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Ele manda no país?
Ele manda no país?| Foto:

O jornalista Reinaldo Azevedo dá um furo em seu blog, afirmando que Michel Temer teria concordado em devolver à Cultura o status de ministério. O presidente em exercício não teria aguentado a pressão da classe organizada e poderosa, e teria decidido voltar atrás em sua decisão de fundir o Minc ao MEC. Para Azevedo, trata-se de uma demonstração de humildade e capacidade de reconhecer erros, algo que faltava à presidente Dilma. Para mim, Reinaldo Azevedo tenta fazer do limão uma limonada. Diz ele:

Havia uma justa demanda da sociedade pela redução do número de ministérios. E o da Cultura, em razão da estrutura que tem e da proximidade óbvia com a Educação, era um candidato à fusão.

Todos sabem a minha opinião a respeito: eu não teria feito essa fusão porque me parecia que a dor de cabeça seria infinitamente maior do que os benefícios. Na era da Internet, boatos viram fatos.

E o boato de que a Cultura estaria sendo subestimada virou, para os artistas, um fato, ainda que não-verificável. Porque, efetivamente, não há desprestígio nenhum.

[…]

É um recuo? É, sim! E me parece meritório! O bem que como tal não é percebido e que corre o risco de ser lido às avessas, vamos convir, “bem” não é. Porque assim será apenas se puder se desdobrar em fatos virtuosos. E, definitivamente, não é o que está em curso.

O presidente está com uma tarefa gigantesca nas mãos, como todos sabemos. O rombo no Orçamento anunciado nesta sexta, 76,35% maior do que a gestão Dilma havia anunciado, dá conta do desafio. Temer está consertando um avião que estava pronto para se espatifar enquanto ele está voando.

Eu mesmo estou entre aqueles que chamaram de “erro” a fusão. E não vou, obviamente, censurar alguém que corrige um erro. Ao contrário: vou aplaudir.

Eu não. Acho até que pode ter sido um erro sim, um erro político, por ter calculado mal o barulho que isso iria gerar para pouco resultado efetivo. Temer sofreu enorme desgaste com uma pauta totalmente secundária ao país, sendo que precisa focar nas mudanças econômicas urgentes.

Mas, uma vez tomada a decisão, recuar agora é sinal de fraqueza, não de humildade. É sucumbir às intimidações de uma patota organizada em busca de privilégios. É se curvar diante de Caetano e Chico, os camaradas do PT. É ceder a mão sabendo que os gulosos de lá vão querer, agora, o braço todo, o corpo todo.

Há certas decisões das quais não podemos simplesmente voltar atrás. Se alguém ofende sua mulher, por exemplo, e você decide tirar satisfações, é melhor que vá com determinação e coragem. Se mudar de ideia no meio do caminho e suavizar, vai acabar humilhado, apenas isso, se não levar um sopapo do abusado na frente da mulher.

Pode ser, como reconheci, que Temer não devesse ter feito isso na reforma ministerial. Uma vez feito, porém, era fundamental manter a decisão, demonstrar aos artistas engajados quem manda, que a farra acabou, que algo fundamental havia mudado. Se ele desistir mesmo, como diz Reinaldo, será um tipo no pé: não vai conquistar o apoio dessa turma, e vai perder o respeito dos liberais e conservadores que se animaram com a atitude de macho.

Alguém acha que esses artistas da esquerda caviar vão passar a apoiar Temer só por esse recuo? Nem a pau, Nicolau! Vão continuar o acusando de “golpista”, sendo que agora estarão seguros de que mandam na zona, de que controlam a política, de que decidem o destino das verbas. Reinaldo ainda mantém um otimismo, ingênuo em minha opinião:

Que a Cultura volte a ter status de Ministério. O que cobro, isto sim, é que seja gerida por gente competente e que os gestores se orientem pelo critério, então, da eficiência, da qualidade e do retorno dos recursos investidos. Com em qualquer área.

Anotem aí: na segunda-feira, o presidente deve anunciar a mudança. Que bom!

O Brasil estava enfarado era de governantes que, ao perceber que adotaram um remédio errado, dobravam a dose. Assim fazia Dilma.

Também essa mudança é positiva.

Não é. É negativa, e pode cobrar à vontade, caro Reinaldo, que sabemos, na prática, que nada vai mudar no processo decisório. As verbas do Minc continuarão atendendo a uma elite poderosa da classe artística, e em nome da “cultura” teremos funk de baixo nível e outras porcarias sendo financiadas também.

Sei que Temer precisa de nosso apoio nesse momento, que sua equipe econômica tem que ter condições de aprovar reformas, que o cenário é sombrio e perigoso. Sabemos que a economia é muito mais relevante do que isso que essa turma chama de cultura. Mas nem por isso podemos fechar os olhos para o simbolismo desse recuo, se ele de fato ocorrer.

É a prova cabal de que a pauta no Brasil continua sendo comandada por uma elite vermelha, que não importam os 11 milhões de desempregados, a inflação, o rombo fiscal de R$ 170 bilhões, apenas os privilégios da “máfia do dendê”, como diz Lobão. Não consigo ver isso como uma limonada, como sinal de maturidade de Temer. Só enxergo limão. Limão azedo. Limão podre.

Rodrigo Constantino

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