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Policiais do Cope fazem cerco à Delegacia de Homicídios antes de manifestação pela morte de jovem assassinado no Água Verde | Heliberton Cesca / Gazeta do Povo
Policiais do Cope fazem cerco à Delegacia de Homicídios antes de manifestação pela morte de jovem assassinado no Água Verde| Foto: Heliberton Cesca / Gazeta do Povo

O acusado da morte de um jovem em frente a um shopping no bairro Água Verde, em Curitiba, o construtor Aldeildo Fonguer, confessou que efetuou os disparos contra Andersandio Soares Franco, conhecido como Lacraia, na terça-feira (21). Fonguer prestou depoimento na manhã desta sexta-feira (24) e também apresentou uma nova versão para a briga que resultou na morte do jovem. As informações são do delegado titular da Delegacia de Homicídios (DH), Rubens Recalcatti.

Várias informações sobre o caso são divergentes

VÍDEO: Familiares fazem manifestação em frente à delegacia

Segundo o depoimento do construtor, desde a primeira confusão, uma discussão ocorrida no dia 16 de fevereiro, ele passou a receber ameaças de morte do grupo de jovens. Por causa disso, ele contou que comprou uma pistola no sábado (18), por R$ 1,5 mil, em uma favela próxima à rodovia. Depois do crime, ele teria jogado a arma no rio Barigui. Recalcatti disse que não deve tentar descobrir onde está a arma nem onde ela foi comprada, já que pretende finalizar a investigação na semana que vem. "Não há tempo hábil para isso", afirmou.

Porém, imagens de uma câmera de segurança do prédio onde mora Aldeildo mostram que houve uma discussão na noite do dia 14, terça-feira, e não no dia 16, como tem sido divulgado pela DH.

No dia do crime (21), Fonguer relatou que havia chegado em casa com a mulher e a filha e pediu que elas entrassem antes. Quando ele seguia para entrar no edifício, teria sido abordado por Lacraia, que foi procurá-lo para tirar satisfações sobre a briga ocorrida no dia 16. O construtor teria respondido que não queria confusão, mas relatou que o jovem começou a bater nele. Ele teria recebido quatro socos e se viu rodeado por mais pessoas. Nesse momento, sacou a arma e atirou contra o jovem.

Fonguer diz não lembrar quantos tiros deu. Ele afirmou ainda que nunca havia usado uma arma na vida e que tomou aquela atitude para se defender. Segundo o delegado, ele está com os dois olhos roxos, supostamente pelos socos que havia recebido na terça-feira. A possibilidade de o construtor ter sido agredido já havia sido levantada pelo delegado, que teve como base machucados na mão de Andersandio. Depois de prestar depoimento, o construtor foi liberado. Segundo informações da delegacia, a Justiça teria recusado o pedido de prisão preventiva.

O advogado de Fonguer, Adriano Minor Uema, afirmou na noite desta sexta-feira que seu cliente está sendo ameaçado de morte por integrantes do grupo de jovens, amigos de Andersandio. "Estão falando em vingança. Deixaram recados na porta da casa dele. Ele está assustado", contou. Uema confirmou que a primeira briga ocorreu no dia 14 e que desde então Fonguer vem sendo perseguido. "O Lacraia disse que aquilo (a briga) não iria ficar daquele jeito porque o amigo dele tinha sido preso e que ele (Fonguer) pagaria com a vida dele ou de um familiar", afirmou o advogado.

Uema não quis comentar a posse da arma. "A defesa não vai se pronunciar para não atrapalhar as investigações", limitou-se a dizer. O advogado também citou que na versão do cliente dele, Andersandio tentou agredi-lo no último dia 21, quando houve a morte. "Ele chegou (perto do prédio) e esse jovem já foi para cima dele e partiu para agressão".

Manifestação

Um grupo de dez amigos de Andersandio fez uma manifestação em frente à Delegacia de Homicídios no final da tarde desta sexta-feira. Os jovens levavam duas faixas, com pedidos de justiça, fim da violência e prisão para o assassino de Andersandio (veja vídeo abaixo). O principal motivo do protesto é o fato de o suspeito ter sido liberado pela DH. "Eu esperava que ele fosse preso e nada disso aconteceu. Ele tirou a vida do meu filho", lamentou Laudenice da Silva, mãe de Andersandio.

Cerca de 20 policiais do Centro de Operações Policiais Especiais (Cope) montaram um cerco em frente à delegacia. Segundo Recalcatti, a medida foi tomada para a manutenção da ordem. "Isso foi feito para evitar baderna e bagunça na frente de uma delegacia de polícia, de um órgão que é da lei e não pode permitir baderna. Aliás, baderna não pode ter em lugar nenhum", diz o delegado.

O advogado Manoel Barbosa, pai de um adolescente que registrou boletim de ocorrência contra o construtor, tentou fixar uma faixa na delegacia, mas foi reprimido pelo próprio delegado, que o chamou de "arruaceiro".

Barbosa também estava inconformado com o fato de o suspeito ter sido liberado após o depoimento. "O delegado não tomou as providências que deveriam ter sido tomadas", protestou, acrescentando que o inquérito teria sido mal formulado e que por isso o pedido de prisão de Fonguer não foi aceito. "Não comento esse fato porque quem falou isso não entende de inquérito", afirmou Recalcatti.

Informações contraditórias

Há vários detalhes divergentes nas informações divulgadas pela Delegacia de Homicídios e os relatos de amigos e familiares de Andersandio. A primeira é com relação à data da primeira discussão entre o grupo de jovens e o acusado do crime.

O delegado disse que a primeira discussão aconteceu na última quinta-feira (15). O pai de um dos adolescentes envolvidos na discussão, Manoel Barbosa, afirma que a briga foi na quarta-feira (14). Já as imagens de uma câmera de segurança do prédio mostram a data do dia 14 de fevereiro, a terça-feira (13).

Barbosa disse ainda que na primeira briga Aldeildo estava armado e teria ameaçado de morte os adolescentes e jovens que faziam bagunça ao lado do prédio. "Eu estava lá, eu vi. A garotada falou para os policiais militares que ele estava armado. Na revista, os policiais não encontraram nada. Eles falaram que a arma estava na portaria do prédio, mas os policiais não foram lá ver", disse Barbosa.

Segundo Recalcatti, porém, Aldeildo não estava armado e se mostrou tranquilo nas imagens da confusão captadas pela câmera de segurança. Para o delegado, os jovens é que tiveram uma atitude hostil. Recalcatti afirmou ainda que o acusado teria sido ameaçado de morte desde a semana passada e por isso teria comprado a arma. "Ele vinha sendo ameaçado desde a primeira discussão. No dia do crime, ele disse que o Lacraia falou que queria conversar, mas ele respondeu que não tinha nada para conversar e, então, teria começado a ser agredido".

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Motivo do crime

A motivação do crime tem relação com o incômodo que um grupo de jovens - do qual Andersandio participava - causava aos moradores da região. Segundo Recalcatti, um grupo de adolescentes e alguns adultos se reunia no calçadão na lateral do shopping e fazia algazarra enquanto andavam de skate e consumiam bebida alcoólica. "Eles perturbavam os moradores e quem passava por ali", disse Recalcatti. Na semana passada, Aldeildo teria se envolvido em uma briga com o grupo. Na época, um adolescente foi apreendido pela Polícia Militar (PM) após a confusão.

Aldeildo teria ido conversar com Andersandio sobre a confusão da semana anterior na terça, já que o rapaz teria filmado a discussão. O vídeo gravado por Andersandio, que foi divulgado na internet, não foi apresentado à polícia, mas pode ser utilizado no inquérito.

Depois de alguns minutos de conversa, os dois iniciaram uma nova briga, quando Aldeildo teria sacado uma arma e disparado. "O menino que morreu estava com as mãos feridas. Há indícios de que ele tenha batido no Aldeildo", afirmou Recalcatti.

VIDA E CIDADANIA | 0:52

Familiares e amigos de Andersandio Soares Franco, assassinado na última terça-feira (21), fizeram uma manifestação em frente a Delegacia de Homicídios. Eles criticaram a forma que a investigação do caso foi conduzida e pediram a prisão do acusado pela morte do jovem.

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