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A banda Bad Religion é um dos grandes nomes da cena punk rock mundial | Divulgação/Seven Shows
A banda Bad Religion é um dos grandes nomes da cena punk rock mundial| Foto: Divulgação/Seven Shows

Reincidência é alta em Foz

A reincidência de adolescentes praticando crimes em Foz do Iguaçu mostra fragilidades do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) quanto à recuperação do infrator. Segundo o delegado Fábio Amaro, de 65% a 70% dos adolescentes apreendidos voltam a cometer crimes. Um exemplo é F.M., 17 anos. Recentemente, ele foi apreendido pela Guarda Municipal sob acusação de ter furtado um celular de uma loja da região do Morumbi. Quinze dias antes, F.M. havia sido apreendido por porte de arma e voltou às ruas para praticar crimes. O proprietário da loja, Jackson Eidt, 28 anos, diz que já foi assaltado oito vezes. Em todas as ocasiões havia adolescentes.

Segundo a Guarda, boa parte dos objetos furtados na região do Morumbi é trocada por entorpecentes na "cracolândia" situada próxima a um colégio do bairro.

Tráfico de crack e maconha cresce no geral

Os registros do Narcodenúncia apontam outro dado alarmante: o aumento na apreensão de maconha e crack no estado (tanto com adultos como com jovens). Em 2005, a polícia paranaense retirou de circulação no estado cerca de 260 mil pedras de crack, droga com bastante procura e aceitação no mercado. Em 2006, o número saltou para 682 mil. A quantidade de maconha, 99,9 toneladas em 2005, passou para 131,4 toneladas em 2006.

Foz do Iguaçu – As penas brandas aplicadas para punir os adolescentes envolvidos com crimes e a sedução exercida pelos traficantes, mediante promessas de conquista de poder e dinheiro fácil, estão tirando os jovens da escola e os colocando temporariamente atrás das grades. Registros das polícias Civil, Militar, Rodoviária e Federal, por meio do Narcodenúncia 181, mostram que a apreensão de jovens com drogas no Paraná subiu de 535, em 2005, para 1.248, em 2006 – aumento de 133%.

Para a polícia, a explicação para o aumento dos casos, o que ocorre desde 2004 e refere-se tanto ao uso quanto ao tráfico de drogas, deve-se à forte repressão antitráfico desencadeada no estado, à ausência de rigor nas penas previstas no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e às mudanças recentes na legislação.

Em agosto de 2006, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva sancionou a nova Lei das Drogas, instituindo o fim da prisão para usuários de drogas, com vistas a estabelecer medidas socioeducativas para ressocializá-los, embora o uso do entorpecente ainda seja considerado crime. Pela legislação anterior, o usuário de droga estava sujeito a receber pena de até dois anos de prisão.

O coordenador estadual do 181, tenente-coronel Jorge Costa Filho, diz que os adultos estão aproveitando as brechas da nova lei para usar os adolescentes. Para não correrem risco de serem presos, eles aliciam jovens e os colocam para vender drogas em pequenos volumes, orientando-os a carregar quantias inexpressivas de dinheiro, para assim não ser caracterizado o crime de tráfico, o que livra os meninos do internamento em instituições especializadas.

Usuários

Para exemplificar, o tenente cita ocorrências registradas no Largo da Ordem, centro histórico de Curitiba, onde adolescentes são constantemente apreendidos com drogas e liberados por se enquadrarem na condição de usuários. "A gente pega o pessoal com três, quatro pedras de crack, e eles estão vendendo, mas para caracterizar o tráfico é complicado. Eles estão mudando o modo de operação. Ou seja, carregando pouca pedra e praticamente nada de dinheiro", diz.

O delegado Fábio Amaro, da Delegacia do Adolescente de Foz do Iguaçu, defende penas mais duras para os jovens envolvidos com drogas. "A medida socioeducativa é muito branda", diz.

Segundo ele, mesmo flagrados na condição de traficantes, os adolescentes ficam internados por 45 dias e depois são liberados porque o ECA estabelece pena mais leve para crimes não praticados mediante violência ou grave ameaça à pessoa, entre os quais está incluído o tráfico. A pena só é maior – entre seis meses e três anos – em casos de reincidência ou quando há outros crimes relacionados. No Instituto de Ação Social do Paraná (IASP) – responsável por unidades de internação de jovens no estado –, a média de tempo de internamento de adolescentes em 2006 foi de um ano.

Para o delegado Amaro, os traficantes sabem dessa condição e ao aliciar os jovens para atuarem enquanto mulas – transportadores de drogas –, já lhes prometem assistência jurídica para livrá-los das celas. Há casos, de acordo com Amaro, em que o advogado chega aos centros de detenção antes mesmo do delegado tomar conhecimento do fato.

Em Foz do Iguaçu, onde é registrada grande parte das ocorrências, a maioria dos jovens envolvidos no tráfico abandonou os estudos, pertence a famílias desestruturadas e não tem qualificação mínima para ser absorvida no mercado de trabalho. Assim, afirma Amaro, tornam-se presas fáceis para os traficantes.

Ainda segundo o delegado, é justamente a associação dos meninos e meninas com o tráfico que leva Foz do Iguaçu a ter alto índice de morte de adolescentes, conforme divulgado no Mapa da Violência, em março. Os crimes são estimulados pelas dívidas contraídas por meio do uso de drogas e pelo fato de os jovens terem acesso a informações que comprometem os traficantes. "Os adolescentes são arquivos vivos para a polícia e sabem muita coisa", afirma Amaro.

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