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A menos que você já tenha tido contado com a doença, provavelmente não ouviu falar na sigla DPOC. Significando Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica, essa sopa de letrinhas ainda é uma ilustre desconhecida para a maioria dos brasileiros. Mas logo deixará de ser. Segundo dados da Organização Mundial da Saúde, a doença – que engloba algumas moléstias respiratórias, como bronquite crônica e enfisema pulmonar – será a terceira que mais matará no mundo até 2030.

A explicação para tal fato é simples: a DPOC é causada principalmente pelo tabagismo e poluição, fenômenos que crescem vertiginosamente no mundo. Hoje, ela faz mais de 250 vítimas por hora no planeta. No Brasil, são 33 mil mortes por ano.

O problema faz parte da pauta do Congresso Brasi­leiro de Pneu­­­­­mologia e Tisio­logia, em Cu­­­­­ritiba, que contou com uma das maiores autoridades mundiais no assunto: o médico e professor universitário holandês Klaus Rabe. À convite da empresa farmacêutica Nycomed, palestrou a profissionais brasileiros e da América Latina. Confira a entrevista exclusiva que ele deu à Gazeta do Povo:

Como uma pessoa pode saber que tem DPOC e não uma outra doença respiratória – como a asma – antes de realizar os exames?

A DPOC é mais comum do que a asma em todo o mundo, inclusive no Brasil. É uma doença crônica dos pulmões, geralmente relacionada ao cigarro, mas que pode ser desenvolvida pela exposição à fumaça e à poluição. Diferen­temente da asma, ela ocorre depois de muitos anos– normalmente a partir dos 45. Ela aparece gradualmente. A pessoa nota que suas habilidades físicas se reduzem aos poucos. Percebe que atividades como subir uma escada ou realizar trabalhos domésticos não são fáceis como antes. O esforço causa uma dificuldade grande de respiração, e tosse.

A DPOC é muito recorrente. Mas por que ela ainda é tão desconhecida pela população?

É uma doença comum, mas subestimada. Se uma pessoa fuma 20 cigarros por dia, sabe que está sujeita a riscos. Quando percebe que está com dificuldades para respirar, costuma se autodiagnosticar. Ela pensa: "estou me sentindo assim porque fumo ou porque estou envelhecendo" e só vai ao médico quando realmente tem um sintoma mais agudo. É só aí que descobre que essa doença tem um nome. Acredito que a maioria dos casos de DPOC nem sequer passam pelo diagnóstico de um médico.

Especialistas apontam que, até 2030, a DPOC deverá ser a terceira doença que mais mata no mundo, atrás das cardiovasculares e do câncer. Qual é a explicação para este dado?

Ela está relacionada principalmente ao cigarro. Embora leve muitos anos para ser desenvolvida (cerca de 20 anos, segundo estudos) e as pessoas conheçam o risco de fumar, não observamos diminuição no número de fumantes. Existem áreas em que as pessoas fumam mais e áreas em que as pessoas fumam menos. Onde se fuma mais é onde acontecem mais casos. Acredito que, no futuro, as áreas onde as mulheres passaram a fumar com mais intensidade, como o sudeste da Ásia e a América do Sul, sejam as mais afetadas. Além disso, existe a exposição à fumaça e à poluição. Estima-se que 3 bilhões de pessoas usem carvão ou biomassa para cozinhar, que são altamente poluentes. Pessoas cozinham em casas mal ventiladas. Esse é um número que irá contribuir para o aumento das vítimas.

Esta doença é crônica, mas tem tratamento. Qual é a melhor forma de realizá-lo?

Uma vez descoberta a doença, o próximo passo é a medicação. Tem um grupo de medicamentos broncodilatadores que agem nas vias respiratórias dos paciente de forma a aumentar sua capacidade respiratória. Existem outras drogas anti-inflamatórias, que devem ser ministradas também, que agem na inflamação. Então é um tratamento de duas vias. Você aumenta as funções dos pulmões e tenta impedir as exacerbações (período mais crítico da doença, em que a capacidade respiratória é diminuída intensamente podendo levar à morte).

Apesar de ser uma doença de longa duração e altamente incapacitante, os pacientes podem voltar a ter uma qualidade de vida se­­me­­lhante a dos nãoafetados, realizando atividades normais?

Com o tratamento os médicos tentam aumentar capacidade individual de várias formas, inclusive atuando sobre a autoestima. Temos observado que muitas vezes quando alguém descobre a doença, começa a agir de maneira mais confiante. Param de fumar, adotam uma vida mais saudável, se alimentam de forma mais adequada. Esse é o caminho ideal para o tratamento. Muita pessoas inicialmente chegam aos consultórios sem essa autoconfiança, e aí o médico precisa despertá-la. Quanto à qualidade de vida, essa é uma medida inexata. O meu conceito de qualidade é diferente do seu. Para cada paciente também pode variar. Mas posso dizer que, poder realizar pequenas tarefas do dia a dia, como subir uma escada ou ir às compras, representa qualidade de vida para muitos deles.

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