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Zeni com o tio Amauri: “Me acordavam com água fria na cama” | Hedeson Alves/ Gazeta do Povo
Zeni com o tio Amauri: “Me acordavam com água fria na cama”| Foto: Hedeson Alves/ Gazeta do Povo

Entenda o caso

Zeni acusa o casal com quem morava de maus-tratos e cárcere privado

> Em 1971, Zeni Zavelinski é levada de casa, na comunidade rural de Rio Laranjeiras, na zona rural de Laranjeiras do Sul. Segundo familiares, ela teria ido morar com uma família em Irati.

> Na quarta-feira da semana passada, o advogado Aristides Athayde é comunicado por um guardador de carros que uma mulher era mantida em cárcere privado. Ele e dois policiais militares vão até o prédio. A Delegacia da Mulher de Curitiba instaura um inquérito e Zeni é encaminhada para a Fundação de Ação Social de Curitiba.

> Ontem, Zeni e o tio, Amauri Zavelinski, foram ouvidos na delegacia. Hoje, eles seguem para Laranajeiras do Sul.

Foram quase quatro décadas de um exílio que termina hoje. Aos 54 anos, 38 depois de ser levada de La­­­ranjeiras do Sul, na região Oeste do es­­tado, para trabalhar na casa de uma família em Irati e Curitiba, Ze­­ni Zavelinski pega hoje a estrada pa­­ra rever sua família – a mãe e os ir­­mãos. Ontem, em depoimento na Delegacia da Mulher de Curi­­tiba, ela afirmou que era mantida presa em um apartamento no centro da capital, trabalhava sem receber salário e sofria maus-tratos. A de­­legada Daniele Serighelli instaurou um inquérito para apurar as de­­núncias e nesta semana deve ouvir o casal acusado e testemunhas.

O caso foi descoberto na quarta-feira da semana passada, quando o advogado Aristides Athayde foi abordado por um guardador de carros no centro de Curitiba. Segundo o guardador, sempre que Zeni passava pelo local reclamava que sofria maus-tratos e era impedida de procurar a família. Athayde e dois policiais militares foram até o apartamento. Zeni foi encaminhada para um abrigo da Fundação de Ação Social, da prefeitura de Curitiba.

Zeni ainda lembra de quando foi levada de casa, em 1971. "Um juiz foi me buscar. Me levaram para a casa da mãe da minha atual patroa, em Irati", conta. Depois, quando a antiga "patroa" morreu, ela passou a trabalhar para a filha e o marido, primeiramente em Irati e depois em um apartamento em Curitiba. "Eu limpava a casa e lavava a roupa e só saía para fazer compras", afirma. "Comida eles davam bastante, mas ela brigava. Batia com a vassoura e dava beliscão. Ela gosta de judiar."

Quando falava em procurar a família, Zeni ouvia que os parentes estavam mortos. "Eu tento encontrar eles desde 1988. Desconfiava que eles não estavam mortos, mas eu não tinha documentos", relata. "Eles (o casal) diziam que se eu fugisse ia para um abrigo. Em Irati eles me mantinham chaveada dentro do quarto e me acordavam com água fria na cama. Se eu fugisse, não teria o que comer." Ela disse que nunca estudou e nunca votou. Em Laranjeiras do Sul, pretende recomeçar a vida: "Quero começar a estudar."

O tio de Zeni, Amauri Zavelins­­ki, 74 anos, diz que a família tinha per­­dido a esperança de encontrá-la. "Às vezes alguém passava por lá di­­zendo que ela estava em algum lu­­gar, mas eram só conversas", con­­ta. "A gente achava esquisito e­­la não se comunicar, parecia que ti­­nha alguma coisa errada mesmo." Ele não lembra como Zeni foi le­­vada. "Foi meu pai e minha mãe que decidiram. Só lembro que u­­ma mulher passou por lá e ela de­­sapareceu."

Na edição de sábado da Gazeta do Povo, as acusações de maus-tratos e cárcere privado foram negadas pelo casal. Segundo o aposentado que mantinha Zeni, que preferiu não ter o nome divulgado, ela era tratada como se fosse "da família".

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