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Da marolinha à minicrise, o Brasil vai perdendo a onda
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“É uma minicrise que nós estamos vivendo, que trará um impacto muito menor do que foi a crise europeia de 2008 e 2012, que também conturbou os mercados. Por que será menor? Porque a economia mundial está em recuperação, e naquela ocasião o mundo estava entrando em recessão. Agora está saindo, e isso faz diferença”, disse o ministro Guido Mantega.

Acrescentou: “Em segundo lugar, a economia brasileira está mais sólida sob certos aspectos. Por exemplo, hoje temos mais reservas internacionais do que tínhamos na ocasião, e menor dívida pública. E nosso indicadores externos de investimentos continuam muito positivos”.

A fala do ministro nos remete ao que disse o então presidente Lula na crise de 2008. Para ele, seria apenas uma “marolinha” que nem afetaria nossa economia. Os fatos foram diferentes. A produção industrial chegou a cair 10%, grandes empresas perderam mais da metade do valor de mercado, e o PIB chegou a ter queda em 2009. Marolinha? Mais pareceu um maremoto.

Mas é verdade que a recuperação foi rápida. Justamente porque a reação à crise dos países desenvolvidos foi inundar os mercados com liquidez, injetando trilhões de dólares, euros e ienes nas economias. Essa montanha de recursos procurou alternativas em países emergentes, como o Brasil. Nascia a era da euforia.

O ministro, portanto, está certo em um pouco: naquela época, as economias desenvolvidas estavam em recessão. Mas isso não era ruim para o Brasil. Pelo contrário: foi essa recessão que fez com que as taxas de juros desses países ficassem em patamares muito reduzidos, o que acabou ajudando a entrada de recursos estrangeiros no Brasil, o que foi chamado pelo próprio governo de “tsunami monetário”.

Agora, se a economia americana realmente se recuperar, isso terá o efeito inverso, que já começou: os dólares vão sair do Brasil e retornar aos Estados Unidos. A manutenção da economia americana na UTI acabava tendo efeito positivo no fluxo de capital para o Brasil. Se isso cessar mesmo, o dólar continuará batendo nas moedas emergentes, e os países mais frágeis, como o Brasil, sofrerão mais.

Já sobre as reservas cambiais, é verdade que o Brasil acumulou vasta quantia, mas isso não será suficiente para impedir a desvalorização da moeda. Quando o fluxo se inverte dessa maneira, o Banco Central não é capaz de segurar o câmbio indefinidamente. Dezenas de bilhões já foram usados em leilões de swap, e o dólar continua subindo, após leve pausa para respiro.

Mantega tenta passar uma sensação de tranquilidade que simplesmente não combina com os fundamentos de nossa economia, realmente fragilizados. A dívida pública bruta aumentou muito, os gastos públicos também, a inflação continua bastante pressionada, e a desvalorização do real joga mais lenha na fogueira.

Da “marolinha” de 2008 à “minicrise” de agora, o Brasil vai perdendo o bonde da história, continua como o “país do futuro”, incapaz de surfar uma onda favorável de fora – e impotente diante da ressaca de agora. Teve apenas voos de galinha: barulhentos, estabanados, de baixa altitude. Mas não se preparou para voos de águia, sustentáveis e elevados.

Resta torcer que a ressaca não seja das maiores. Pois, na atual situação, basta uma pequena onda contrária para dar um grande “caixote” em nossa economia. O ministro Mantega avisa que a dona de casa pode ficar tranqüila, que ele não deixará a desvalorização chegar aos preços finais. Promessa que não tem como cumprir.

É melhor a dona de casa ficar atenta e se preparar. Não é um bom guarda-vida aquele que autoriza o banho no mar e dispensa a bandeira vermelha quando há claros riscos de afogamento em águas revoltas.

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