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A racionalização como fonte da esquerda caviar
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O texto sarcástico de Gregório Duvivier na Folha hoje, que já comentei aqui, remete diretamente a um dos 20 itens que abordei como potenciais fontes do fenômeno da esquerda caviar em meu livro sobre o assunto. Trata-se da racionalização, quando o sujeito vive em uma bolha disfuncional e projeta nos outros as bizarrices que enxerga em sua volta, como se fossem parte do cotidiano de todos. É o desejo de se sentir mais normal.

Segue abaixo a parte do livro que fala sobre esse item nas origens do fenômeno:

Racionalização

O ato de racionalizar nossas emoções, ou seja, encontrar uma forma de explicá-las como se fossem o resultado de muita reflexão, é comum à natureza humana, e todos caem nessa tentação de uma forma ou de outra. Mas poucos abusam tanto desse mecanismo de defesa como os artistas.

Basta uma rápida pesquisa sobre o estilo de vida das celebridades em Hollywood para ter ideia do quanto diverge da média. Normalmente, atores e atrizes, assim como diretores e produtores, costumam vir de famílias pouco estruturadas, ou acabam criando suas próprias famílias desestruturadas. O comportamento bizarro é visto apenas como “rebeldia artística”.

Uma das explicações foi dada pelos autores de Hollywood, Interrupted, Andrew Breitbart e Mark Ebner. Celebridades não se tornam celebridades do nada. Geralmente, são pessoas bastante egocêntricas, em torno das quais tudo deve girar. Já a paternidade e a maternidade exigem muito sacrifício e abnegação em prol dos rebentos. A dedicação em nome da família entra em confronto com esse narcisismo exacerbado de muitos famosos, essa busca incessante de atenção e aprovação.

Não é de espantar, portanto, a quantidade enorme de frutos podres que saem da árvore disfuncional familiar dessas celebridades. Alguns até transformam em reality show (ou seria freak show?) suas excentricidades, como fez a família de Ozzy Osbourne. Qualquer um sabe que o conceito de normalidade costuma passar longe do CEP de Beverly Hills e adjacências.

As próprias celebridades, em alguns (raros) casos de bom senso, procuram se mandar para outras localidades a fim de educar seus filhos em ambientes mais normais. Hollywood acaba sendo como o Hotel Califórnia do grupo Eagles: você pode fazer o check out a qualquer momento, mas jamais pode ir embora…

Mesmo que você não queira tanto isso, é o que boa parte do público espera: uma vida sem limites, onde tudo é possível, onde as fantasias mais malucas são concretizadas. O filme Rock Star mostrou bem esse lado. Mark Wahlberg faz o papel de um fã de uma banda de metal da qual acaba se tornando o vocalista. Descobre então que deve se adaptar ao estilo de vida idealizado pela garotada que adora o grupo. Deve viver os sonhos desses jovens, viver a vida loca na prática.

Mas ele não quer mais isso. Acaba perdendo a namorada, personagem de Jennifer Aniston, pois ela não aguenta mais aquelas loucuras todas. Finalmente ele resolve largar seu sonho de juventude, por descobrir que, na vida real, não passava de um pesadelo. Escolhe o amor, a vida mais recatada. Quantos, em Hollywood, realmente conseguem largar o vício da fama, do poder e da fantasia ilimitada?

As famílias de Hollywood costumam ser bem complicadas. Marlon Brando com seus nove filhos, de quatro mulheres diferentes, muitos viciados, que se odeiam e se agridem entre si; River Phoenix e sua mãe “riponga”, que achava o máximo dar drogas para o filho ou estimular sua sexualidade precoce, tratando-o como um amigo; os exemplos são infindáveis, mas o leitor já pegou o jeito da coisa.

Imagine ser criado em um ambiente desses, com pais famosos e drogados, com comportamentos bizarros o tempo todo, e você sendo paparicado por todos, com as maiores loucuras sendo parte do cotidiano. Ou surta, ou você tenta racionalizar suas emoções em relação a toda essa maluquice.

E por que isso fermenta a esquerda caviar? Justamente porque esses artistas passam a vender como normalidade as coisas mais anormais do mundo. É uma forma de conviver melhor com seu próprio entorno, uma maneira de se considerar mais normal, parte do resto do mundo. Drogas, promiscuidade, abortos frequentes, formações familiares sui generis, cientologia, tudo isso precisa ser encarado como a coisa mais natural do mundo.

Os autores de Hollywood, Interrupted definem assim o politicamente correto das celebridades: uma aflição de Hollywood, em que as almas perturbadas, embora se apresentem como artistas, usam a mídia de entretenimento como um meio para promover uma agenda moral e política disfuncional.

As celebridades pensam que o restante de nós somos caretas e sofremos lavagem cerebral (pense em Matrix), e que somente elas possuem a mente aberta para sentir todo o escopo possível de experiências humanas (pense em Hair). Nós, reles mortais, só poderemos avançar se abrirmos nossas mentes e aceitarmos suas heterodoxias como convencionais, e nos juntarmos ao circo.

Quem acha que a Samantha Jones de Sex and the City não é um exemplo de comportamento decente, e que dificilmente uma mulher solteira que faz sexo com qualquer um (ou uma) aos 40 anos será genuinamente feliz, ainda não entendeu o mundo moderno tal como Hollywood o concebeu. É um reacionário preconceituoso!

As celebridades se veem como seres ungidos, mas, como todos os mortais, estão em busca de sentido para a vida. De preferência, a partir de algum modismo embalado por um guru oriental e bem exótico que as exima de pensar por conta própria ou de assumir a responsabilidade por seus atos.

A insegurança do estrelato, o receio de ser esquecido ou já ter vivido o auge da carreira, a concorrência acirrada para se manter sob os holofotes, o tédio da opulência, tudo isso acaba alimentando vários tipos de fuga naqueles emocionalmente carentes, que abundam em Hollywood. É assim que todo tipo de charlatão prospera na Califórnia.

Podemos pensar em Deepak Chopra, que chegou a vender um combo que misturava saúde, riqueza e espiritualidade, conquistando pesos-pesados como Demi Moore, Cindy Crawford, Michael Jackson, Steven Seagal e Madonna. Quem pode levar a sério um sujeito que tem um livro chamado As 7 leis espirituais dos super-heróis e outro intitulado Super Cérebro: como expandir o poder transformador da sua mente?

Podemos pensar ainda nos malucos da cientologia, liderados pela fama do afetado Tom Cruise. Ei, não seja careta a ponto de pensar que comer a placenta do próprio filho é algo asqueroso!

Enquanto as celebridades são tratadas com várias regalias e tapete vermelho por esses gurus ou seitas, os cidadãos comuns acabam entrando como os trouxas desses movimentos estranhos e quase sempre embusteiros. 

A esquerda caviar hollywoodiana (nos Estados Unidos) ou global (no Brasil) abraça essas bandeiras “progressistas”, ataca o núcleo familiar tradicional, distorce os valores caros à classe média e transforma em normal toda bizarrice em boa parte para suportar melhor suas próprias vidas esquisitas e desestruturadas. Os outros é que são caretas e chatos. Racionalização pura. 

Rodrigo Constantino

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