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Das oito datas em que o Ibovespa caiu mais de 10% desde 1995, três foram em 2020
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Por Marcel Balassiano, publicado pelo Instituto Liberal

Na quinta-feira, 12 de março, o Ibovespa recuou 14,8%, segunda vez na mesma semana, já que na segunda-feira anterior, 09 de março, a bolsa caiu 12,2% em relação ao dia anterior. Na segunda-feira seguinte, 16 de março, o Ibovespa recuou 13,9%. Ao se observarem os dados desde 1995, foram oito datas em que a bolsa caiu mais de 10% no fechamento do dia, sendo três vezes em 2020. Os outros episódios foram em 1997 (duas vezes – crise asiática), 1998 (crise na Rússia) e 2008 (duas vezes também – crise financeira internacional).

No dia 27 de outubro de 1997, o Ibovespa recuou 15,0%, sendo o pior dia do mercado paulista de ações desde 21 de março de 1990, quando foi anunciado o Plano Collor. Em outubro de 1997, essa forte queda da bolsa brasileira foi relacionada à crise asiática, iniciada em julho, com o ataque especulativo contra a moeda da Tailândia. Nesse dia, o risco (medido pelo Embi) aumentou 45,7%. Nessa época, durante o primeiro mandato do FHC, o Brasil tinha uma banda cambial, em que a autoridade monetária se comprometia a assegurar um intervalo (cotações mínima e máxima) para o câmbio. Logo, as variações no câmbio nesses dias em que a bolsa e o risco oscilaram bastante foram quase nenhuma. Poucos dias depois, ainda como consequência da crise asiática, no dia 12 de novembro de 1997, o Ibovespa recuou 10,2%, com o risco (medido pelo Embi) aumentando 13,5%.

Em 1998, houve crise na Rússia, com uma forte desvalorização de sua moeda (rublo). No dia 10 de setembro de 1998, o Ibovespa caiu 15,8%, com o risco-país (medido pelo Embi) tendo aumentado 19,6%.

Antes dessas quedas da bolsa em março de 2020, as duas últimas vezes em que o Ibovespa recuou mais de 10% foram em 2008, na crise financeira internacional. No dia 15 de outubro de 2008, a bolsa recuou 11,4%; a taxa nominal de câmbio brasileira se desvalorizou 6,2% em relação ao dólar; e o risco, medido pelo CDS de 5 anos, aumentou 15,9%. No dia 22 de outubro de 2008, a bolsa caiu 10,2%; o real se desvalorizou em 6,3%; e o CDS de 5 anos aumentou 49,9%.

O Gráfico 1 mostra as variações do Ibovespa, do câmbio e do risco-país (medido pelo Embi em 1997 e 1998 e CDS de 5 anos em 2008 e 2020) nas oito datas em que o Ibovespa recuou mais de 10% no fechamento do dia.

O Gráfico 2 mostra as variações da bolsa, do câmbio e do risco um mês após a queda de mais de 10% da bolsa. Então, no dia 27/11/97, a queda acumulada do Ibovespa estava em 16,7% e o risco, 44,4% maior. Como o Brasil tinha a banda cambial, as variações no câmbio foram modestas. Em 12 de dezembro de 1997, a bolsa estava no positivo em 5,0%, no acumulado de um mês antes, e o risco, 6,2% menor do que em 11/10/97. Em 1998, a bolsa tinha subido 15,4% um mês após a queda de 15,8% do dia 10/09/98, e o risco, 7,4% menor. Em 2008, um mês após a queda de 11,4% no dia 15/10/08, a perda acumulada da bolsa era de 13,9%; o câmbio tinha se desvalorizado 6,9%; e o risco-país, aumentado 29,6%. Poucos dias depois, entre 21/10/08 e 22/11/08, o Ibovespa caiu 20,0%; o câmbio se desvalorizou 10,0% e o risco-país aumentou 15,2%.

A Tabela 1 mostra o nível do Ibovespa, do câmbio e do risco país no dia anterior à queda de mais de 10% da bolsa e como essas três variáveis se comportaram um mês depois. Em 27 de novembro de 1997, a bolsa estava num nível menor e o risco tinha aumentado, em comparação com um mês antes. Já em 12 de dezembro de 1997, a bolsa cresceu um pouco em relação a um mês antes, e o risco, praticamente o mesmo. No dia 10 de outubro de 2008, a bolsa estava num nível maior do que um mês antes, e o risco, um pouco menor. Já em 2008, nas duas datas analisadas (15/11 e 22/11), o Ibovespa caiu e o risco aumentou na comparação com o mês anterior.

Um fato a ser notado é que, em setembro de 2001, após os ataques às Torres Gêmeas em NY, o Ibovespa não caiu mais de 10% no fechamento do dia. No dia 11/09/01, a bolsa brasileira recuou 9,2%. Outra data importante, mais recente, conhecida como “Joesley Day”, o recuo do Ibovespa no dia 18/05/17 foi de 8,8%. Ou seja, esses recuos recentes foram mais fortes do que as quedas nesses dois outros acontecimentos.

No acumulado da semana terminada em 13 de março de 2020, o Ibovespa recuou 15,6% e o risco país, medido pelo CDS de 5 anos, aumentou 84,9%. Ao se fazer uma comparação das variações da bolsa e do risco na semana inteira, desde 1995, em somente outras cinco semanas a bolsa apresentou um recuo, no acumulado da semana, maior do que 15,6%. Em fevereiro de 1995, com a crise do México, a bolsa caiu 16,2%. Em outubro de 1997, no meio da crise asiática, a bolsa recuou 22,2%. No final de dezembro de 1998, com a crise russa, a queda foi de 16,1%. Na semana do 11 de setembro de 2001, o Ibovespa diminuiu 18,1%. E, na crise de 2008, em outubro, houve um recuo de 20,0% da bolsa brasileira.

Ao se observar a variação semanal do risco-país, medido pelo CDS de 5 anos, com a série tendo início em outubro de 2001, essa foi a segunda maior variação semanal, com aumento de 89,6%. Em outubro de 2008, tinha ocorrido um aumento de 98,0% do risco. Porém, é importante frisar que o nível médio do risco hoje está menor do que no passado. A média em 2001/02 foi de mais de 1500 pontos (1765, para ser mais exato) e, em 2008, o CDS chegou a passar dos 500 pontos, próximo da metade do risco observado no dia 13 de março de 2020 (264 pontos). A média 2019/20 do CDS de 5 anos é menor ainda, de 142 pontos.

A grande questão a saber é como os efeitos do coranavírus vão afetar essas e outras variáveis nas próximas semanas e meses. Tomara que tudo se resolva, na medida do possível, o mais rapidamente, e os impactos, tanto na vida das pessoas quanto na economia, sejam os menores.

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