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Um taxista radical: o monstro em gestação
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Peguei o táxi no hotel em São Paulo para ir ao aeroporto. Logo na saída do hotel, havia um sujeito fardado. O motorista do meu táxi abaixou o vidro e perguntou: “Quando vocês vão agir? Só vocês para dar jeito nessa droga!” O termo não foi bem esse, mas o leitor entendeu o recado. O motorista, sem saber quem eu era, estava se expondo, transtornado, defendendo abertamente a intervenção militar. Eu poderia ser um petista!

Claro que o assunto acabou indo nessa direção. Ele declarou que não aguenta mais esses corruptos no poder, a criminalidade, a covardia do PSDB, e falou com saudade do regime militar. Disse que vem de família muito pobre, com nove irmãos, mas que sempre trabalhou com dignidade para comprar o pão do dia a dia, e que esses “vagabundos” estão destruindo o país, que ninguém mais tem orgulho de cantar o hino nacional, que estamos perdidos.

Na época da ditadura, disse, quem queria trabalhar era deixado em paz, e bastava não defender besteiras comunistas para não ser importunado. Hoje, a corja está no poder, e os bandidos são tratados como vítimas da sociedade. Deveriam ter medo da polícia, respeito ao menos, mas são ousados ao extremo. “Tem que sentar o dedo nesses vagabundos”.

Em seguida, disse que se Bolsonaro se candidatar para presidente, ele faz campanha de graça, trabalha para ajudá-lo. É o único com coragem de enfrentar os safados, que tem “aquilo roxo”, como diria Collor.

Enquanto defendia suas ideias radicais, uma câmera russa ia filmando tudo à frente. Ao custo de R$ 250 e com cartão de memória com 8 horas de capacidade, ela vai guardando as imagens do que se passa na frente do carro, para qualquer coisa ele ter provas do que aconteceu. Paranoia? Ou adaptação ao modo de vida brasileiro?

Preferi, por cautela, não fazer um discurso de oposição aos seus receituários, e focar na convergência: realmente, a coisa está muito complicada, a impunidade é revoltante, a falta de respeito pela polícia, acusada de “fascista”, é ultrajante, assim como o discurso de que marginais são “vítimas da sociedade”. Pobre não precisa roubar para viver. Isso é ofensivo.

Mas deixei o táxi pensando: esses abusos da esquerda, esse caos social, essa violência, corrupção, esse fardo para os que realmente trabalham duro para sobreviver contra tantos obstáculos criados pelo próprio governo, tudo isso vai só alimentar cada vez mais o radicalismo. Mais e mais gente vai demandar alguma atitude extrema para lidar com isso, pois não suportam mais esse descaso, essa pouca vergonha, essa inversão de valores, essa roubalheira impune.

O fracasso populista vai produzir um clima de aceitação crescente aos mais radicais, que batem firme na mesa e defendem “sentar o dedo nos vagabundos”. Não é a solução, claro. Mas não é fácil persuadir essas pessoas de que pode haver uma saída dentro das instituições legais e democráticas, que a luta é árdua e desigual, mas que a alternativa é sacrificar nossas liberdades mais básicas, que vale a pena preservar o Estado de Direito. Estão alimentando um monstro, e a responsabilidade é dos populistas irresponsáveis…

Rodrigo Constantino

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