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A melhor

A Universidade de São Paulo (USP) é a instituição brasileira mais bem reconhecida no exterior. É a única representante do país no conceituado ranking da Times Higher Education, no qual é posicionada como a 178ª melhor do mundo. Na competição global entre países, no entanto, o sucesso da USP, considerada também a melhor da América Latina, não é suficiente. No último levantamento mundial feito pela agência britânica Quacquarelli Symonds (QS), o Brasil emplacou apenas 11 instituições entre as 600 melhores, atrás de países como China e Coreia do Sul (17 cada), Japão (27), França (25) e Alemanha (42).

Sem suporte

Falta de apoio à pesquisa privada afeta produção acadêmica do país

Para o consultor educacional Renato Casagrande, o desequilíbrio de investimentos na pesquisa está entre as maiores razões para a projeção negativa do Brasil em rankings internacionais. Além do aumento dos cursos de mestrado e doutorado no país ser um fenômeno relativamente novo, os investimentos são focados para a minoria dos estudantes. "O Brasil tem 73% dos universitários no setor privado e 27% na rede pública, mesmo assim o governo investe em pesquisa apenas na parcela menor, que está em instituições federais."

Reportagem da Gazeta do Povo publicada em 12 de julho revelou que o apoio do governo a pesquisas realizadas por instituições privadas vem caindo gradativamente. Enquanto o número de bolsas oferecidas pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) às universidades públicas aumentou 25% nos últimos cinco anos, as privadas sofreram redução de 4% no mesmo perío­­do. Hoje, 93% de todos os recursos destinados à produção científica vão para as públicas.

Para Casagrande, faltam programas governamentais específicos de incentivo à pesquisa no setor privado.

Intercâmbio

Baixo número de alunos estrangeiros prejudica internacionalização

A quantidade de acordos com universidades de outros países é outro item bastante valorizado pelos avaliadores que constroem os rankings internacionais. Nesse critério, os analistas consultados são unânimes em afirmar que as instituições brasileiras ainda são muito monoglotas.

O problema gera um ciclo vicioso. O número de alunos e professores estrangeiros é um dos critérios para ser bem avaliado, mas, ao mesmo tempo, a posição ocupada por uma instituição influencia diretamente o número de alunos e professores estrangeiros que a escolhem como destino.

Apesar de esforços recentes, como o programa federal Ciência sem Fronteiras, que pretende enviar 100 mil estudantes ao exterior até 2015, o Brasil não tem tradição em receber acadêmicos estrangeiros e as universidades não são preparadas para isso. Aulas em outros idiomas são raridade, e, mesmo entre os alunos nativos, a cobrança do domínio de uma língua estrangeira não se dá de forma prática. "Acho admirável a iniciativa do governo, mas ela devia ter vindo uns 120 anos atrás. Estamos muito atrasados", diz Manuel Simões, assessor de relações internacionais da Universidade Estadual de Londrina.

Conectividade

A pesquisa da Universidade de Melbourne (Austrália) que avaliou os sistemas de ensino superior de 48 países incluiu em seu relatório a categoria "conectividade com outras nações". Nesse item, o Brasil alcançou a pontuação 21,8 – a 6ª pior. Também nesse critério, outros países latino-americanos levam vantagem. As universidades mexicanas (39,1 pontos), argentinas (43,9) e chilenas (50,1) dialogam muito mais com o resto do mundo científico do que as brasileiras.

Ironicamente, o problema da falta de contato com o mundo se agrava ainda mais quando se trata da relação com os países vizinhos. Uma das conclusões do Congresso América sobre Educação Internacional, realizado em abril, no Rio de Janeiro, com a participação de representantes de instituições de todo o continente, apontou que o nível de integração entre universidades da América Latina é baixo e cheio de obstáculos burocráticos. Na prática, é mais fácil um estudante ir para a Europa do que fazer intercâmbio em universidades da Argentina, por exemplo.

O ensino superior brasileiro vive um paradoxo. Embora o investimento por aluno esteja próximo da média dos países desenvolvidos, as universidades brasileiras ainda não têm destaque no cenário global e ficam longe do topo nos principais rankings de qualidade na área.

O gasto anual em ensino superior hoje no Brasil é de US$ 11,6 mil (R$ 23,5 mil) por estudante, segundo levantamento da Organização para a Cooperação e De­senvolvimento Eco­nômico (OCDE). O valor, que engloba recursos públicos e privados, é maior do que o aplicado na Itália (US$ 9,5 mil) e na Nova Zelândia (US$ 10,5 mil) e não fica muito distante do gasto em Israel (US$ 12,5 mil), Espanha (US$ 13,3 mil) e França (US$ 14 mil).

Entre as 17 nações emergentes listadas na pesquisa da OCDE, o Brasil é a que mais investe por aluno. Isso não tem sido suficiente, porém, para que o ensino superior brasileiro crie uma reputação de excelência. Um ranking feito recentemente pela Universidade de Melbourne, na Austrália, comparou os sistemas universitários de 48 países e colocou o Brasil na 40.ª po­­sição, atrás de China, Ar­­gentina, Chile e de diversos países do Leste da Europa, como Eslovênia, Bulgária e Ucrânia.

Algumas das limitações brasileiras que aparecem no levantamento australiano são a pequena abrangência do sistema universitário – gasta-se bastante por aluno, mas, como a parcela da população no ensino superior é menor do que em outros paí­­ses, o investimento total em relação às riquezas produzidas pelo país ainda é baixo –; a insuficiente conexão das universidades brasileiras com instituições estrangeiras (tanto para intercâmbios quanto para produção acadêmica); e o pequeno número de instituições em rankings que levam em conta a produtividade dos cursos.

Para se ter uma ideia, a Universidade de São Paulo (USP), a melhor do país, aparece apenas na 178.ª colocação no ranking da Times Higher Education.

Escolhas erradas

A dificuldade de colocar universidades entre as melhores é reflexo das escolhas feitas pelo Brasil. O baixo investimento no ensino básico torna mais difícil a formação de graduandos interessados em pesquisa ou capazes de atender plenamente às demandas do mercado de trabalho. "Não há como esperar resultados muito melhores em rankings universitários enquanto não se fizer uma revolução na educação básica", diz o consultor Renato Casagrande. Ele lembra que as últimas avaliações do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa) mostram uma defasagem de quatro anos dos alunos brasileiros da educação básica em comparação com qualquer país desenvolvido.

Para o reitor da Uni­ver­si­­dade Positivo, José Pio Mar­­tins, outro problema é o interesse tardio das universidades do país pela pesquisa e por cursos de doutorado. "A titulação conta muito nesses rankings e há 30 anos o Brasil não tinha doutores", diz. Além disso, a pesquisa se restringe a poucas instituições públicas e o incentivo ao financiamento privado só recentemente entrou em pauta com a criação de leis de inovação – o Paraná, por exemplo, ainda não tem uma lei do gênero.

Pouca atenção ao ensino fundamental

De acordo com os dados da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), os elevados gastos nacionais com ensino superior não são proporcionais ao que se investe na educação básica. Isso se reflete na desvantagem que os calouros brasileiros levam quando comparados aos estudantes estrangeiros, que contam com investimentos mais relevantes nos anos escolares iniciais.

Proporcionalmente, o Bra­­sil gasta com ensino fundamental cerca de um sétimo do valor investido no ensino superior. O vizinho Chile, tendo os investimentos brasileiros como referência, investe quase três vezes mais na formação de crianças e adolescentes, o que equivale à metade do que o mesmo país gasta com universidades. Considerando todos os 39 países citados no relatório da OCDE, apenas Indonésia e China investem ainda menos que o Brasil em cada aluno do ensino fundamental.

Para o pesquisador João Malheiro, doutor em Educação pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), a formação básica fraca é a razão principal para o desempenho aquém do esperado no ensino superior. "Para se ter capital humano preparado para realizar pesquisa de ponta, os alunos têm que estar muito mais bem preparados", afirma. Foco exagerado no mercado de trabalho e interferências ideológicas na aprendizagem seriam outros fatores que prejudicam a formação científica daqueles que ainda chegarão à universidade.

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