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 | CDC Organization/James Gathany
| Foto: CDC Organization/James Gathany

Dois estudos publicados em boletins da OMS sugerem que, antes da “era zika”, havia mais casos de microcefalia que o divulgado pelo Ministério da Saúde. Já era conhecido que antes da epidemia os casos de microcefalia eram subnotificados. O que esses estudos tentam mostrar é qual seria a base de comparação real entre os períodos pré e pós-zika no país.

Pelos dados do Sisnac (sistema de informações sobre nascidos vivos), a taxa de notificação de microcefalia no país até 2014 era de 0,5 caso para cada 10 mil nascimentos. Mas pesquisas de dois grupos do Nordeste mostram taxa muito maior, de pelo menos 20 casos para cada 10 mil.

Nos EUA, a prevalência da microcefalia varia entre 2 e 12 por 10 mil nascimentos. Considerando que lá nascem 4 milhões de crianças por ano, haveria então de 800 a 4.800 casos de microcefalia por ano. Se projetadas as mesmas estimativas para o Brasil, onde há 3 milhões de nascimentos/ano, seriam de 600 a 3.600 casos anuais. Pelas estatísticas oficiais o número de casos seria de 150 ao ano.

No surto atual, iniciado em 2015, foram confirmados 462 casos de microcefalia ou outras alterações do sistema nervoso central, sendo 41 associados à zika. Mais 3.852 registros são investigados.

Considerando-se as estimativas dos dois grupos de pesquisa, antes da zika, o país teria pelo menos 6.000 casos de microcefalia por ano. Ainda que esses estudos tenham limitações metodológicas, especialistas dizem que são valiosos.

“Os dados do Ministério da Saúde são absolutamente inúteis no que se refere à epidemiologia da microcefalia. Melhor que não tivessem porque só serviram para atrapalhar ainda mais o cenário”, diz o médico Salmo Raskin, especialista em genética médica e professor da PUC-PR.

Segundo o geneticista Décio Brunoni, professor do programa de pós-graduação em distúrbios do desenvolvimento da Universidade Mackenzie, a subnotificação de anomalias congênitas, entre elas a microcefalia, na declaração de nascidos vivos ocorre em praticamente todo o país.

Para as geneticistas Ana Beatriz Pérez e Mirlene Cernach, professoras da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), o sub-registro ocorre por vários motivos, entre eles a não obrigatoriedade dos registros e a dificuldade de se fazer o diagnóstico.

Paraíba

A revisão de 16.208 casos de bebês nascidos na Paraíba entre 2012 e 2015 mostra que houve subnotificação dos registros de casos de microcefalia no Estado.

“Em meados de 2014, houve um pico dos casos de microcefalia, maior do que o registrado nos últimos meses”, diz a pediatra Sandra de Silva Mattos, principal autora do trabalho publicado no boletim da OMS. Os dados obtidos pela equipe dela na Paraíba mostram que, em 2014, dentro de um total de 58.147 nascimentos, havia 4.652 casos de microcefalia.

O que realmente subiu nos últimos meses, segundo o mesmo conjunto de dados, são os casos de microcefalia grave, que podem causar consequências severas para o desenvolvimento dos bebês.

Uma das hipóteses dos pesquisadores é que, antes, casos de microcefalia leves eram ignorados. Com a chegada do zika, todos os casos passaram a ser notificados.

Segundo Sandra, o trabalho não rechaça a associação entre casos de vírus e microcefalia -o vírus da zika segue como principal suspeito. Mas há outros fatores que não podem ser descartados, entre eles má nutrição e exposição a agentes teratogênicos, como agrotóxicos, ou a drogas e vacinas na infância da mãe.

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