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Guru do bolsonarismo não tolera pensamento independente
| Foto: Reprodução

"Olavo tem sempre razão". O bordão poderia ser uma simples brincadeira, uma frase dita por admiradores que acreditam que seu mestre acerta bem mais do que erra. Mas não é o caso. Na boca de olavistas, ela ganha sentido literal. Ou seja, a turma acha mesmo que seu guru é infalível. E ele explora bem isso para manter uma espécie de seita fanática em torno de si.

A coisa mais intolerável para seitas é o pensamento independente, a ousadia de questionar, criticar ou discordar do mestre. No Bar Mitzvah, o jovem judeu, aos 13 anos, é estimulado justamente a questionar seus mestres, a desafia-los com argumentos, sinal de maturidade. A cultura judaica fomenta o pensamento independente. O oposto do que faz uma seita como o olavismo.

Repare que todos os mais destacados "alunos" de Olavo de Carvalho eventualmente se afastaram dele, e passaram a ser detonados por ele e sua legião de seguidores cegos. Seriam todos uns traidores? Seriam todos uns idiotas? Ou será que Olavo não permite luz própria, demanda uma subserviência que gente independente não tolera por muito tempo?

Nesta quarta o guru do bolsonarismo cruzou uma linha. Seu alvo direto foi ninguém menos do que Felipe Moura Brasil, aquele que organizou seu livro que virou bestseller. O aluno mais destacado, sem dúvida. O que alçou voo mais alto. Eis o que disse Olavo:

É muita vileza, baixeza. E não digo isso porque o Felipe é diretor de Jornalismo da Jovem Pan, pois diria de qualquer maneira. Eis a diferença: alguns defendem indivíduos por sua postura, seu caráter, sua essência; outros, porque é do seu "time" e diz amém a tudo que você diz, porque é "um dos nossos", como numa tribo.

E tem mais: o guru de Virgínia confessa que só quer bajuladores em torno de si. Ele diz que Felipe era um puxa-saco seu antes. Então por que o tratava com tanto respeito e deferência, com orgulho por seu destaque? Por que permitiu que ele organizasse o livro que o deixou rico e o tirou do relativo ostracismo em que se encontrava na época? Olavo mostra canalhice e ingratidão com esse ataque.

A conclusão óbvia e ululante é a de que todos os que ainda circulam em torno do guru são apenas puxa-sacos. Qualquer um que mereça o "reconhecimento" do ex-astrólogo hoje poderá, amanhã, ser acusado de mero puxa-saco. Ou é um cachorrinho fiel ao mestre, ou então um traidor!

O que impede de Robespirralho, Allan dos Panos ou Churrasqueiro do Inferno serem chamados de puxa-sacos amanhã? Resposta evidente: só não vai acontecer se eles continuarem repetindo que "Olavo tem sempre razão" o tempo todo, sem ousar pensar por conta própria, com independência, e sem jamais criticar o mestre em público. Esses três sim, são visivelmente puxa-sacos de Olavo. E são considerados "brilhantes", porque permanecem fiéis à seita, não ao próprio cérebro.

Vamos buscar na psicologia uma possível explicação. São pessoas carentes, inseguras, nerds que dependem do guru, de sua aprovação, e morrem de medo de serem os próximos alvos, os traidores de amanhã. Precisam bajular ainda mais, mostrar devoção, para ter o afago constante do embusteiro. É humilhante.

Por falar em psicologia, Olavo é estudioso do método Gurdjieff de seduzir mentes fracas. Eis o que ele escreveu sobre o assunto em O Jardim das Aflições:

Com base nessa descoberta, Sargant fez mais uma, decisiva para o progresso dos meios de dominação psíquica: um paciente submetido a ab-reações repetidas desenvolvia uma dependência mórbida do terapeuta. Quanto mais ab-reações, mais forte o vínculo. Isto explicava muita coisa. Boa parte do fascínio escravizador exercido sobre seus discípulos pelo taumaturgo armênio Georges Ivanovich Gurdjieff, por exemplo, se devia tão-somente à "mágica" das ab-reações repetidas. De fato, Gurdjieff ora esmagava os coitados sob pilhas de exigências constrangedoras, ora os induzia a descargas aliviantes que lhe davam a impressão de plenitude e liberdade, só para depois serem repentinamente jogados de novo em provocações humilhantes. Repetida a operação algumas vezes, os discípulos se persuadiam de que Gurdjieff era mesmo um extraterrestre.

Gurdjieff manejava igualmente bem a estimulação contraditória. Raramente dizia alguma coisa com sentido identificável, mas deixava sempre no ar pelo menos meia dúzia de intenções possíveis, fazendo com que os discípulos se extenuassem em vãs ginásticas hermenêuticas. Prometia aos alunos uma exposição teórica que finalmente poria tudo em pratos limpos, e lhes dava um sistema cosmológico completo, que nas semanas seguintes era inteiramente substituído por outro, e por outro, até que a confusão mental crescesse à escala cósmica.

E essa não é exatamente a tática que o guru utiliza? Ele não vive dando uma no cravo, outra na ferradura? Por isso está "sempre certo", pela ótica de seus discípulos escravizados. São incapazes de perceber o truque, ou de aceitar que foram enganados, pura massa de manobra.

Felipe Moura Brasil está livre da seita. Vai seguir sua ascensão profissional, pois é um pensador sério e independente, com boa bagagem cultural e conservadora. Já os demais... um vai ter que continuar puxando muito saco para continuar com seu carguinho no governo, o outro terá de passar muito pano nos deslizes do governo para manter seu site de "jornalismo" e, por fim, o último terá de jogar para a plateia limitada e fanática o tempo todo, como faz, pregar para convertidos dentro de uma bolha, pois lhe falta coragem para pensar por conta própria.

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