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Uma aula de guerra política para os liberais
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Por João Cesar de Melo

Vejo a revolta de grande parte dos liberais diante da notoriedade que a imprensa dá a certos youtubers, artistas e profissionais sem qualificações relevantes. Uma revolta que expõe a ignorância sobre guerra política.

Os socialistas conseguiram avançar tanto porque aprenderam a abrir mão de certas coisas – por algum tempo − para conquistar muitas outras mais à frente. Aprenderam a se aliar a uns inimigos para destruir outros, a utilizar vozes externas para enfraquecer a oposição, a tolerar desvios de seus representantes políticos porque, de um jeito ou de outro, eram eles que levavam suas pautas adiante.

Lula nunca refletiu perfeitamente a teoria socialista, mas os socialistas o apoiaram por décadas porque percebiam que ele era o melhor vetor da agenda que defendiam. Permitiram que Lula se aliasse ao “grande capital financeiro” e à partidos da direita porque, por mais indigesto que fosse para eles, essa era a forma que encontraram para realizar seus projetos de médio e longo prazo.

A compreensão do que é guerra política faz com que os socialistas não cobrem de seus líderes o puro exercício das ideias, mas resultados práticos que lhes ajudem a construir o sistema que defendem.

Felipe Neto também não representa integralmente a agenda socialista, porém, os socialistas perceberam que podem utilizá-lo contra seus inimigos. O youtuber não precisa discorrer brilhantemente sobre nada. Basta que ele, com suas dezenas de milhões de seguidores na internet, se manifeste contra Jair Bolsonaro.

A esquerda aprendeu a “empoderar” quaisquer idiotas que se expressem contra a direita. Não importa as besteiras que digam. Importa apenas que elas são levadas a sério pelas massas. Atila Lamarino, outro “cientista” do youtube, só precisou ter um posicionamento contrário ao de Jair Bolsonaro para ser elevado ao status de gênio da virologia.

A pandemia chinesa expôs ainda mais o nível de comprometimento da esquerda com seus objetivos. Em questão de dias, movimentos, partidos e imprensa entenderam que estavam diante de uma grande oportunidade derrubar Jair Bolsonaro. Deixaram diferenças de lado e se uniram num único esforço de guerra. Ignoraram todos os absurdos decorrentes da decretação da quarentena, transformando prefeitos e governadores em autoridades indiscutíveis, afim de manipular a opinião pública contra o presidente da república. Petistas passaram a apoiar João Dória. Psolistas passaram a apoiar Wilson Witzel. O Antagonista alinhou seu editorial ao dos veículos que ele próprio vivia criticando. A maior parte da imprensa está apoiando os ataques à liberdade de expressão promovidos pelo STF porque isso coincide com o seu objetivo de destruir a direita. O nome disso é guerra política.

Em paralelo a isso, temos um grande número de liberais que há um ano e meio não fazem outra coisa a não ser militar contra Jair Bolsonaro. São os liberais purinhos – a turma da “prudência e sofisticação”, como naquele vídeo satírico – que não conseguem enxergar que Jair Bolsonaro, com todos os seus cacoetes e desvios, é de longe o presidente mais liberal que já tivemos. Parece que não se lembram mais dos governos anteriores. Enxergam apenas as pautas liberais pelas quais Bolsonaro não se engaja, ignorando outras que já foram aprovadas e muitas que estão na mesa. Estão submersos de tal forma no mundo ideológico que não conseguem enxergar que na política, principalmente num regime democrático como o nosso, as coisas funcionam de maneira extremamente complexa. Qualquer que fosse o presidente de estimação dos liberais, ele teria que negociar com deputados, senadores, governadores, prefeitos e ainda passar pelo crivo da suprema corte. Se esses liberais já leram sobre democracia e política, não entenderam nada.

Compreender o que é guerra política é tolerar certas coisas de Bolsonaro afim de conquistar outras. Não é preciso tolerar crimes, nem deixar de fazer as críticas necessárias, mas entender que o presidente só conseguirá aprovar alguns projetos liberais se tiver o apoio da maioria do Congresso e do STF. Não há outro jeito.

Rejeitar a guerra política é rejeitar uma realidade maior do que qualquer ideologia. O mundo é esse. Os liberais precisam entender que nenhum Deus liberal chegará ao poder. O processo de liberalização – e de desesquerdização – do país é longo e tortuoso. O nível de crítica de certos liberais não constrói nada, apenas ajuda a esquerda a desgastar o presidente e, em consequência disso, dificultar a aprovação de medidas liberais. Obviamente, Bolsonaro não é a encarnação do liberalismo, mas é quem temos lá em cima tentando aprovar algumas coisas que no máximo sonhávamos até muito pouco tempo atrás.

Sobre o autor: João César de Melo foi articulista do Instituto Liberal de 2015 a 2020 e está lançando o livro Comunidade Progresso, pela editora Armada, no qual imagina o que aconteceria a um condomínio se nele fosse implantado o socialismo.

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