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Local vai receber cães, gatos e cavalos em situação de risco nas ruas, prestar o primeiro atendimento e encaminhar o animal para adoção. | Brunno Covello/Gazeta do Povo/Arquivo
Local vai receber cães, gatos e cavalos em situação de risco nas ruas, prestar o primeiro atendimento e encaminhar o animal para adoção.| Foto: Brunno Covello/Gazeta do Povo/Arquivo

Quase três anos depois de lançar a primeira campanha gratuita de castração de cães, Curitiba retoma, efetivamente, a caminhada para ampliar seu conjunto de ações voltadas para a proteção animal. Com uma verba garantida de R$ 1,14 milhão, a capital deve inaugurar, até julho do próximo ano, o Centro de Referência de Atendimento a Animais em Risco (Crar), que funcionará como uma espécie de abrigo temporário para animais em situações de maus-tratos. O local escolhido fica ao lado do Centro de Controle de Zoonoses, na divisa dos bairros Cidade Industrial de Curitiba e Caiuá.

Custo de implantação será de Fundo do Meio Ambiente

Aprovado no fim de agosto pela Câmara Municipal, o orçamento de R$1,14 milhões destinado às despesas da implantação do Crar sairá, de acordo com a prefeitura, do Fundo Municipal do Meio Ambiente – unidade orçamentária que concentra fontes de recursos para o desenvolvimento de projetos próprios, o que, significa, na prática, que não vai causar impacto financeiro em outras áreas geridas pela administração pública, com saúde e educação, por exemplo.

O coordenador da Rede de Defesa e Proteção Animal, Paulo Roberto Colnaghi, disse que mesmo o funcionamento do Crar não deve gerar despesas extras para a prefeitura porque, além de aproveitar parte da mão-de-obra do Centro de Controle de Zoonoses e Vetores, o espaço também vai se firmar sobre os custos hoje demandados pela Rede de Proteção Animal. De acordo com o Portal da Transparência, em 2015 foram destinados para o órgão, dentro da Secretaria Municipal de Meio Ambiente, R$ 1,76 milhões.

A intenção inicial era de que o Crar recebesse um espaço próprio, em um terreno próximo ao zoológico. Mas, por questões financeiras, a ideia foi abortada. “Para construir neste espaço [próximo ao zoo] a gente precisaria de mais recursos, porque lá só tem o terreno e nada mais. Construindo junto ao CCZ nós vamos conseguir economizar com funcionários, como os que prestam limpeza, e também vamos conseguir ter mais agilidade em todo o processo”, acrescentou o coordenador da Rede de Defesa e Proteção Animal, Paulo Roberto Colnaghi.

A ideia é que o projeto, se levado adiante nas próximas gestões, junto com as campanhas de posse responsável e de castração, ajude a “estabilizar” a população de animais de rua do município em um tempo mínimo de dez anos.

Se a promessa – defendida por Gustavo Fruet nas eleições de 2012 – se concretizar, Curitiba passará a fazer parte do pequeno grupo de municípios brasileiros (que tem, por exemplo, São Paulo e Rio de Janeiro) que levaram para frente suas propostas de bem-estar animal e decidiram assumir as responsabilidades por cães e gatos em situações de risco nas ruas. A capital paulista abriga, inclusive, o único hospital veterinário público do Brasil, inaugurado em 2014 por meio de uma parceria do município com a Associação Nacional de Clínicos Veterinários de Pequenos Animais (Anclivepa).

R$ 1,14 milhão

É o valor destinado para as obras de implantação do Centro de Referência de Atendimento a Animais em Risco de Curitiba. Até final do ano, outros valores devem ser solicitados para a compra dos equipamentos do local, segundo a Rede de Proteção Animal.

Somente no Brasil, segundo dados da OMS, 30 milhões de animais vivem nas ruas. Em Curitiba, a Rede de Proteção Animal estima uma população em torno de 40 mil, dimensão que, de certa forma, impulsionou as discussões em torno da implantação do Centro de Referência de Atendimento a Animais, que funcionará com propostas distintas de um hospital veterinário.

“Em primeiro lugar, é importante que fique bem claro que o Crar não será um hospital veterinário”, ressalta o coordenador da Rede de Defesa e Proteção Animal, Paulo Roberto Colnaghi. “O centro vai se dedicar ao atendimento a cães e gatos que não tenham dono e estão em alguma situação de risco nas ruas”, explica.

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Além de cães e gatos, cavalos também receberão atendimento no Centro. O Crar também terá condições de prestar atendimento clínico de baixa e média complexidade ao cães, gatos e cavalos que para lá forem encaminhados.

Inicialmente, a prefeitura descarta a contratação, via concurso público, de novos médicos veterinários para trabalharem no local (o projeto pretende manter os três profissionais já contratados pelo CCZ), mas adianta que devem ser firmadas parcerias com universidades de Curitiba que possuem o curso de medicina veterinária para ampliar a mão de obra especializada no espaço. Outras parcerias devem ser feitas com clínicas veterinárias da cidade aptas a prestarem serviço de alta complexidade aos animais que precisarem de procedimentos mais complexos.

Questão de perspectiva

Tão importante quanto a promoção do bem-estar animal, a implantação do Crar também se adequa a uma estratégia mundial que passou a enxergar o abandono de cães e gatos como um problema de saúde pública, principalmente, por causa da transmissão da raiva.

A visão ganhou força na década de 1980, quando a Organização Mundial da Saúde (OMS) passou a se posicionar sobre o aumento da população de animais nas ruas e tornou reconhecíveis os primeiros métodos práticos de manejo populacionais de bichos. Anos depois, ao lado da Sociedade Mundial de Proteção aos Animais (WSPA, sigla em inglês), a organização reconheceu ainda a importância dos programas de controle reprodutivo para diminuir a renovação populacional de animais suscetíveis ao vírus rábico, rejeitando a eutanásia como alternativa concebível.

Na Europa, de acordo com a Agência de Notícias de Direitos Animais, a causa animal é centro de discussão há mais de 200 anos, enquanto no Brasil, apenas em 1998 foi aprovada uma lei que classifica abandono de animais como crime.

Local não deve ser confundido com abrigo permanente

Assim como não deve confundido com um hospital veterinário, o Centro de Referência de Atendimento a Animais em Risco de Curitiba também não quer ganhar o selo de abrigo permanente. Isso porque a proposta não é manter permanentemente os animais recolhidos no local, mas sim incentivar campanhas de adoção para que estes bichos ganhem novos lares.

“A gente vai fazer algo para que esse processo [de adoção] seja rápido, porque a saída de um permite a entrada de outro”, comenta o coordenador da Rede de Proteção Animal, Paulo Roberto Colnaghi. “E investir em campanhas é algo importante, porque, a partir do momento que as pessoas entenderem que aquele é um local de adoção, vai haver uma procura maior”.

Segundo Colnaghi, Curitiba enfrenta um momento crítico quando o assunto é abandono de animais, que nasce de causas múltiplas, atribuídas, por exemplo, a aspectos culturais e socioeconômicos a ao próprio grau de desenvolvimento dos países.

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