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Tamanduá mirim morto na margem da BR 280, em Palmas, no Sul do Parana: animal em risco de extinção. | Henry Milleo/Gazeta do Povo
Tamanduá mirim morto na margem da BR 280, em Palmas, no Sul do Parana: animal em risco de extinção.| Foto: Henry Milleo/Gazeta do Povo

Anhanguera era uma suçuarana macho, jovem, que recebeu esse apelido depois de ser atropelado na rodovia de mesmo nome, no estado de São Paulo. Acolhido em um centro de recuperação de animais em Jundiaí, passou por cuidados ao longo de um ano e foi reintroduzido na natureza, na Serra do Japi. Um ano depois, foi atropelado novamente, dessa vez na rodovia dos Bandeirantes, e morreu.

Destino parecido teve um lobo-guará que voltou à natureza depois de ter sido encontrado perdido em Campinas, mas após seis meses de vida livre, estava em uma área que pegou fogo, fugiu e acabou atropelado.

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Os relatos são colecionados por Cristina Harumi Adania, coordenadora de fauna da Associação Mata Ciliar, entidade de Jundiaí que recebe animais silvestres feridos, aprisionados ou que foram vítima de tráfico animal. Nos últimos anos, ela notou um aumento de 30% no número de animais que chegam ao local como vítimas do que chama de “causas urbanas”, como atropelamento. A demanda é tanta que a ONG está fazendo um crowdfunding para a construção de novos recintos para seus maiores animais, as onças

Em Mato Grosso do Sul, um levantamento feito pelo Instituto de Pesquisas Ecológicas (IPÊ) contabilizou pelo menos 128 antas mortas por atropelamento em apenas sete trechos de rodovias do estado nos últimos três anos, o que coloca sob ameaça a sobrevivência do maior mamífero da América do Sul no Cerrado.

Histórias como essas acontecem no país inteiro, em grandes rodovias ou em estradas de terra. Cálculos do Centro Brasileiro de Estudos em Ecologia de Estradas (CBEE), da Universidade Federal de Lavras, estimam que até 475 milhões animais silvestres são mortos por atropelamento por ano. São 15 por segundo. O dado é uma taxa média para o Brasil extrapolada a partir de 14 estudos científicos.

Cadê as carcaças?

“As pessoas em geral se assustam com esse número e me perguntam como, então, não estamos andando em cima de carcaças de animais. Mas a grande maioria, 90%, é muito pequena. Passando a 100 km/h em cima deles, o motorista nem percebe. E muito rapidamente as espécies carniceiras, como urubus e carcarás, retiram os restos da pista. E muitas vezes eles são atropelados também. Só 1% é de grande porte”, explica Alex Bager, coordenador do trabalho.

A principal aposta dos cientistas e de ambientalistas para conter os atropelamentos é o Projeto de Lei 466/2015, em tramitação em regime de urgência na Câmara, que cria regras para as rodovias. Pela proposta do deputado Ricardo Izar (PSD-SP), elaborada com os pesquisadores do CBEE, todas as estradas têm de adotar medidas que auxiliem a travessia da fauna, como instalação de sinalização e redutores de velocidade e passagens aéreas ou subterrâneas.

Segundo Ugo Vercillo, diretor do Departamento de Espécies do Ministério do Meio Ambiente, enquanto o projeto não sai, medidas para tentar reduzir os atropelamentos são feitas nos processos de licenciamento de rodovias. “Temos noção do problema e estamos buscando soluções. Mas talvez a velocidade de ação esteja mesmo abaixo da velocidade das vias”, afirma.

Instituição faz “vaquinha virtual” para reformar espaço de onças em reabilitação

  • São Paulo

Dez animais, em média, chegam por dia à Associação Mata Ciliar, em Jundiaí, e Cristina Harumi Adania, coordenadora de Fauna do local, já não sabe mais o que inventar para abrigar a bicharada. Entre filhotinhos de tamanduá-bandeira e de gato do mato a onças e lobos-guarás adultos, além de centenas de aves, vivem no Centro de Recuperação de Animais Silvestres (CRAS) cerca de 1 mil animais.

Alguns, depois de tratados, têm chance de voltar à natureza, como o lobo-guará Balu, de 1 ano e 2 meses, que foi atropelado e chegou à associação com duas fraturas, mas agora está prestes a ser reintroduzido. Segundo Cristina, cerca de 35% dos animais que chegam ali voltam à natureza. “Infelizmente, a demanda de chegada é maior que a minha capacidade de reabilitação e soltura”, explica a médica veterinária.

Entre os animais com menos chance de voltar estão algumas das 16 onças-pintadas e pardas que vivem ali. “São animais que já estão aqui há muito tempo ou que têm algum problema. Se não podem voltar, temos obrigação de dar qualidade de vida para eles”, diz Ela se refere ao fato de que as onças vivem em recintos de apenas 40 metros quadrados, que, apesar de estarem em acordo com as determinações do Ibama, não são confortáveis para animais tão grandes.

Por isso, a associação está participando, com a organização da ONG Ampara Animal, do projeto de crowdfunding (www.kickante.com br/tocadaonca) para levantar R$ 500 mil para a construção de seis recintos para as onças, de 180 metros quadrados, enriquecidos com vegetação natural, além de um novo recinto de reabilitação de 3 mil metros quadrados, para ampliar as chances de soltura de outros animais.

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