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São Conrado sitiado: e o direito de ir e vir?
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Quando as manifestações começaram, em junho, fui um dos que ficaram céticos em meio a tanta euforia. Um dos motivos era a expectativa de que, com o tempo, os cidadãos de bem cansassem da “profissão” de manifestante e retornassem às suas vidas e trabalhos, deixando o vácuo a ser ocupado apenas por grupos organizados.

Parece que foi esse o caso. Agora, temos grupelhos de não mais que duzentas pessoas parando a cidade, invadindo órgãos públicos, tentando governar no grito, e quebrando nosso patrimônio. O apoio popular tende a ser inversamente proporcional aos ataques e depredações desses grupos. Muitos já viram que isso não pode acabar bem.

Mas aqui desejo focar em um caso específico, por alguns motivos. Em primeiro lugar, tem o lado pessoal: fui morador de São Conrado por três anos, e tenho muitos amigos que ainda moram lá; além disso, trata-se de um bairro de passagem, inclusive para nós, moradores da Barra; por fim, acho que é um exemplo claro dos riscos que essas manifestações representam para muitos inocentes.

Não eram poucos que temiam a presença ameaçadora da Rocinha em um bairro de renda alta como São Conrado: “Imagina se essa gente toda resolve descer…” Mas a Rocinha é formada por muita gente trabalhadora, honesta, e o tráfico, o verdadeiro perigo, pode ser combatido com UPP e presença policial ostensiva – que as esquerdas sempre condenaram.

O problema, portanto, não era a “invasão” dos moradores da favela, em uma espécie de “revolução comunista” que faria muitos intelectuais de esquerda terem orgasmos – desde que morando longe dali, que não é o caso de Gilberto Gil, por exemplo. O problema era outro: o clima das manifestações tomar conta da comunidade.

Quando essas manifestações de pequenos grupos se espalham pelo país, sentindo-se no direito de parar o trânsito para protestar (cada um por alguma coisa – e todos têm motivos para protestos), o quadro se agrava no caso da Rocinha. E o motivo é simples: fechar o túnel Zuzu Angel implica em deixar sitiada toda a população do bairro. Essa é a principal, quando não a única via disponível para escoamento.

Imagine uma mulher grávida, com parto marcado na Perinatal de Laranjeiras ou na São José do Humaitá: como fica? Imagine um idoso tendo um infarte e precisando ir com urgência ao hospital Samaritano: morre e fica por isso mesmo?

É o direito básico de ir e vir de muita gente inocente que está sendo ignorado por esses manifestantes. Entende-se a revolta com muitas coisas, com o sumiço do ajudante de pedreiro Amarildo, com o transporte público de péssima qualidade, com os hospitais públicos indecentes etc. Mas não é se vingando em cima de inocentes que se vai resolver tais problemas.

Alguns sociólogos têm dito que os direitos conflitantes precisam ser resolvidos com base no diálogo. Dialogar, apresentar argumentos, é o que estou fazendo aqui. Mas discordo de um ponto: não são “direitos conflitantes” em jogo, pois não há o direito de tomar as vias públicas dessa forma e torna-las privadas, para seus protestos, impedindo o acesso de terceiros.

Isso é obstrução do direito de ir e vir da população, e a polícia tem que agir, para preserva-lo. São vidas inocentes em jogo. Somente exércitos inimigos costumam sitiar uma cidade ou um bairro; não sua própria população.

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