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Isabela se exibe para a câmera em vídeo caseiro que faz sucesso na internet | Arquivo pessoal
Isabela se exibe para a câmera em vídeo caseiro que faz sucesso na internet| Foto: Arquivo pessoal

É preciso ter cautela

O delegado paranaense Demé­­trius Gonzaga de Oliveira, coordenador do Núcleo de Combate ao Ci­­­bercrime, afirma que não há uma legislação impedindo a divulgação de fotos dos filhos, mas, segundo ele, os pais precisam ter noção de que isso representa uma vulnerabilidade. "As organizações criminosas visitam sites de relacionamento e fazem um monitoramento dos dados divulgados."

Apesar de algumas pessoas ainda acreditarem que a ação dos criminosos é uma "lenda urbana", Oliveira afirma já ter se deparado com inúmeros casos assim. Em um deles, o sequestrador sabia com precisão que às 17h15 a mãe pegava o filho na escola e ia à panificadora. "Depois de coletar as informações na rede, há um acompanhamento real", explica. "O sujeito por trás do computador tem mil faces e se beneficia com a nebulosidade da rede."

Além de todos os obstáculos causados pela dificuldade em se obter dados pela internet, o país ainda não conta com delegacias especializadas em todos os estados. Hoje, além do Paraná, apenas seis possuem órgãos do gênero e não há ampla comunicação entre eles. "Para que a polícia consiga informações sobre um perfil na internet a demora é de até seis meses. Muitas vezes os pais entregam esta informação gratuitamente aos criminosos de forma instantânea." A prevenção também é difícil porque não há como adivinhar qual a intenção das pessoas. "A rede é imensurável e as pessoas precisam saber que a internet não é um confessionário."

Como se proteger

Dicas para evitar problemas na internet:

- Redes sociais permitem que o usuário tenha níveis de privacidade. O ideal é reduzir as informações e permitir que somente amigos acessem.

- O ideal é não publicar fotos que pro­­piciem algum tipo de identificação, como cidades, colégio que o filho estuda e local de trabalho.

- Use senhas diferentes para serviços diferentes. Caso uma senha seja comprometida, as outras ficarão intactas.

- Preste atenção ao disponibilizar as informações. Reflita se é mesmo necessário divulgar nome completo, endereço ou telefone.

- Cuide ao clicar em links. Eles podem levar a sites inadequados fazendo com seu computador seja invadido por vírus.

- Monitore as crianças pequenas. Fique atento a tudo o que elas fazem na internet e principalmente com quem falam. Acima dos 12 anos, é importante também trabalhar com a conscientização e dialogar sobre os perigos da rede.

- Lembre-se que após publicar uma informação na internet ela se torna pública. Depois é muito difícil escondê-la.

Serviço:

Para saber como proceder em casos de violações acesse: www.safernet.org.br

Fonte: Safernet, Mariano Sumerll e Demétrius Gonzaga de Oliveira

Pesquisa divulgada na semana passada mostra que 81% das crianças com até 2 anos de idade já têm algum tipo de perfil na internet criado pelos pais, mesmo antes do nascimento. Os dados são dos Estados Unidos, Europa e alguns países da Ásia. Embora não haja números específicos sobre o Brasil, outros estudos apontam para comportamentos semelhantes. Estima-se que no país cerca de 10% dos usuários sejam crianças e 60% do tempo de navegação é gasto com redes sociais e sites de entretenimento e mensagens instantâneas. Para especialistas, os pais devem ficar atentos aos limites da exposição. Esta será a primeira geração que terá toda a vida "publicada" na internet. Mas que dimensões isso terá no futuro?No último mês, o vídeo de uma menina de 2 anos do Rio Grande do Sul teve mais de 3,5 milhões de visualizações. A garota aparece dando uma bronca no pai porque ele fechou a porta e não a deixou brincar no quintal (veja matéria ao lado). Mesmo que as informações divulgadas possam não oferecer risco em um primeiro momento, especialistas afirmam que criminosos conseguem detalhes da rotina familiar. Os "dossiês" são usados desde em casos de pedofilia até tráfico de seres humanos.

Diversos estudos mostram que o uso da internet ainda não ocorre de forma segura e gera dúvidas para muitos usuários. Dados da organização não governamental Safernet revelam que metade dos internautas utiliza o sobrenome e 90%, o nome verdadeiro. Três em cada quatro divulgam fotografias e 56% já se encontraram com amigos virtuais. Destes, 65% foram ao encontro sozinhos. Entre as meninas, 80% se sentem inseguras na rede e um terço não sabe a quem recorrer para relatar uma situação de perigo on-line.

Para Mariano Sumerll, diretor de marketing da AVG – fabricante de softwares de segurança para computadores que realizou a pesquisa –, o que mais chamou a atenção foi a precocidade das informações disponíveis. Uma em cada quatro crianças já tem vida digital antes mesmo do nascimento, quando os pais postam fotografias dos exames de pré-natal. No Canadá, por exemplo, 37% dos pais postaram ultrassonografias. "Ainda não entendemos bem o impacto que será ter toda a história de vida na internet. Há preocupações em relação a segurança virtual e real", diz Sumerll.

Dependendo do que é divulgado, é possível conhecer o padrão econômico dos usuários, utilizar dados para falsificar contas bancárias e facilitar crimes como o sequestro. Além disso, não se sabe a dimensão que uma imagem terá ao cair na rede. Em agosto deste ano o presidente do site de buscas Google, Eric Schmidt, chegou a declarar a possibilidade de, no futuro, alguns jovens terem de mudar de nome para apagar o passado na web.

Sumerll alerta que algumas pessoas chegam a ter senhas de e-mail e redes sociais violadas porque exageram na divulgação de informações. Há casos em que o internauta precisa responder a algumas perguntas para recuperar senhas, como o nome do cachorro ou data de aniversário. Como isso está publicado na rede, é possível rastrear as contas.

Os dados da AVG apontam ainda que 7% dos bebês e crianças pequenas têm um endereço de e-mail criado pelos pais e 5% têm perfil em rede social. Para 70% dos pais, o objetivo é compartilhar a vida com amigos e familiares. "O objetivo da pesquisa é despertar a atenção para o problema. Se os pais devem ou não disponibilizar é uma decisão pessoal, mas precisam ter ciência dos riscos", diz Sumerll.

Segundo o psicólogo e diretor de prevenção da ONG Safernet, Rodrigo Nejm, os pais ainda não percebem a internet como um espaço público. "As famílias jamais publicariam fotos e detalhes da vida do filho em uma praça pública e não se dão conta que na internet isso é muito pior, já que não há controle." Ele argumenta que mesmo os perfis privados são limitados. "Se a pessoa não quiser que ninguém mais tenha acesso, o melhor é enviar por e-mail. Mas mais seguro ainda é o velho álbum de fotografia."

Caso uma pessoa tenha alguma foto ou dado violado, pode procurar as redes sociais para deletar ou corrigir informações. Mas Nejm alerta que este processo não é tão simples, já que a empresa precisará se certificar de que houve mesmo a violação. Um termo de ajustamento de conduta entre o Ministério Público Fede­­­ral e a rede Orkut prevê que a empresa deve responder o usuário em até 48 horas.

Menina de 2 anos vira febre na web

Há um mês o designer Felipe Horst, 27 anos, postou no You Tube um vídeo da filha Isabela, 2 anos, brigando com ele porque a porta que dava acesso ao quintal estava fechada e ela não poderia mais brincar. A "bronca" da me­­­nina foi vista mais de 3 milhões de vezes e se tornou um dos vídeos mais bem avaliados do You Tube. A febre entre os internautas foi a forma engraçada como ela diz "tranquilo" e "pode ser", jargões copiados dos pais. A cena já foi até traduzida para outros idiomas e os pais recebem comentários de internautas da Europa e América Latina.

O designer diz que não esperava o sucesso do vídeo, que foi gravado para mostrar Isabela aos familiares que vivem em Goiás. Hoje a garota e os pais vivem no Rio Grande do Sul. Na rede, há fotos e vídeos da menina desde o nascimento. A primeira gravação mostra a ultrassonografia na 23.ª semana de gravidez, seguida por cenas mostrando o banho, amamentação e as primeiras risadas. "Todos os pais querem ter recordações dos filhos. Temos sempre uma câmera próxima e estamos fazendo um álbum de recordações virtual", afirma Horst. "Acre­­dito que quando ela crescer, irá gostar. Ela é uma criança do século 21 e terá algo que eu e minha esposa não tivemos."

Em relação à segurança, o pai diz não temer, mas não coloca na re­­de informações que possam iden­­tificar a filha, como endereço ou escola. "Ela se tornou uma per­­so­­­­na­­lidade na internet, mas cuidamos para manter a privacidade dela."

Receio

A professora Kelly Cristina Al­­­merindo de Matos acabou de ganhar a filha Beatriz, que ainda nem completou 2 meses. Ela publica fotos nas redes sociais porque tem parentes morando em outras cidades. Mas restringe a visualização aos familiares e amigos mais próximos. "Queria que a família acompanhasse o desenvolvimento dela. Mas temo muito pela segurança", diz.

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