• Carregando...
O robô Da Vinci permite uma visão ampliada em 15 vezes e imagens em três dimensões do local da cirurgia | Divulgação
O robô Da Vinci permite uma visão ampliada em 15 vezes e imagens em três dimensões do local da cirurgia| Foto: Divulgação

Ritmo

Da Vinci chega ao Brasil com quase duas décadas de atraso

Os norte-americanos adotaram o Da Vinci para procedimentos cirúrgicos ainda da década de 1990. No Brasil, a tecnologia chegou apenas em 2008. O gerente médico do Centro Cirúrgico do Hospital Sírio-Libanês e cirurgião de cabeça e pescoço do Hospital das Clínicas de São Paulo, Sérgio Samir Arap, enfatiza que novas tecnologias aplicadas na medicina costumam mesmo demorar para chegar ao país. "Ficamos para trás por causa dos custos. Há muitas taxas e impostos cobrados, o que muitas vezes torna o valor inviável."

Para o coordenador do Centro de Cirurgia Minimamente Invasiva e Robótica do Hospital Israelita Albert Einstein, Robinson Poffo, a demora da chegada do aparelho ao Brasil se deveu também pela falta de médicos capacitados para operá-lo. "Os profissionais precisavam ser treinados, e isto leva até um ano."

Mesmo com a recente-chegada do robô ao país, o Brasil está longe de ter a disponibilidade da tecnologia que os americanos têm. "Os procedimentos lá fora e aqui são os mesmos, o que varia é o número de robôs disponíveis nos hospitais", diz o cirurgião especialista em robótica e professor adjunto da Universidade de Strasburgo (França), Ricardo Zorron.

De acordo com o coordenador de Cirurgia Robótica do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, Carlo Camargo Passerotti, os Estados Unidos têm cerca de 900 robôs espalhados pelo país. "No Brasil, a tendência é que isso se espalhe, mas não sabemos se será em médio ou longo prazo." Ainda não existe hospital que use a robótica no Sistema Único de Saúde (SUS).

Arap salienta que a tecnologia é importante, mas não é necessária em todos os estados do país. "O ideal é ter em centros de referência. Ter 15 robôs em Curitiba seria desperdício de tecnologia, assim como não é bom ter só em São Paulo."

SUS

Hospital Erasto Gaertner terá equipamento no 2º semestre

No segundo semestre, o Hospital Erasto Gaertner deverá contar com um Sistema Endoscópico Robótico para atendimento de pacientes pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Será o primeiro hospital do país a utilizar esse tipo de tecnologia no sistema público de saúde. O investimento faz parte de um convênio com o Ministério da Saúde (1743/2010), assinado em abril do ano passado, quando foram anunciados investimentos de R$ 12,7 milhões em novos equipamentos. Ainda não se sabe qual será a cota de procedimentos que serão realizados com o robô e se o equipamento será suficiente para atender à demanda existente.

Além do aparelho de robótica aplicada, com os recursos do convênio, o hospital comprará novos aparelhos para ressonância magnética, radiocirurgia, anestesia, um neuronavegador e 15 respiradores pulmonares. A pretensão do hospital é ampliar o número de pacientes assistidos por ano, com foco no SUS. Hoje, 92% da demanda atendida é por meio do sistema público.

Operar com precisão a retirada de tumores em uma região de difícil acesso e liderar, em número, as cirurgias para retirada da próstata nos Estados Unidos (mais de 80% dos procedimentos) são alguns dos destaques do doutor "Da Vinci". Com quatro braços e possibilidade de realizar cirurgia com mais de um instrumento, por meio de incisões de poucos milímetros, o robô é hoje a tecnologia mais avançada existente no Brasil, importada da empresa Intuitive Surgical, dos Estados Unidos, fabricante mundial do produto.

No Brasil, desde 2008 o Da Vinci pode ser visto em ação em três hospitais privados de São Paulo (Hospital Albert Einstein, Hospital Sírio Libanês e Hospital Alemão Oswaldo Cruz). Até hoje já foram cerca de 200 procedimentos com o equipamento em cada hospital. No segundo semestre, Curitiba deverá ter o seu primeiro Da Vinci, adquirido pelo Hospital Erasto Gaertner (veja quadro).

O robô não opera sozinho: é guiado por um cirurgião (sentado em um console) e acompanhado por mais dois médicos e um anestesista. O equiapmento permite uma visão ampliada em 15 vezes e com imagens em três dimensões do local da cirurgia. "O equipamento foi criado para operar durante a Guerra do Golfo, ocorrida em 1990. Mas, como o sistema é frágil, não elimina a presença do cirurgião. Sem utilidade para a guerra, os Estados Unidos aperfeiçoaram e começaram a utilizar o robô na mesma década", explica o coordenador do Centro de Cirurgia Minimamente Invasiva e Robótica do Hospital Israelita Albert Einstein, Robinson Poffo.

O Einstein foi responsável pela primeira cirurgia cardíaca com a tecnologia no país, enquanto o Hospital Sírio-Libanês fez a primeira cirurgia de próstata com o auxílio do robô. As cirurgias cardíacas, retiradas de tumores de cabeça e pescoço e, principalmente, a extração total ou parcial da próstata (prostatectomia) são as cirurgias mais frequentes com o robô no país. "As doenças urológicas são muito comuns no país, com mais de 50 mil novos casos em 2010, segundo o Instituto Nacional do Câncer (Inca). Diminuição do sangramento e da dor pós-operatória e risco menor de lesionar nervos que podem levar à impotência sexual ou incontinência urinária, são algumas vantagens do uso da ferramenta", diz o coordenador de Cirurgia Robótica do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, Carlo Camargo Passerotti.

A tecnologia une o comando robótico à laparoscopia, um procedimento minimamente invasivo. São feitas incisões de oito milímetros para introduzir os "braços" do Da Vinci e para levar uma microcâmera e instrumentos como bisturi, tesoura, afastador e pinça (que varia de tamanho) ao local da cirurgia. O instrumento é introduzido por meio de um tubo, chamado "trocar". De acordo com o presidente da Associação Brasileira de Endometriose e Ginecologia Minimamente Invasiva (SBE), Maurício Simões Abrão, nas cirurgias para endometriose, com o uso do robô a tendência é fazer apenas uma incisão (de cerca de 20 milímetros) para introdução dos instrumentos. "Com isso, se consegue a articulação de várias pinças com apenas um corte", explica.

Procedimentos feitos por meio de orifícios naturais do corpo – chamado de notes –, também são possíveis com o Da Vinci, e são ainda menos invasivos que a laparoscopia. "Uma cirurgia de retirada de vesícula pela vagina, por exemplo, não causa dor pós-operatória e deixa o paciente pronto para fazer atividades físicas em poucos dias", diz o cirurgião e professor adjunto da Universidade de Strasburgo (França), Ricardo Zorron. Em 2003, o médico realizou estudo em hospitais públicos do Rio de Janeiro como parte de sua especialização em robótica na Universidade de Humboldt (Ale­manha). Foram feitas 30 cirurgias para retirada de vesícula utilizando robótica, com equipamento emprestado do exterior.

Preço

Nos Estados Unidos, o robô sai por US$ 3 milhões; no Brasil, pelo triplo do valor. A manutenção e as pinças utilizadas também não são baratas. Planos de saúde não costumam fazer a cobertura deste tipo de intervençaõ também. Mesmo assim, apesar do alto custo, tanto para o hospital , quanto para quem é operado, o custo-funcionalidade compensa na maior parte dos procedimentos. Ou seja: o paciente se recupera mais rápido, gasta menos com internação, remédios e diminui a chance de ter infecção hospitalar. "Uma cirurgia para retirada de um tumor no cérebro, que antes levava quase quatro horas e eram necessários cortes na mandíbula e pescoço, hoje é feita em 40 minutos, e com tempo de internação de apenas dois dias", diz o gerente médico do Centro Cirúrgico do Hospital Sírio-Libanês e cirurgião de cabeça e pescoço do Hospital das Clínicas de São Paulo, Sérgio Samir Arap. Além do Da Vinci, o hospital conta hoje com um equipamento chamado Artis Zeego, que também tem tecnologia robótica, e é uma espécie de arco cirúrgico. O equipamento, comprado no ano passado, foi utilizado em cirurgias do ex-vice-presidente José Alencar. "Ele é o ‘olho’ do cirurgião no procedimento vascular minimamente invasivo, pois consegue identificar precisamente o local onde está o aparelho", esclarece Arap.

Desvantagens

A cirurgia realizada com tecnologia robótica, além do alto custo, não oferece a sensação tátil para o cirurgião. "Você não consegue pegar o tecido e saber o que ocorre. Por outro lado, tem a visão ampliada e melhorada, que compensa esta perda", diz o cirurgião Sérgio Arap. Ele ressalta que a indicação de uma cirurgia com o Da Vinci deve ser bem analisada pelo médico e o paciente. "Em casos de tumores de fácil acesso, não traz nenhuma vantagem. Em tumores que atingem os ossos, o robô também não tem força suficiente para cortá-los, e ele vai mais atrapalhar do que ajudar. A avaliação deve ser cautelosa."

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]