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Redução dos efeitos adversos é o desafio

A família dos remédios que foram detectados no sistema de Michael Jackson, além do propofol, é a de benzodiazepínicos. Seu uso é frequente para tratar a insônia no Brasil, mas por causar dependência e tolerância, eles já não são mais a primeira opção dos médicos. "Novas classes de medicamentos estão sendo estudadas na busca de tratamentos seguros de médio e longo prazo", explica Dalva Poyares, professora do Departamento de Psicobiologia da Unifesp.

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Carência de sono varia dependendo da pessoa

Nem todos precisam de 8 horas de sono para se sentir revigorados. Os pequenos dormidores, cerca de 2% das pessoas, carecem apenas de 5 a 6 horas. E os grandes dormidores, outros 2%, de 10 a 11. "O importante é que, ao acordar, você cante com os passarinhos, de tão bem disposto", brinca Monica Andersen, professora de Medicina e Biologia do Sono da Unifesp.

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São Paulo - Os olhos abertos fitam o teto e ele fica imóvel, torcendo para que o sono chegue. Não o sono ralo que o acompanha há anos. Mas o descanso reparador de que ele tanto precisa para encarar competidores ferozes no dia seguinte. Enquanto luta contra a sensação de alerta, sabe que seus adversários repousam profundamente. "É desesperador", desabafa o velocista Sandro Viana, finalista dos 4x100m em Pequim.

Sua insônia crônica – quando as crises se repetem por mais de três meses – atingiu o pico entre os grandes prêmios de Fortaleza, Rio de Janeiro e Uberlândia, em maio, quando Sandro só conseguiu dormir um pouco melhor por duas noites em uma semana. "Adormecia às 23 e 1 hora da madrugada despertava, sabendo que não dormiria mais. E que na manhã seguinte encontraria os outros atletas dispostos e eu seria um zumbi."

A performance de Sandro estava ameaçada e ele chegou a pedir que seu técnico o liberasse dos outros compromissos ao longo do ano. Mas o treinador insistiu que ele buscasse tratamentos alternativos – já que atletas não podem tomar qualquer tipo de remédio – e Sandro acatou. "Hoje, já consigo dormir 5 horas por noite", conta.

A agonia de quem quer dormir e não consegue leva a atos desesperados, ainda que injustificáveis, como os que o médico responsável por ministrar doses altíssimas de medicamentos ao cantor Michael Jackson vem relatando, ao depor sobre os últimos dias de luta contra a insônia do astro. Até para anestésicos cirúrgicos, como o Propofol, Jackson apelou. A enorme quantidade de remédios usados pelo médico Conrad Murray para fazer o cantor dormir levou a polícia de Los Angeles a concluir que a causa de sua morte foi homicídio.

Qualquer pessoa que tenha noites maldormidas por períodos prolongados pode experimentar irritabilidade, fadiga, queda de concentração, aumento de peso e doenças cardíacas, além de correr o risco de desenvolver quadros depressivos. E quem não passa por fases insones vivendo em metrópoles com um ritmo alucinante de trabalho e opções intermináveis de entretenimento?

Um estudo epidemiológico dos distúrbios do sono, que está sendo concluído pelo Instituto do Sono da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), mostra que 13,2% dos paulistanos sofrem da síndrome da insônia. Pelos critérios internacionais, a insônia vira síndrome quando o sujeito apresenta queixas de dormir pouco e mal; a duração das crises é de mais de um mês; e há consequências diretas no dia a dia do paciente. Os que apenas se queixam de insônia chegam a 37,6% dos moradores da cidade. Os dados revelam ainda que as mulheres são mais atingidas pela síndrome: 16,5% das paulistanas se encaixam nesse perfil, contra 9,2% dos homens.

A insônia costuma ser mais sintoma do que doença – embora em 35% dos casos seja considerada primária, provocada por uma resposta anormal do cérebro ao stress, deixando as áreas relacionadas à vigília mais ativadas. Quando é secundária, além de ser uma decorrência comum de outros distúrbios do sono, como a apneia, a insônia é frequentemente associada à depressão. "Quem vem se tratar está muito aflito e geralmente condicionado a vários medicamentos", relata Anna Karla Smith, médica do sono.

Para ela, o fator determinante do tratamento da insônia crônica é a psicoterapia, para se tentar diminuir a necessidade de remédios e, em último estágio, para que o paciente reaprenda a dormir. "Quando crianças, dormimos mais, pois o sono é o momento de processamento das memórias", explica. "Na adolescência e na maturidade, criamos hábitos que nos mantêm longe da cama. E a cobrança do insone, de que ele precisa dormir de qualquer jeito, acaba tendo o efeito contrário."

Medidas extremas

Mas, afinal, a insônia pode se tornar tão crítica a ponto de levar à morte? Excluindo-se a overdose de medicamentos, que obviamente pode ser fatal, a privação do sono só é comprovadamente letal em animais. Um experimento de pesquisadores americanos com ratos, em 1983, em que as cobaias foram privadas totalmente do sono por 10 dias, mostrou que sim, falta de sono mata.

Claro que essa é uma experiência que ninguém está disposto a repetir ou a fazer em humanos – a não ser em situações de tortura. O que se sabe é que pessoas que não dormem direito há vários dias podem apresentar dores musculares, visão embaçada e discurso confuso. O ritmo d wwos batimentos cardíacos aumenta e a memória raleia. Os níveis de cortisol, hormônio relacionado ao stress, disparam. São esses os efeitos que podem levar a uma automedicação desesperada e ao sono eterno

A alternativa é procurar ajuda profissional e tratamentos. "Com os remédios mais modernos, as terapias auxiliares e algumas mudanças de hábitos é possível dar ao insone uma qualidade de vida", afirma a neurologista Anna Karla. É o que Sandro está empenhado em alcançar. Melhorou sua alimentação, procurou técnicas de fisioterapia que estimulam o sono e, por volta das 20 horas, vai para o quarto. "Interrompo o que for quando me sinto sonolento. Descobri o quanto é valiosa uma noite bem dormida."

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