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Bolsonaro precisa lembrar que governa para todos e desistir de ser ‘Lula de direita’ – Jovem Pan
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Comentário de hoje no Jornal da Manhã:

Diante da nova rodada verborrágica do presidente, com insultos para todo lado, muitos bolsonaristas disseram nas redes sociais que votaram nele para isso mesmo, para dizer o que pensa sem filtro, para atacar comunistas. Entende-se o cansaço de muita gente com os políticos engomadinhos e falsos, e a demanda por algo mais, digamos, genuíno, ainda que tosco. Entende-se também a indignação com o duplo padrão de boa parte da imprensa, muito afetada e crítica quando Bolsonaro diz algo absurdo, mas várias vezes pronta para passar pano nas estultices de esquerdistas. O bolsonarismo é, em parte, uma resposta a isso.

Mas é preciso entender que se essa gente votou em Bolsonaro para isso, tantos outros milhões, certamente em maior número, não. Votaram por inúmeros motivos, entre eles impedir a volta do PT ao poder, ou talvez as reformas liberais de Paulo Guedes, ou ainda as mudanças no combate à criminalidade. E eis o ponto-chave: Bolsonaro foi eleito por todos os perfis, e mais importante: governa para todos os brasileiros, inclusive aqueles que não votaram nele.

Quando a campanha termina é preciso descer do palanque. Somente populistas ficam eternamente como se estivessem num segundo turno, jogando para a plateia. Há uma dificuldade muito grande dessa ala bolsonarista em entender conceitos básicos de democracia e convívio civilizado em sociedade. Acham ridículo, por exemplo, falar-se em liturgia do cargo, como se isso fosse besteira. Não compreendem a importância institucional que o presidente tem. E até de um ponto de vista pragmático, ignoram que essas polêmicas desnecessárias todas desviam foco e energia daquilo que importa, e que vem sendo feito inclusive por setores do governo. A menos que a meta seja outra…

Seria Bolsonaro um falastrão que atrapalha seu próprio governo ou alguém com visão estratégica jogando xadrez? Para o cientista político Christian Lynch, professor da UERJ, o bolsonarismo se constrói como um PT ao contrário. “Não tem projeto de Governo, apenas de poder”, afirma. “O plano de Bolsonaro é manter domínio sobre 30% do eleitorado e se tornar o Lula de direita”.

Pro PT, continua, isso representa um beco sem saída. O partido está obrigado à radicalização caso queira manter a hegemonia da esquerda, competir no discurso e fazer contraponto ao bolsonarismo. Enquanto isso, Bolsonaro segue cultivando o eleitorado fiel com sua cota diária de paranoias e disparates, controlando as narrativas nas bolhas ideológicas. E Lynch acha que os liberais elitistas poderão ficar reféns do bolsonarismo novamente, se a esquerda radical se revigorar.

Estaria o Brasil condenado a escolher para sempre entre tipos como Lula ou Bolsonaro? Quero crer que não. E espero que, após esse momento de revolta legítima que tem alimentado o ressentimento de muitos, a maioria possa buscar soluções mais moderadas, democráticas e, acima de tudo, condizentes com uma política decente.

Rodrigo Constantino
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