• Carregando...
Malthus ainda vive como ameaça aos que nem nasceram
| Foto:

Em entrevista na Folha hoje, o escritor Alan Weisman, autor de “O mundo sem nós” (nome sugestivo de forte misantropia), mostra como o pensamento de Malthus ainda sobrevive nos dias de hoje, com força suficiente para ameaçar aqueles que nem nasceram. No que depender de gente assim, o mundo será bem menos povoado no futuro.

Weisman lançou recentemente novo livro, com título típico da visão escatológica e catastrofista dos malthusianos, chamado “Countdown: Our Last, Best Hope for a Future on Earth?”. Seguem alguns trechos da entrevista:

Contudo, no epílogo do livro, tive de mencionar um fato perturbador: a cada quatro dias e meio, estamos trazendo mais 1 milhão de pessoas ao mundo, e isso não é algo sustentável. E é incrível como quase todo mundo entendeu isso muito bem e concordou comigo.

Mas embora todo mundo concorde com isso, as pessoas também são visceralmente contrárias a políticas draconianas como a política chinesa do filho único. Então minha proposta para o novo livro foi: será que há uma maneira de lidarmos com a explosão populacional de maneira que não seja tão dolorosa?

E cada vez ficou mais claro que essa é talvez a única coisa que realmente podemos fazer para diminuir nosso impacto ambiental. Com mais gente no mundo, nossas emissões de carbono vão continuar aumentando; vamos ter mais problemas com eventos climáticos extremos, como os que acabaram de devastar as Filipinas; os níveis dos mares estão aumentando e, mais do que isso, estão alterando a própria química dos oceanos, da qual toda a vida na Terra depende. São coisas perigosíssimas.

Mesmo que fontes abundantes de energia limpa, com emissões de carbono próximas do zero, sejam descobertas -o que é um bocado improvável-, simplesmente não há como aumentar a quantidade de terra disponível para produzir alimentos para toda essa gente -então, a coisa lógica a fazer é limitar o número de pessoas nas próximas duas ou três gerações.

Nem vou comentar o fato de ele ter jogado o tufão nas Filipinas nas costas das “mudanças climáticas”, o que é temerário do ponto de vista científico. Vou apenas perguntar o seguinte aqui: para evitar a morte de 4 mil pessoas, ele quer impedir o nascimento de milhões, quiçá bilhões? Algo não bate, mesmo do ponto de vista aritmético frio do escritor…

O que as pessoas têm de entender é que a Revolução Verde foi só uma solução temporária. Norman Borlaug, o pai da Revolução Verde, que ganhou o Prêmio Nobel da Paz por isso, usou seu discurso de aceitação do prêmio para chamar a atenção para o problema do crescimento demográfico.

Embora a Revolução Verde tenha evitado a fome, os tipos de plantio que ela preconiza não estão mais sendo suficientes em lugares como a Índia.

Uma das experiências mais terríveis que tive foi entrevistar as viúvas de fazendeiros indianos que se mataram bebendo pesticidas porque suas terras não têm mais água [as variedades agrícolas ligadas à Revolução Verde exigem irrigação], eles não conseguiam produzir e estavam endividados. Mais de 200 mil agricultores indianos se suicidaram.

Escrevi um texto com base no ótimo livro de Matt Ridley, The Rational Optmist, mostrando como esses malthusianos subestimam nossa capacidade de inovação tecnológica. Weisman reconhece o avanço da revolução verde, mas logo em seguida menospreza a capacidade do ser humano de fazer mais coisas desse tipo.

Estamos sempre inovando, ganhando produtividade, especialmente onde há mais liberdade econômica; mas para Weisman, tudo foi conquista temporária. O que vimos no passado não mais se repetirá. Acabou o que era doce. Agora sim, finalmente, Malthus se provará correto! Isso parece seita religiosa à espera do juízo final, ou marxistas, com mais fé ainda, contando com o dia do fim do capitalismo…

A boa notícia é que há um tremendo impulso mundo afora em favor de famílias menores. O planeta está urbanizado, não precisamos mais de tantos braços para a lavoura.

Outra notícia boa é que não precisamos de nenhuma descoberta dramática -estamos falando de uma tecnologia da qual já dispomos, e que é muito barata.

Precisaríamos de apenas US$ 8 bilhões por ano para disponibilizar anticoncepcionais para todas as pessoas do planeta -isso é o que os EUA gastavam por mês no Iraque e no Afeganistão anos atrás.

Não sou contra o controle de natalidade voluntário, ou seja, cada um escolhendo a quantidade de filhos que quer ter. O governo pode até ter papel de conscientização nisso, ou ainda melhor, cortando as fartas esmolas estatais e o “welfare state”. Como as pessoas reagem a incentivos, quanto mais os outros bancarem o seu filho, menor será a responsabilidade ao se colocar um filho no mundo.

Portanto, creio que os malthusianos erram feio o foco. Em vez de fazer alarmismo com o tamanho da população e com o clima, deveriam combater o estado de bem-estar social e o excesso de intervencionismo estatal. Com o livre mercado funcionando direito, e com a responsabilidade individual, o crescimento populacional deixa de ser um grande problema para o mundo.

Agora, se esse alarmismo todo não passar de misantropia (mostro no Esquerda Caviar passagens estarrecedoras que não deixam dúvida de que esse é um fator importante) ou de disfarce para a defesa de mais e mais intervenção estatal, aí não adianta apresentar contra-argumentos. É assunto de seita religiosa mesmo…

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]