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Roger Scruton, Wiltshire, England, November 2011
Roger Scruton, Wiltshire, England, November 2011| Foto:

A política está muito polarizada e em clima de guerra tribal. Lemos isso o tempo todo. Mas de quem é a culpa? A julgar pela mídia, seria da direita preconceituosa e fascista. O máximo que os “isentões” aceitam é uma equivalência moral: tanto esquerda como direita precisam recuar no tom da retórica. Mas e se a esquerda se mostra cada vez mais radical e o outro lado apenas reage?

Um exemplo pode ilustrar melhor o ponto. O filósofo britânico Roger Scruton é um lorde em sua postura, um verdadeiro cavalheiro. Procura focar sempre nos argumentos e com muita educação, tentando enxergar no lado adversário boas intenções. Jamais alguém como ele poderia ser incluído na lista dos raivosos e intolerantes. Não obstante, até mesmo Scruton foi alvo da ira orquestrada dos esquerdistas.

Theresa May criou uma comissão para avaliar a beleza arquitetônica dos novos projetos de casas populares do governo. De beleza e de arquitetura Scruton entende bem, e escreveu um ótimo livro sobre isso. Minutos após seu nome ser indicado, porém, os ataques começaram. Em pouco tempo já havia uma espécie de linchamento público pedindo sua cabeça, e a pressão foi tanta que ele pode ser demitido.

A turba ensandecida encontrou pretextos em episódios isolados e retirados do contexto, para pintar Scruton como um “islamofóbico” e até como um antissemita, pelas críticas que fez na Hungria ao judeu socialista George Soros. O Partido Trabalhista jogou lenha na fogueira, ignorando seu líder de extrema-esquerda, Jeremy Corbyn, esse sim um antissemita escancarado.

E eis que na avançada Inglaterra um dos mais brilhantes intelectos da atualidade é massacrado pelo politicamente correto e tratado praticamente como um nazista. Se alguém como Scruton recebe tal tratamento, o que esperar dos que realmente flertam com a “supremacia branca” e o nacionalismo exacerbado?

A tática é velha, mas tem se intensificado. Não importa quem está à direita dos socialistas, sempre será tratado como um extremista de direita. Se foi Trump recentemente, antes o bastante moderado Mitt Romney ou o quase democrata John McCain foram alvos dos mesmos rótulos. Se Bolsonaro de fato é mais autoritário e de direita, mesmo os tucanos de esquerda foram acusados das mesmas coisas pelos petistas.

Se todos que não são “progressistas” radicais se tornam “fascistas” na boca dos esquerdistas, então quando um fascista aparecer mesmo ninguém vai levar a sério o alerta. E essa conduta desperta a revolta dos moderados. Afinal, se até alguém como Scruton é massacrado pela máquina de moer reputações da esquerda, qual o incentivo para adotar uma postura decente e conciliatória?

Graças à esquerda, pensadores como Scruton perdem espaço para tipos realmente truculentos e intolerantes.

Artigo originalmente publicado na revista IstoÉ

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