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Um paciente de esquizofrenia em sua fase aguda costuma ter alucinações, ouvir vozes com freqüência e sentir-se perseguido ou acuado, reflexos da confusão mental causada quando a doença não está sob controle. A pessoa tende a se isolar e deixa de estudar, trabalhar e fazer tarefas simples do dia-a-dia para evitar o convívio social, trazendo sofrimento para si e para a família.

Distante do tempo em que a esquizofrenia era simplesmente diagnosticada como loucura, a ciência desenvolveu terapias e medicamentos que têm ajudado esses pacientes a conviver com a doença e melhorar a qualidade vida. Porém, ainda não se descobriu remédio para tratar seu pior aspecto: a discriminação. "Há estudos que mostram que o estigma é considerado a influência mais negativa na vida das pessoas com esquizofrenia", afirma o psiquiatra Géder Evandro Motta Grohs, secretário da regional sul da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP).

O problema preocupa tanto a classe médica que especialistas de todo o Brasil realizaram um fórum para discutir formas de combater a estigmatização dos portadores de transtornos mentais dentro do 24.° Congresso Brasileiro de Psiquiatria, que ocorreu em Curitiba na semana passada. Para eles, deixar de tratar o portador de esquizofrenia com desrespeito e desconfiança é fundamental para tornar mais eficiente sua recuperação.

A esquizofrenia é uma doença mental crônica que atinge 1% da população mundial, não tem cura conhecida e ainda pouco se sabe sobre o que a causa – é provável que ocorra por anormalidades na estrutura ou na função cerebral. A doença afeta homens e mulheres, mas em geral costuma se manifestar mais cedo na faixa masculina (entre 15 e 25 anos) do que na feminina (dos 20 aos 30 anos). Os primeiros sinais são mudança de comportamento, dificuldade de concentração, apatia e isolamento, que podem evoluir para sintomas psicóticos, como delírios e alucinações. "O diagnóstico de esquizofrenia não é algo simples e é feito ao longo de um tempo", diz Grohs.

O psiquiatra explica que pesquisas mais recentes mostram que os portadores da doença têm uma pré-disposição genética, mas a manifestação e a própria evolução do quadro é resultado de uma combinação com fatores ambientais, entre eles a própria discriminação. A terapeuta Cecília Villares, coordenadora do projeto S.O.eSq. (que auxilia familiares e portadores de esquizofrenia), diz que o estigma é gerado pela desinformação da sociedade, que alimenta o preconceito e a exclusão social. "A incompreensão gera comportamentos muito ruins nas pessoas e isso aumenta o sofrimento do doente", explica.

O olhar de reprovação da sociedade dificulta o acesso do esquizofrênico ao tratamento e ele passa a ter uma imagem negativa de si mesmo. Grohs diz que geralmente a pessoa demora a reconhecer que tem um problema e, ao invés de buscar auxílio, se fecha, num comportamento que só agrava o quadro da doença. "O isolamento muitas vezes é uma medida defensiva da pessoa porque ela já está se sentindo mal", completa Cecília. O psiquiatra desmistifica a imagem do doente como alguém violento, algo tão explorado pela mídia. "Claro que há casos, mas essa não é a regra. Em geral os pacientes são mais vítimas da violência ao invés de perpetuá-la", diz, lembrando mais uma vez o preconceito.

Grohs explica que o tratamento é feito com sessões de psicoterapia e o uso contínuo de medicamentos. Mas o paciente precisa querer se tratar. "Tem pessoas que vão sofrer sintomas pelo resto da vida, mas se elas mudarem a maneira de se relacionar com a doença, o quadro melhora muito." Cecília afirma que participar de grupos de auto-ajuda também é benéfico. "Os pacientes compartilham suas histórias e começam a entender o que está acontecendo", afirma. Ela orienta os familiares, que sofrem tanto quanto os portadores e também costumam se isolar, a se informarem sobre a doença, conversar com pessoas que passaram pelo mesmo problema e buscar ajuda no sistema público de saúde.

Serviço: Mais informações sobre a doença nos sites www.soesq.org.br e www.abpbrasil.org.br/comunidade.

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