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Passageiros n o terminal do Afonso Pena, em São José dos Pinhais: cidade tem condições favoráveis para a formação de neblina, o que prejudica pousos e decolagens | Fotos: Antônio More / Gazeta do Povo
Passageiros n o terminal do Afonso Pena, em São José dos Pinhais: cidade tem condições favoráveis para a formação de neblina, o que prejudica pousos e decolagens| Foto: Fotos: Antônio More / Gazeta do Povo

Nevoeiro já foi um trunfo de guerra

O principal problema do Aeroporto Afonso Pena já foi considerado um trunfo. Construído para ser um aeródromo militar e servir de base para o exército Aliado na 2.ª Guerra Mun­­dial, o Afonso Pena tinha então como vantagem o fato de estar em área de neblina – o que camuflaria as operações.

O Afonso Pena foi aberto em 1944, em uma parceria entre o Ministério da Guerra brasileiro e o exército dos Estados Unidos. O objetivo era manter um entreposto para possíveis operações no Atlântico sul, caso a guerra se estendesse e ampliasse. A construção original ocorreu entre maio de 1944 e abril de 1945, sendo concluída meses antes do fim da guerra.

A partir de janeiro de 1946, o Afonso Pena passou a ser usado para aviação comercial, em substituição ao aeroporto do Bacacheri. Operavam com voos regionais e internacionais, nesta época, as companhias Varig, Cruzeiro do Sul, Real, Panair e Aeronavis Brasil, além de algumas linhas internacionais.

Nesse momento, a neblina passou a ser inimiga. "Quando chegávamos a Curitiba e não podíamos pousar, a gente sabia que não ia jantar em casa. As alternativas eram Floria­­nópolis, Londrina, ou São Paulo/Campinas", lembra Arnaldo Macedo Caron, comandante durante 40 anos e consultor na área de aviação.

Hoje o Afonso Pena é o décimo maior aeroporto do país em quantidade de passageiros e número de voos. Em 2010, foram 5,8 milhões de passageiros e 88 mil aeronaves passando pelo terminal. (OT)

Índice

Eficiência de terminais brasileiros caiu em 2010

No ano passado, o índice de eficiência operacional (IEO) no aeroportos brasileiros teve queda pela primeira vez desde 2007. O índice é um cálculo feito pela Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) para verificar quais são as chances de o passageiro embarcar ou aterrissar sem problemas no país. Em 2010, o número de voos sem cancelamentos ou atrasos foi de 77%, contra 80% em 2009. Por outro lado, a média de passageiros embarcando e aterrissando nos aeroportos aumentou 40% no mesmo período. No Brasil, uma média de 12,9 milhões de pessoas viajou de avião em 2010.

O Afonso Pena registrou aumento de 14% no número de passageiros em 2011 em relação ao ano passado. De janeiro a maio, a média mensal de usuários chegou a 548,8 mil contra 481,2 mil pessoas em 2010. A estimativa é que em 2014, ano da Copa do Mundo, 8,3 milhões de pessoas passem pelo aeroporto. O custo das obras de ampliação chegam a R$ 130 milhões, com recursos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). (OT)

  • Atraso à vista: clima e relevo de São José dos Pinhais atrapalham

O Aeroporto Afonso Pena, em São José dos Pinhais, na região metropolitana de Curitiba, é o terminal que mais fecha por causa de neblina, em comparação com outros seis grandes aeroportos do Brasil. Somente no primeiro semestre deste ano, o Afonso Pena esteve fechado durante 88 horas somadas, acumuladas ao longo de 33 dias em que o controle de voo foi obrigado a interromper pousos ou decolagens devido ao nevoeiro. Por causa disso, um total de 168 voos tiveram de ser cancelados.

Esta quantidade de horas paradas é mais que o triplo da registrada pelo segundo colocado, o aeroporto de Guarulhos, em São Paulo, que teve um total de 27 horas. Dados de anos anteriores, quando existentes, indicam a manutenção de Curitiba na liderança desse ranking. O levantamento foi feito pela Gazeta do Povo junto aos dez aeroportos mais movimentados do país. As administrações da Infraero nos aeroportos Salgado Filho (Porto Alegre), Santos Dumont (Rio de Janeiro) e Confins (Belo Horizonte) não enviaram os dados até o fechamento desta edição.

O problema com nevoeiros afeta mais diretamente os aeroportos em regiões de clima subtropical, como é o caso de Curitiba. Nos aeroportos do Nordeste não há registro de fechamento por neblina. No Rio de Janeiro e em Brasília, os tempos de interrupção nos seis primeiros meses de 2011 somaram cerca de 3 horas cada – normalmente em intervalos de alguns minutos.

Curitiba, além de estar em um clima típico de neblinas mais intensas, ainda tem seu aeroporto construído em uma região mais favorável à ocorrência desse tipo de fenômeno. Paulo Barbieri, meteorologista do Instituto Tecnológico Simepar, explica que a cidade de São José dos Pinhais tem relevo de altitude, o que cria uma condição favorável a mais para a formação de neblina. "O solo perde calor muito rápido, e o ar na superfície esfria. Com isso, se forma a neblina, que não deixa de ser uma nuvem que está próxima do solo", explica. Esse tipo de formação costuma ocorrer com mais intensidade no inverno. Além da temperatura baixa, o céu aberto acelera a retirada do calor do solo. "Com o tempo nublado já não ocorre", ressalta Barbieri.

Sinais de rádio

A principal solução apontada para o problema é a instalação do equipamento ILS-3, um sistema que orienta o pouso por meio de sinais de rádio. Atualmente, o Afonso Pena possui as versões 1 e 2 do ILS. Esses equipamentos têm um alcance menor, e não podem ser usados em casos de nevoeiro mais denso.

O ILS-3 foi prometido pelo Ministério da Defesa e pela Infraero até o final deste ano. De acordo com a assessoria de imprensa da Infraero em Curitiba, no entanto, ainda não há previsão para a instalação do equipamento. Caso o Afonso Pena realmente venha a ganhar o ILS-3, será o primeiro do Brasil a contar com essa tecnologia.

Ser o precursor, porém, obrigará o aeroporto de Curitiba a subutilizar o equipamento ao longo dos primeiros anos após a instalação. Analistas do setor, além da própria Infraero, avaliam que levará algum tempo até que os sistemas da frota aérea brasileira esteja adaptada ao ILS-3. "Os aviões têm que ter equipamento próprio para ler os dados do ILS-3, assim como os pilotos precisam estar treinados para operar com o novo sistema. No Brasil, ainda não temos isso", avalia Valmor Weiss, empresário do setor de transporte aéreo e terrestre e integrante do Grupo de Trabalho Pró-Aeroporto Afonso Pena.

O ex-comandante e consultor na área de aviação Arnaldo Macedo Caron lembra também que um pouso "às cegas", orientado por aparelhos, necessita uma pista mais longa. "Com zero de visibilidade, o piloto pre­­cisa pousar com mais velocidade. Isso porque, caso ocorra uma emergência, ele pode arremeter normalmente. Essa velocidade a mais precisa ser eliminada com a nave no chão, por isso a pista precisa ser mais longa", explica.

Dentre o pacote de obras visando a Copa do Mundo de 2014, está a construção de uma terceira pista no Afonso Pena, com estimados 3,4 mil metros de extensão (1,2 mil a mais que a pista principal atual). Segundo Caron, mesmo esse tamanho de pista não é o ideal para pousos por instrumentos. "Precisaria ter acima de 4 mil metros", estima.

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