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Antonio Márquez é considerado o melhor bailarino de flamenco da atualidade | Divulgação/Verinha Walflor
Antonio Márquez é considerado o melhor bailarino de flamenco da atualidade| Foto: Divulgação/Verinha Walflor

Manual ensina a identificar maus-tratos

Professores das escolas municipais de Curitiba e de outras 2 mil escolas particulares no estado estão recebendo um manual com dicas para identificar se o aluno está sofrendo algum tipo de violência, além de orientações sobre como agir nesses casos. Serão 13 mil professores atingidos só na rede pública da capital. A iniciativa é do Hospital Pequeno Príncipe, que no ano passado distribuiu o material para 5 mil ortopedistas de todo o país como parte da campanha Pra Toda Vida – A Violência Não Pode Marcar o Futuro das Crianças.

Segundo o artigo 245 do Estatuto da Criança e do Adolescente, os professores e profissionais da saúde são obrigados a denunciar casos de maus-tratos contra menores de 18 anos. "Não cabe a eles reunir provas da violência contra a criança, mas é sua obrigação fazer a denúncia para protegê-la", diz a diretora de Relações Institucionais do Pequeno Príncipe, Ety Cristina Forte Carneiro.

Na média nacional, os profissionais da educação respondem por 8% das denúncias. Em Curitiba, onde existe uma rede estruturada de proteção, geram 31% das denúncias. Ety acredita que o índice pode melhorar. "A criança que chega ao hospital já passou por vários outros graus de violência. É o reflexo do quanto estamos falhando na proteção das nossas crianças", diz Ety.

Dezesseis municípios do Paraná farão manifestações públicas ao longo de todo o dia para lembrar à sociedade que hoje é o Dia Nacional de Combate ao Abuso e à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes. As mobilizações ocorrem em todos os estados e no Distrito Federal, numa tentativa de jogar luz sobre um problema que na maioria das vezes acontece entre quatro paredes, gerado por pessoas muito próximas da vítima. Uma a uma, pesquisas têm derrubado o folclórico mito do tarado que persegue criancinhas nas ruas. Em média, nada menos do que seis entre dez casos de violência sexual acontecem dentro da própria residência da pessoa agredida.

Esse revés doméstico é exposto numa pesquisa do Hospital Pequeno Príncipe, instituição responsável pelo atendimento de crianças e adolescentes que sofreram maus-tratos em Curitiba e na região metropolitana. Das 243 crianças atendidas no ano passado, 164 (67%) eram meninas e 79, meninos. Do total, 66% foram alvo de violência sexual e 58% passaram pela experiência dentro de casa. O pai é o principal agressor, em 14% dos casos, ao lado dos vizinhos. Em seguida, aparecem os padrastos (10%). Somadas, as agressões do pai, mãe, padrasto, madrasta, irmãos, tios, primos, avós e babás também chegam a 58% das ocorrências.

De maneira geral, o agressor tinha alguma proximidade com a vítima. Das 243 crianças atendidas, apenas 19 sofreram maus-tratos de estranhos. Do total, 14% das agressões aconteceram quando ela estava na rua e 8% na casa de vizinhos. As creches e escolas aparecem em 5% dos registros. Outro fator preocupante é que a reincidência alcança um quarto dos casos: 26% das crianças atendidas já haviam sido agredidas outras vezes. A idade média das vítimas é de 5,8 anos, havendo registros de bebês com menos de um ano de idade e adolescentes com 16. Já o agressor tem em média 25 anos, com variação que oscila dos 10 aos 60 anos de idade.

Os casos de maus-tratos contra crianças e adolescentes atendidos pelo Pequeno Príncipe dividem-se em violência física, sexual, psicológica e negligência. Chegam com maior freqüência ocorrências de violência sexual (dois terços do total) e de violência física (20%). Segundo o hospital, na maioria das vezes é preciso uma intervenção médica, pois as crianças chegam bastante machucadas. Na análise dos médicos, 32% das situações eram graves, outras 41% de caráter moderado e 17%, leves. Essa escala de avaliação, no entanto, independe das marcas físicas que a violência tenha deixado. Leva-se em conta o risco de morte a que a vítima foi exposta.

Um bebê abandonado, por exemplo, pode não ter lesões aparentes, mas as condições em que se encontra representam um risco iminente de morte. "Nós analisamos o quadro de risco em que essa criança está inserida", explica a médica Maria Cristina Silveira, coordenadora dos atendimentos no Hospital Pequeno Príncipe. Em 57% dos casos não havia lesões, mas a gravidade revelava-se no comportamento da criança, seu estado de saúde e equilíbrio emocional.

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