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Cones e faixas indicam obras, mas empreiteira não vinha fazendo as melhorias | Ivonaldo Alexandre/ Gazeta do Povo
Cones e faixas indicam obras, mas empreiteira não vinha fazendo as melhorias| Foto: Ivonaldo Alexandre/ Gazeta do Povo

O lugar

Criado em 1960, o Parque Estadual do Monge recebeu esse nome por ter abrigado, em 1847, o monge João Maria D’Agostinis, estudioso das plantas da região. A principal atração do local é a Gruta do Monge, onde D’Agostinis viveu durante alguns anos. Com formações rochosas, trilhas ecológicas e vertentes de água, o parque atraía romeiros de várias partes do país.

Era para ser uma reforma simples, que, dentro de um ano, garantiria mais conforto e segurança aos usuários do Parque Estadual do Monge, na Lapa. Mas, quase cinco anos depois, o lugar é o retrato do abandono. Após o descumprimento dos prazos pela empreiteira contratada, o governo do estado conseguiu o cancelamento judicial da licitação, orçada em mais de R$ 2 milhões, e aguarda autorização da Casa Civil para abrir um segundo edital de concorrência pública. Com as obras paradas há um ano, moradores reclamam da falta de segurança no local, que deixou de atrair visitantes e se tornou esconderijo para usuários de drogas.

Responsável pelo projeto, o Instituto Ambiental do Paraná (IAP) informou, por meio da assessoria de imprensa, que apenas um pedreiro da empreiteira trabalhava no parque e, por isso, grande parte da obra não foi executada. Além da estrutura de segurança na trilha, faltam ser construídos os banheiros e o centro de visitantes, com lanchonetes. O IAP não soube informar se a empresa receberá pela construção de escadas e fundação de parte da obra. Já a retirada de pínus e árvores exóticas, segundo o órgão, foi executada por outra empresa.

Abandono e interdição

Na entrada do parque, cones e faixas de sinalização indicam que o local está em obras. O setor de informações está deserto, com os vidros quebrados. Em uma das faixas, o aviso de interdição foi coberto com tinta. De acordo com o IAP, as visitações somente são permitidas de forma monitorada, por questões de segurança. No entanto, na última segunda-feira a reportagem da Gazeta do Povo foi autorizada por um responsável a circular pelo parque sem acompanhamento.

Reaberto ao público no ano passado, mesmo sem a conclusão das obras, o local tem recebido visitantes aos fins de semana. "O povo ainda vem porque não tem opção de lazer na cidade. Tem um pesque-pague, mas como precisa pagar, as pessoas preferem subir ali, mesmo sem nada pra fazer", conta a comerciante Terezinha da Silva, que mora no bairro Santo Antônio há 32 anos.

Durante a semana, o parque fica quase sempre deserto. Com um comércio de alimentos na Avenida do Monge, há cinco anos, Terezinha garante ter sentido os efeitos negativos. "Minhas vendas caíram 80%. Antes, vinham 50 ônibus de turismo, agora pouca gente sobe lá. Um dinheiro que poderia ficar no município está indo para outro lugar."

Moradora da residência ao lado do Mirante do Cristo, a funcionária de cartório Lucimara Silveira reclama da escuridão e do mato alto que tomou conta do entorno. "Tenho medo de ficar aqui sozinha com as crianças, tem muito usuário de drogas. O mato no Cristo estava dessa altura esses dias."

Os buracos na estrada que leva até o Parque do Monge também são motivo de crítica. "Eu queria um carro melhor, mas resolvi comprar um fusquinha mesmo. Com esse tanto de buraco, não sei como tem gente que tem coragem de subir lá. Uma época falaram em desapropriar as casas, acho que até seria bom, porque estamos nesse balaio de gatos."

Cansado de esperar, grupo de moradores busca o MP

Em 1989, Antônio da Silveira construiu a casa da família ao lado do Mirante do Cristo, no Parque do Monge, na Lapa. Durante muitos anos ele manteve ali uma lanchonete que atendia às centenas de turistas atraídos pelos encantos do lugar. "Na época que tiraram o restaurante do parque, o meu ficou, porque é particular. Mas depois o IAP [Instituto Ambiental do Paraná] mandou sumir. Então transferi para o terminal rodoviário, mas não sei para onde vou agora que a prefeitura quer tirar os lojistas."

De acordo com Silveira, o loteamento no entorno do parque tem 254 lotes, todos registrados desde 1953, com pagamento de IPTU. "Só queremos o parque de volta, bonito, limpinho, bem cuidado, um paraíso como era antes."

Reclamação

Silveira faz parte de uma comissão de moradores da Lapa que na última semana resolveu levar o caso ao Ministério Público. O coordenador do Centro de Apoio Operacional as Promotorias de Proteção ao Meio Ambiente, Saint-Clair Honorato Santos, que os recebeu, explica que os encaminhamentos serão decididos em uma reunião com a presença do IAP. "Os moradores vão definir a data. A partir disso, vamos conversar e ver como é possível atender às reivindicações da população."

Na quinta-feira, o vereador Célio Guimarães (PV), que acompanhou os moradores, deve entregar um ofício ao presidente do IAP pedindo a definição de uma data para a reunião. De acordo com a assessoria do vereador, a ideia é envolver a população na discussão do que será feito nesta segunda etapa da obra, o que não ocorreu da primeira vez. Além do término da reforma, a população pede a reconstrução do que foi destruído por vândalos.

Piquenique

Moradores da Lapa estão organizando um piquenique no parque para a próxima segunda-feira, com a presença de grupos de escoteiros, desbravadores, praticantes de rapel e voo livre, além de alunos das escolas municipais. Eles plantarão algumas árvores e passarão a tarde no local, como forma de reavivar as reivindicações dos moradores.

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