitou fazer o jogo sujo do PT e do PSOL, ao lado de Rodrigo Janot, o “procurador-geral do PT“, e da mídia golpista,  é dar um tiro no pé. Algo que Olavo de Carvalho parece ter se dado conta também:

Não precisamos ter “bandido preferido” para entender o que está em jogo no momento, qual a cartada da extrema-esquerda, e como ela pretende impedir qualquer avanço no país. Temer, com todos os seus inúmeros defeitos, tem adotado uma agenda de reformas, até por extrema necessidade. E é isso que os socialistas querem impedir. Guilherme Fiuza resumiu bem a coisa:

Fiuza está certo. Há uma turma na direita que condenava até o impeachment de Dilma como estratégia de libertação do Brasil. Alegava que ela seria trocada por outro dentro do establishment, como se não fizesse diferença alguém do PMDB ou do PT. Besteira! O Brasil já poderia ser a Venezuela hoje. É preciso lutar com as armas existentes, de forma minimamente pragmática. Passo a passo. O idealismo jacobino de “tudo ou nada” costuma terminar quase sempre em… nada!

Criticar o PMDB e o PSDB é importante, e basta uma rápida pesquisa no meu blog para notar como faço isso com frequência. Mas daí a ignorar que um abismo os separa do PT vai uma longa distância. Paulo Guedes, economista liberal, bate bastante nos tucanos, mistura muito PT e PSDB quando ataca o “antigo regime” e a social-democracia (errando, em minha opinião, ao não constatar que o PT é comunista mesmo). Mas até Guedes, em sua coluna de hoje, teceu elogios em uma justa homenagem a Arminio Fraga, cujo legado positivo ao Brasil é incontestável.

O PSDB pode ser de esquerda e ruim, o PMDB pode ser fisiológico e corrupto, mas nenhum dos dois é parecido com o PT ou suas linhas-auxiliares, como PSOL e PCdoB. Plano Real, Lei de Responsabilidade Fiscal e privatizações foram conquistas tucanas, enquanto o PT se colocava contra todas elas. E agora temos, com Temer, uma retomada dessa agenda menos esquerdista, ou que ao menos aponta na direção certa, ainda que muito aquém do necessário. É preciso seguir adiante. Denis Rosenfiled conclui:

Urge, neste contexto, que o Brasil reconcilie-se consigo, abandonando conflitos que possam inviabilizar reformas que são não apenas necessárias, mas prementes. A da Previdência é a mais em vista e a tributária deve segui-la. Divergências quanto ao governo deveriam ser deixadas por ora de lado, para serem resolvidas nas eleições do próximo ano. A conciliação deveria ser o mote nacional, em vez do acirramento dos conflitos. O país nada ganha com combates incessantes. É o momento de retomada do diálogo e não da exclusão.

Alguns poderão alegar que isso é o mesmo que salvar o establishment, em vez de fazer uma “limpeza geral”. Entendo o raciocínio. Mas o considero muito arriscado. Alguém está mesmo disposto a afirmar, hoje, que tirar o PT por meio do impeachment de Dilma era indiferente, já que o establishment continuou no poder? É como afirmar que não há tanta diferença entre a Venezuela e o Chile, já que nenhum dos dois é liberal e ambos são dominados pelos “donos do poder”.

Perfeição não existe em política. E, para se ter uma nação decente um dia, primeiro é fundamental impedir a volta da extrema-esquerda ao poder, daqueles que flertam com o regime venezuelano. Insistir na narrativa de que a extrema-esquerda e a esquerda tucana são exatamente a mesma coisa, ou que petistas e Temer são “todos corruptos”, é não só uma injustiça, ao ignorar as diversas gradações existentes de vermelho, como também uma bola levantada para a extrema-esquerda.

Tudo que Lula mais quer no momento é que seu projeto totalitário e a institucionalização da corrupção durante seu governo sejam chamados de “mais do mesmo”. O PT não é igual aos demais; é muito pior, é revolucionário e comunista. Os outros, mal ou bem, estão tocando reformas necessárias. Que possam continuar o trabalho para que, em 2018, o eleitor finalmente escolha uma alternativa melhor, de preferência mais liberal.

Rodrigo Constantino

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