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Policial avalia estragos causados ao caixa eletrônico de um supermercado em Campo Magro, na região metropolitana de Curitiba | Anderson Tozato/Tribuna do Paraná
Policial avalia estragos causados ao caixa eletrônico de um supermercado em Campo Magro, na região metropolitana de Curitiba| Foto: Anderson Tozato/Tribuna do Paraná

Punição

Justiça tarda nos pedidos de prisões

Felippe Anibal

A Delegacia de Furtos e Roubos (DRF) de Curitiba já conseguiu identificar parte de um dos grupos que usa dinamite para explodir os caixas eletrônicos. Há quase uma semana, a polícia encaminhou à Justiça pedidos de prisões contra os suspeitos, mas até agora as solicitações ainda não foram examinadas. "Temos uma boa parceria com o Ministério Público e com a Justiça, mas seria bom que essas prisões fossem avaliadas rapidamente", diz o delegado Guilherme Rangel, adjunto da DFR.

Para o delegado, a força-tarefa iniciada pela polícia para combater esses crimes já surtiu efeito. Na semana passada, dois suspeitos de integrar a "gangue do maçarico" foram presos em flagrante, enquanto tentavam cortar caixas eletrônicos no Centro de Curitiba. Na madrugada de ontem, em Colombo, a Polícia Militar localizou uma residência que pode ser o quartel-general da quadrilha. Na casa, foram encontrados um maçarico, luvas, lonas e "ouriços" (metais colocados nas ruas para furar pneus de viaturas durante as fugas), além de três carros com placas de Santa Catarina.

"Todos esses elementos reforçam o que havíamos levantado em investigações: que as quadrilhas que atuam com maçarico são provenientes de Santa Catarina", observou. De acordo com as investigações, as quadrilhas que utilizam explosivos seriam compostas por integrantes de Curitiba, mas com ramificações em São Paulo.

Combustível

Postos também são alvos facéis

Os postos de combustíveis também têm sido alvos dos ataques a caixas eletrônicos em Curitiba. O primeiro caso de ataques com explosivos a um desses estabelecimentos ocorreu no bairro Boqueirão. Em julho do ano passado, o Posto Quartel foi vítima da "gangue da dinamite". Segundo a gerente, Débora Martins, até hoje os proprietários estão reformando a loja. "Foi um prejuízo de mais de R$ 80 mil", explica.

O estabelecimento funciona 24 horas e o crime ocorreu no início da madrugada. "Foi o primeiro posto com explosão", conta. O caixa fornecido também era da Tecban. Segundo a gerente, os proprietários não disponibilizarão mais caixas bancário aos clientes. "Vários outros postos também estão retirando os caixas", conta. O perigo não compensa os eventuais benefícios proporcionados por esses equipamentos.

O Sindicato do Comércio Varejista de Combustíveis (Sindicombustíveis) do Paraná não tem interferido nas opções de colocar ou não os caixas eletrônicos nos estabelecimentos.

A onda de ataques com explosivos e maçaricos a caixas eletrônicos no Paraná tem feito com que os comerciantes revejam a necessidade do serviço aos clientes. Além de não ganharem nada com a cessão do espaço, seus estabelecimentos têm virado alvo fácil da ação dos bandidos. Do primeiro dia do ano até o fim da tarde de ontem ocorreram 22 ataques a caixas eletrônicos, quase um por dia, segundo o Sindicato dos Vigilantes de Curitiba e Região Metropolitana. Destes, 19 ocorreram na capital e região.

"Apesar de facilitar para os clientes, não compensa nada para nós", explica o proprietário do mercado Wessling, Rosnei Wessling, do bairro Campina da Barra, em Araucária, Região Metropolitana de Curitiba. O estabelecimento foi alvo da "gangue da dinamite" na última sexta-feira, em plena luz do dia. Por volta das 8h15, pouco depois de abrir o mercado, os funcionários e clientes foram dominados por quatro bandidos. Dois deles, de acordo com Wessling, estavam armados com pistolas. "Eles só falaram para gente ir para o fundo do mercado porque iriam explodir os caixas", conta.

O comerciante lembra que seus clientes raramente usavam o caixa eletrônico para sacar dinheiro e fazer compras no mercado. "Como era o único caixa da região, eles vinham para pagar conta particular. Aqui eles podem fazer compra no cartão de débito mesmo", explica. O prejuízo ainda não havia sido contabilizado pelo comerciante.

No caso de outro mercado, localizado no bairro São Dimas, em Colombo, também na região metropolitana, os gastos para consertar forro, caixa, parede e portão já passaram de R$ 10 mil. "No domingo as caixas registradoras não funcionaram. O que não vendi no domingo deveria ser ressarcido", explica o comerciante, que preferiu não se identificar. Neste ataque, foram cinco criminosos com um toque de ousadia a mais.

De acordo com vizinhos do estabelecimento, cinco homens arrebentaram os portões do mercado com o próprio carro para invadir e explodir o caixa eletrônico. Na avaliação do comerciante, ceder um caixa eletrônico para a população também não tem valido a pena. "Eu não recebo nada pra ter e tem sido muito arriscado enquanto a polícia não prender esses criminosos", explica. Os caixas dos dois estabelecimentos ouvidos pela reportagem foram fornecidos pela empresa Tecban, responsável pela rede 24 horas.

De acordo com o Sindicato dos Vigilantes, o total de ataques neste ano já supera os registros de todo o primeiro semestre de 2011. Naquele período, foram registradas 20 ocorrências, sendo que 19 eram arrombamentos e apenas uma explosão de caixa eletrônico.

Orientação

A Associação Paranaense de Supermercados (Apras) já orientou seus associados a reforçarem a segurança dos estabelecimentos. Segundo o superintendente da entidade, Valmor Rovaris, o perfil de loja assaltada tem sido as com pouca proteção e com rotas de fuga. "O varejista tem que tomar cuidado, mas a gente tem a expectativa de que a polícia logo esclareça isso", afirma.

De acordo com Rovaris, nunca havia tido um mês tão crítico. Apesar disso, a ainda não há informação de quantos estabelecimentos já foram atingidos pelos criminosos especializados em caixas eletrônicos. Rovaris informou que a Apras está em contato direto com as polícias para tratar do assunto.

Máquinas têm tinta para inutilizar notas

Empresa responsável pela cessão dos caixas eletrônicos 24 horas no Brasil, a Tecban já instalou em todas as máquinas um dispositivo de "entintamento". Esse equipamento de segurança marca com tinta vermelha indelével as cédulas roubadas, invalidando o dinheiro. Se­­gundo o gerente de segurança corporativa da Tecban, Van­­derlei Reis, a empresa registrou três casos em Curitiba. Todos os outros crimes, diz ele, não ocorreram em caixas cedidos pela empresa.

Segundo ele, o dispositivo de "entintamento" marca, em média, 98% das cédulas roubadas. "Dependendo do caso pode ser que não marque todas", con­­ta. Reis explica que a Tec­ban tem oferecido ajuda para os comerciantes recomporem as lojas atingidas. Segundo ele, cada caso é analisado separadamente. "Somos vítimas tanto quanto os estabelecimentos", argumenta.

Histórico

Reis lembra ainda que a empresa, que está há 30 anos no mercado, começou a registrar esses ataques em Recife (PE), no fim de 2010. "Depois migrou para Rio Grande do Sul, Santa Cata­rina. Em seguida para região Sudeste e agora, Paraná", explica. "Nós temos acompanhado esse movimento de migração, que começou na Europa." De acordo com Reis, nos países europeus os caixas eram destruídos com explosivos a base de gás. No Brasil, os criminosos usam dinamite.

Depois de registrar os casos na Europa, em 2009, a empresa começou a desenvolver a tecnologia do dispositivo de "entintamento". A tecnologia foi oferecida à Federação Brasileira de Bancos (Febraban). No entanto, a entidade não afirma quantos bancos aderiram à proteção em seus caixas eletrônicos. De acordo com a assessoria de imprensa da Febraban, grande parte dos terminais já conta com o dispositivo.

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