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Covid-19 e a “revolta de Atlas”
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Por Rodrigo Freitas, publicado pelo Instituto Liberal

Os últimos meses desvendaram a maior pandemia da história recente. Com origem em circunstâncias obscuras em Wuhan, capital da província da China central, o flagelo foi causado pelo vírus denominado “Covid-19”. Uma vez transmitido e instalado no corpo humano, o vírus se alastra e promove a “asfixia” da capacidade respiratória, de dentro para fora. Desde o final de 2019, o vírus já causou a destruição de milhares de vidas humanas, o colapso dos sistemas de saúde e econômico de algumas nações, além de instabilidade política e social de outros tantos países.

A partir de então, a realidade mostrou uma crescente e perigosa intervenção estatal na vida, nas liberdades individuais e na propriedade privada, sempre a pretexto da preservação da saúde e da segurança coletiva e com base nas estatísticas.

Os eventos mundiais estão deixando as aventuras de Forest Gump no chinelo. Confisco de bens privados na França, EUA e Brasil. A China inaugurando oficialmente o maior “Big Brother” do universo (calma, somente os burocratas chineses têm acesso ao pay-per-view). O Poder Executivo argentino proibiu as demissões e, consequentemente, o desemprego (merece prêmio Nobel de economia 2021?)[1]. Os EUA praticando “pirataria moderna” ao desviar cargas privadas destinadas à contenção da pandemia em outros países. Políticos, que nada produzem, tabelando o valor e o preço dos produtos e serviços de quem produz – o indivíduo. A maioria dessas ações estatais foi empregada com a intenção de preservar a “sociedade” e a saúde da “coletividade”.

Inspirados nos governos americano e argentino, resta apenas aos piratas da Somália reivindicar a legalização global, via OMS, de seu nobre ofício de pirataria em prol da “saúde pública dos irmãos somalis” – ou aos burocratas determinar a extinção do vírus via decreto.

A propósito, já que estamos tratando da luta de quem pouco ou nada produz (Estado, burocratas) contra quem produz (indivíduo ou o Atlas, vamos explicar logo adiante), a obra A Revolta de Atlas, da filósofa russo-americana Ayn Rand, merece saudações.

Com uma narrativa com pitadas de ficção, romance e de personagens tolos e outros enigmáticos (Who is John Galt?), tudo meticulosamente arquitetado pela genialidade da autora, o livro explora um mundo infestado por repúblicas socialistas, capitaneadas por economias dirigidas, por filosofias coletivistas em prol do “bem estar social”.

Nesse mundo sombrio regido por planejadores centrais, os trabalhadores, os pensadores, os inovadores e os criadores sustentavam o mundo em suas costas, assim como Atlas carregava o peso dos céus após o castigo eterno aplicado por Zeus, Deus do Olimpo da mitologia grega. Exceto nos EUA, nas demais nações se tornou social e legalmente “justificado” o Estado “praticar tudo em prol de todos”, com a mitigação total da propriedade privada e dos interesses e direitos individuais.

Com a intervenção estatal cada vez mais agressiva, os interesses individuais sendo estrangulados, a burocracia e a corrupção reinando e a economia sangrando lentamente, tornou-se cada vez mais nítido um fato: os trabalhadores, os inovadores, os líderes empresariais e industriais, as grandes mentes das artes e das ciências começam a desaparecer, abandonando suas criações, negócios e nações. Resultado final? O colapso da liberdade provocou a extinção do indivíduo, da economia e, por fim, da sociedade.

A realidade pode ser mais intrigante que a melhor das ficções. Em um mundo pós-pandemia, as nações e as sociedades que trilharem esse caminho poderão colher os mesmos frutos expostos em A Revolta de Atlas, de modo semelhante aos efeitos do Covid-19: a asfixia do indivíduo/Atlas e, consequentemente, do mundo, de dentro para fora.

[1] Após uma fábrica promover a demissão de 1300 funcionários em 01/04/2020, o presidente da Argentina, Alberto Fernández, proibiu, via decreto, as demissões “sem justa causa ou por conta de diminuição de trabalho e força maior”, durante os próximos 60 (sessenta) dias. Diante desse fato, “o que se vê”, diria Frédéric Bastiat, talvez seja um ato de bondade do presidente argentino para manutenção dos empregos. “O que não se vê”, por outro lado, é a seguinte lógica: o decreto presidencial revela que um burocrata (Presidente), que nada produz e que não assume os riscos por seus atos, pode utilizar o poder estatal para coagir quem produz e assume riscos (empresários, industriais, lojistas e semelhantes) para gerenciar seus negócios não com base em seus próprios interesses e na lei de mercado da oferta e da demanda, mas com base no “bem da coletividade”, para manter todos devidamente empregados, mesmo que isso não seja economicamente possível. Nada mais conveniente, não? Ao proibir as demissões, o Estado argentino estaria, consequentemente, proibindo o desemprego, solucionando um dos grandes dilemas sociais e econômicos da humanidade, via decreto.

*Rodrigo Freitas é associado I do Instituto Líderes do Amanhã

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