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Até onde deve ir o pragmatismo “populista” da direita?
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Um tema recorrente nos debates dentro da direita é até onde se deve ir no pragmatismo, sem sacrificar princípios. Não é trivial. Qualquer pessoa séria e realista sabe que política não é lugar para românticos e idealistas, e que o jeito mais rápido de perder uma guerra é sendo derrotado.

Os "puristas" que tentam manter a postura de "isentão" fingem não perceber que fazem o jogo dos adversários à esquerda, ou porque sofrem de ódio patológico aos direitistas "impuros", ou porque, no fundo, sentem uma quedinha pela esquerda. Mas o jogo real é bruto.

Uso esse pano de fundo para falar do Renda Brasil. O presidente Bolsonaro resolveu abortar de vez o programa após a mídia dar destaque em manchetes aos cortes necessários nos atuais programas sociais. "Não vou tirar dos pobres para dar aos paupérrimos", repetiu o presidente.

A conta não fecha, eis o ponto. O cobertor é curto. O ministério da Economia precisa lidar com essa realidade, e há um embate natural entre economia e política. Bolsonaro quer expandir a assistência social, mas tem que fazer isso dentro dos limites fiscais. Como?

Esse governo debate muito às claras. É transparência, mas tem seu lado negativo. Um deles é justamente esse ataque antecipado enquanto a equipe de Guedes ainda trabalha nas contas. Adolfo Sachsida, secretário do governo, comentou:

O presidente é um parceiro na agenda de reformas pró-mercado. Nós fomos eleitos com essa pauta. Você olha o grande apoio que o ministro Paulo Guedes tem nessa pauta e nós estamos avançando. O que me parece que o presidente Bolsonaro coloca corretamente é que as discussões não podem ser públicas. Você não pode ficar lançando ideias publicamente.

Talvez fosse um bom caminho o silêncio mesmo, até as coisas ganharem forma mais robusta. Ou talvez seja um balão de ensaio para ver até onde pode ir, e reagir de acordo com a repercussão. Nesse caso o governo precisa de "bodes expiatórios" quando "dá ruim", como aconteceu com Marcos Cintra no caso da CPMF.

Paulo Guedes tratou com mais naturalidade esse barulho: "A democracia é barulhenta, então faz aquele barulho todo. Mas não prestem atenção no barulho, prestem atenção no sinal. O sinal é: as reformas estão progredindo, a economia está voltando". Guedes também condenou a torcida do contra de parte da mídia, que faz intriga e deseja o pior. Ele tem um ponto, claro.

Basta acompanhar alguns jornalistas "mainstream" para ver que existe uma campanha contra o governo. "Se o governo Jair Bolsonaro fosse uma partida de futebol seria uma pelada de várzea", disse Vera Magalhães. Ora, se o jornalismo da patota do selo azul fosse uma partida de futebol, seria como aquele time sem torcida, adorado apenas pelos comentaristas, e revertendo o resultado no tapetão. Eis outro trecho de seu artigo de hoje no Estadão:

Vera não tem "nojinho" do PT, muito pelo contrário (chegou a afirmar outro dia que não votou em Bolsonaro no segundo turno, aliviada e orgulhosa com sua "indiferença" frente ao petista); mas ela tem ódio profundo, visceral e patológico ao Bolsonaro mesmo!

É como seu colega Josias de Souza, que chorou na sua saída do 3em1: considerava Lula um grande líder, mas é incapaz de admitir qualquer acerto do atual presidente. Nesse texto antigo, Josias tece elogios a Lula, o que se mostra absolutamente incapaz de fazer com o atual presidente:

O grupo se contrapõe a outro que, apegado ao novo mandamento que proíbe o exercício da dúvida, costuma tachar de preconceituosos os que ressaltam o desafio posto diante de Lula. Nas funções de chefe do Executivo, terá de potencializar todas as suas qualidades: capacidade de liderança, autoridade, coragem, visão etc.

O que não falta em nossa imprensa é esquerdista bancando o "imparcial" enquanto faz de tudo para detonar o governo direitista. E aí surge o dilema: até onde aturar o pragmatismo "populista"? Se Bolsonaro não fizer um programa social seu, o Congresso já pensa em tomar a dianteira. Política é assim, não tem vácuo.

É esse real dilema entre economia liberal e política concreta que divide o próprio governo. Por transparência, essas divisões são tratadas à luz do dia, e os abutres se aproveitam para jogar lenha na fogueira, criar mais intriga, torcer pela queda do ministro.

Não há uma única postura certa por parte de liberais e conservadores aqui. Caso contrário não seria um dilema. Mas uma coisa está clara: a opção de bancar o "purista" e adotar uma visão estritamente economicista, ignorando o aspecto político e a necessidade de se vencer eleições, parece algo de quem gosta de viver numa torre de marfim, mesmo com o PT no comando do país, rumo ao abismo...

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