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Fascistas do bem
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Muito bom o texto de Marcelo Coelho na Ilustrada da Folha hoje, sobre a humilhação imposta a Marco Feliciano durante um voo. Vai ao encontro do que escrevi aqui, alertando sobre essa postura cada vez mais intolerante desses que monopolizaram a luta pela “tolerância”. O sentimento tribal esta por trás disso. É a ditadura da maioria, ou pior, a ditadura das minorias organizadas que falam em nome da maioria. Segue um trecho:

Atrasado não é sinônimo de fascista, ignorante também não. Preconceituoso, conservador, racista, homofóbico —é possível ser tudo isso sem ser fascista.

Na minha definição, pelo menos, para ser fascista é preciso algo além disso. Cito alguns ingredientes.

Em primeiro lugar, a nostalgia da horda primitiva. O fascista está feliz em grupo; só age quando sente que a maioria está a seu favor. Ou melhor, age quando se sente protegido pela aprovação da maioria.

Fosse apenas isso, qualquer multidão seria fascista, o que não é verdade. Nem mesmo o uso da violência pode ser identificado ao fascismo. Revoltas podem ser violentas sem ser fascistas, o que não significa que eu aprove a violência.

Imagine-se, por exemplo, duas torcidas de futebol enlouquecidas. Entram em confronto. Dos dois lados, há selvageria, fanatismo, estupidez. O fascismo, a meu ver, aparece em outra ocasião.

Suponha a torcida de um time que acabou de ganhar o campeonato. Encontra, no meio da festa, uns quatro ou cinco adeptos do time derrotado. Não contente com a vitória, a torcida vencedora resolve hostilizar os perdedores. Hostiliza, xinga, cai de pancada em cima dos coitados —para lhes “dar uma lição”.

Isso, para mim, é puro fascismo, e não depende de nenhuma orientação ideológica. Trata-se de oprimir, em grupo, o derrotado, o minoritário, o sem defesa.

Os dois marmanjos do avião escarneceram de Feliciano porque se julgavam, com razão, em maioria naquele ambiente mais ou menos civilizado, onde haverá poucos homofóbicos militantes.

Há 30 ou 40 anos, é possível que fizessem o mesmo se algum transexual estivesse a bordo. Qual o propósito de hostilizar Feliciano? Puni-lo por ser quem ele é? Em nome de que minorias você se levanta da cadeira do avião e puxa um coro para avacalhar quem quer que seja?

Boa pergunta. Mas vivemos na era do salvo-conduto para quem fala em nome das minorias. Avacalhar um gay é homofobia e dá até prisão; mas humilhar um pastor em voo comercial pode, pois, afinal, ele é um “fascista”. Quem é mesmo o fascista nessa história?

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