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Os órgãos para transplante são levados na cabine do piloto durante os voos comerciais | Albari Rosa/Gazeta do Povo
Os órgãos para transplante são levados na cabine do piloto durante os voos comerciais| Foto: Albari Rosa/Gazeta do Povo

Estatística

Crianças são maiores vítimas de doenças nas válvulas cardíacas

Doenças que atingem as válvulas do coração respondem por 30% das cirurgias cardíacas de adultos no Brasil. Entre as crianças, o índice sobe para 80%. O médico responsável pelo banco de válvulas humanas, Francisco Diniz Affonso da Costa, explica que esses pacientes têm algumas opções na hora de fazer um transplante. A primeira seria usar uma válvula artificial, que é biológica (de porco ou de boi), mas que não é idêntica à humana e, dependendo da idade do paciente, dura menos.

Em um jovem de 15 anos, por exemplo, dura apenas cinco ou seis anos. Outra opção seria trocar a válvula por uma metálica, que não acompanha o crescimento da criança e obriga o paciente a tomar remédios anticoagulantes para o resto da vida. Os remédios aumentam a chance de uma hemorragia cerebral ou de um acidente vascular cerebral (AVC). "A válvula humana passa a ser uma alternativa muito válida para pacientes jovens ou crianças que têm cardiopatias congênitas. Para esse subgrupo é o melhor substituto", explica Costa.

O cardiologista trouxe para o Brasil a técnica mais moderna para o uso de válvulas humanas. A operação de Ross é uma dupla troca usando as válvulas aórtica e pulmonar. A taxa de sobrevida, após 20 anos da data da cirurgia, chega a 90% dos pacientes que passaram por esse tipo de intervenção. No grupo que usou válvulas metálicas a taxa cai para 70%. E o Paraná registra o melhor resultado de longo prazo com essa técnica. "É o primeiro passo para a tecnologia do futuro, a engenharia de tecidos", diz Costa.

Recuperação

Um dos pacientes que recebeu uma válvula humana foi o contador Marlos Henrique, que aos 34 anos descobriu um problema congênito no coração. Apaixonado por esportes, ele tinha medo das limitações impostas pela doença. Poucos meses depois da operação, Marlos já levava uma rotina normal, como se nunca tivesse adoecido. "Voltei à vida", garante.

15 corações chegam, por mês, ao Banco de Valvas da PUCPR, em Curitiba, o único do Brasil.

  • Cirurgia de válvula do coração: técnica moderna

No Aeroporto Internacional Afonso Pena, o comandante da aeronave avisa a equipe em solo que está transportando um coração na cabine do avião. O procedimento ocorreu no fim de setembro, durante o voo 3337, vindo do Recife (PE) com escala em Guarulhos (SP) – mais de três mil quilômetros de viagem. Infelizmente, por causa da longa duração da viagem, o coração já não estava em condições de ser transplantado inteiro, mas os tecidos e válvulas ainda poderiam salvar vidas. O material foi levado ao único banco de válvulas cardíacas do Brasil, que fica em Curitiba. Assim como este, muitos voos aterrissam todos os dias trazendo a esperança para pacientes que estão na fila de espera por um órgão ou tecido.

INFOGRÁFICO: Entenda como é feito o transporte e a preparação das válvulas cardíacas do órgão

VÍDEO: Veja como é feita a preparação e o transporte de um coração

No caso das válvulas, depois de tratadas elas são usadas em cirurgias cardíacas em todo o Brasil. O uso de válvulas humanas aumenta, às vezes até em décadas, a expectativa de vida de pacientes mais jovens com problemas cardíacos congênitos. Por ano, são mais de 30 mil cirurgias desse tipo no Brasil.

Na chegada ao aeroporto, os funcionários da companhia aérea TAM, que estão em solo, não sabem exatamente o que está na sacola térmica e qual será o destino do coração. Por isso, todos ficam em alerta para entregar a encomenda o mais rápido possível. No caso de um transplante, quem aguarda o órgão é normalmente uma equipe médica, e tudo precisa acontecer rápido. "É muito delicado porque a gente nunca sabe se vai dar tempo ou se vai dar tudo certo", conta o agente de aeroporto Reni Nascimento. "Já teve uma situação em que a aeronave teve de arremeter para outro aeroporto por causa de questões climáticas. Tentamos trazer o órgão de táxi, fazer alguma coisa. Mas não deu tempo de fazer o transplante", lamenta.

Apesar de ter chegado inteiro, o coração vindo do Recife não seria usado em um transplante, como ocorre com 72% dos órgãos doados no Brasil, segundo dados da Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos. Muitas vezes, há restrições que limitam o uso do material: o doador não pode ter sofrido uma parada cardíaca e o coração deve ser conservado por, no máximo, seis horas antes de ser transplantado.

Autorização

Conforme a reportagem da Gazeta do Povo acompanhou, o coração vindo de Pernambuco, com autorização da Central Nacional de Transplantes, foi encaminhado ao Banco de Valvas Cardíacas da Pontifícia Uni­versidade Católica do Paraná (PUCPR). A equipe retira as válvulas aórticas e pulmonares, trata o material e conserva para que possa ser usado em uma cirurgia cardíaca. Em média, a equipe recebe 15 corações por mês e consegue oferecer material para 23 transplantes.

A coordenadora do banco, Marise Affonso da Costa, explica que a conservação das válvulas pode ser feita em baixíssimas temperaturas (criogenização) ou por um procedimento mais moderno, patenteado pela equipe do banco: a descelularização. Nesse processo, a válvula é dissecada por uma solução química e as células são retiradas. O arcabouço restante não é reconhecido como um organismo invasor pelas defesas do corpo de quem vai receber a válvula. Posteriormente, as células do corpo do receptor migram e povoam o novo tecido. "Isso aumenta a durabilidade do material e garante maiores chances de qualidade de vida aos pacientes."

Veja o caminho que um órgão percorre até o transplante

Acompanhamos a chegada de um coração doado e que passou por um procedimento para a retirada e tratamento das válvulas cardíacas para transplante. O Paraná abriga o único banco de válvulas cardíacas do Brasil.

+ VÍDEOS

Fila

Atualmente, há cerca de 200 brasileiros esperando por um transplante de válvula cardíaca no Sistema Nacional de Transplantes. Cerca de 40% das pessoas que aguardam nessa fila acabam morrendo antes mesmo de realizar o procedimento. O número pode ser até sete vezes maior, segundo o Ministério da Saúde. Isso porque muitos nem sequer entram na lista de espera. Sem um coração novo, o paciente sobrevive em média até dois anos.

Doadores

Segundo o Ministério da Saúde, de cada oito potenciais doadores de órgãos só um é notificado. Mesmo assim, o Brasil é o segundo país do mundo em número de transplantes realizados por ano. O Paraná é o terceiro estado que mais realiza transplantes de coração: foram 16 só no primeiro semestre deste ano, conforme relatório da Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos. O estado só perde para São Paulo e Minas Gerais.

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