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Àmedida que o ano novo se aproxima, os alpinistas do poder ficam cada vez mais inquietos, ansiosos para saber o que se passa no cume das decisões. Até o dia da posse, serão muitas as especulações acerca de como funciona a cabeça de Gustavo Fruet. De como o novo prefeito vai lidar com o governo e, principalmente, com o poder.

O ex-governador Jayme Canet Júnior explicava a diferença entre poder e governo dando como exemplo o lendário deputado Aníbal Khury: "Poder é o Aníbal. O resto é governo". Aníbal era de um tempo em que se ditava a hierarquia do poder na ordem inversa. Subordinado mandava. Chefe era quem desmandava.

Aníbal Khury não tinha um partido. Tinha um guruato. Ao escritor Jamil Snege é atribuída a nomenclatura do guruato na cultura paranaense. Guru é o guia, o líder carismático que à sua volta congrega fanáticos seguidores. Bem antes de Jamil formar o seu próprio guruato, depois suplantado por Paulo Leminski, o mais poderoso pertencia a Aníbal Khury. Tão poderoso era aquele guru que, quando faleceu, em agosto de 1999, entrou no céu soltando o verbo: "Quem mandava aqui?"

É bom ressaltar que no guruato de Aníbal, ao contrário do guruato de Snege, a verba sobrepunha-se ao verbo. E a verba era tanta, diziam os gurus adversários, que três coisas nunca se viu: cabeça de bacalhau, chester vivo e eleitor do Aníbal.

Forças ocultas eram a especialidade de dois irmãos da numerosa família Khury. Michel era o mago da casa, mas quem desvendava os mistérios do poder era Aníbal. Cartorário, Michel entrava em parafuso e assim revelava o futuro de sua ilustre clientela. Aníbal não era cartorário, apenas distribuía cartórios.

Quando Jaime Lerner foi eleito governador, Aníbal também entrou em parafuso. Mesmo sendo um dos seus primeiros apoiadores, o guru queria entender o pensamento lógico daquele arquiteto avesso à política e ruim de palanque. Disposto a desvendar os segredos da esfinge do Iguaçu, o irmão do Michel procurou um amigo comum para tentar entender a cabeça de Jaime Lerner. "Muito simples", disse o amigo: "Os judeus têm uma maneira diferente de pensar. Está no livro Do Eden ao Divã, de Moacir Scliar, uma compilação do melhor do humor judaico".

Semanas depois, Aníbal voltou ao confidente com novidades: "Sabe a última do judeu? Num dia de sol, estava o velho judeu com o guarda-chuva sob o braço andando com um gói [um não judeu] quando começa a chover. O judeu não faz a menor menção de abrir o guarda-chuva. ‘Não vai abrir?’, pergunta o gói. ‘Não, está todo rasgado e não abre!’ O gói retruca: ‘Então por que o trouxe?’ O judeu aperta o passo e responde: ‘Pensei que não ia chover!’"

"Aníbal, você sabe por que os judeus têm os pés planos?". "Não, por quê?" "Experimente caminhar durante 40 anos no deserto pra ver!" Como bom filho do libanês Salomão Khury, comerciante nas cidades gêmeas de União da Vitória (PR) e Porto União (SC), Aníbal não passou recibo: "Acho que agora começo a entender a cabeça do Lerner. Amanhã mesmo irei ao palácio falar com ele sobre política".

Dito e feito, Aníbal foi ao Palácio Iguaçu com alguns correligionários embaixo do braço: "Governador, viemos aqui falar de política". Jaime Lerner abriu os braços para recebê-los, em alto e bom som: "Este é o forte da casa!" Aníbal deu meia volta no assunto e cochichou na orelha de um prefeito: "Vamos embora que aqui só vamos perder tempo!"

Para entender a cabeça de Gustavo Fruet é preciso saber que na casa da família Fruet, na Rua Chile, o forte é política. Política e humor. Mas, como costumava ressalvar o pai de Gustavo, o deputado e ex-prefeito Maurício Fruet, "humor e seriedade não são excludentes".

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