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Bombeiros instalam kit antirruído | Marcelo Andrade/ Gazeta do Povo
Bombeiros instalam kit antirruído| Foto: Marcelo Andrade/ Gazeta do Povo

Bombeiros instalam kit antirruído

O barulho do centro curitibano incomoda até quem ajuda a cuidar da cidade. Há dois anos, o comando do 2º Subgrupamento do Corpo de Bombeiros decidiu equipar o dormitório do local com seis kits antirruído.

Engana-se, porém, quem pensa na sirene como um incômodo para os bombeiros. Era o barulheiro excessivo vindo da Rua Nunes Machado, onde fica o comando da corporação, que não dava sossego à equipe capitaneada por Ícaro Gabriel Greinert.

"Tínhamos um problema de ruído, principalmente aos fins de semana. Era o som alto dos carros, buzinas e pessoas falando alto nas ruas. Isso tudo acabava atrapalhando o descanso da equipe", conta capitão Gabriel, como ele é conhecido na corporação.

O dormitório atingido pelo barulho da arruaça externa acomoda, em média, 15 bombeiros – que trabalham em um regime de 24 horas por 48 horas de descanso. Segundo Gabriel, a equipe fica ali durante a noite, nos intervalos entre as ocorrências, e muitas vezes não conseguia pregar o olho por causa do ruído excessivo.

O som da sirene, segundo Gabriel, é irrelevante perto do nível de ruído gerado na Nunes Machado. "O problema mesmo é o barulho dos jovens que fazem arruaça na rua", justifica o capitão.

Declarações

Respostas de internautas sobre os barulhos que mais os incomodam, postadas no blog da editoria.

Osmar Linz: "Moro na Avenida Manoel Ribas e todas as noites passam caminhonetes que parecem verdadeiros trio-elétricos."

Elizabeth Mara Duarte Fernandes: "O que mais me incomoda são alguns indivíduos que pensam que Deus é surdo e, por isso, exageram no barulho em suas igrejas."

Içara Lopes: "A voz de locutores de restaurantes e lojas: eles passam o dia inteiro atraindo clientes e isso deveria ser proibido."

O som alto que vem dos bares e a barulheira das ruas da cidade são os ruídos que mais irritam os curitibanos, segundo levantamento do Paraná Pesquisas. Dos 450 moradores da capital entrevistados, 44% afirmaram se incomodar com o barulho vindo desses locais.

Segundo a pesquisa, 26% dos entrevistados – ou um em cada quatro moradores – consideram barulhento o bairro onde residem e outros 11% disseram viver em uma região ‘mais ou menos’ barulhenta. Informaram não considerar seus bairros barulhentos 62% dos entrevistados. A pesquisa foi realizada entre 26 e 29 de abril.

Para fugir do excesso de barulho, o casal Morgana Nicolau de Souza, 35, e Anderson Foggiatto, 36, investiu milhares de reais no apartamento onde mora, na Rua Guilherme Pugsley, no bairro Portão, em Curitiba. Nas janelas do imóvel, a dupla instalou kits antirruídos para contornar o problema.

O casal morou mais de três anos sob barulho intenso, período em que passaram noites em claro ao lado da filha, hoje com quatro anos. "Era insuportável o barulho dos rachas de carros na rua e nossa filha acordava assustada", conta Morgana. Incomodados com a situação, os dois gastaram R$ 4,5 mil para equipar o apartamento do terceiro andar com três janelas antirruídos.

Essa capacidade de investimento, porém, não é acessível a todos e, por isso, uma enxurrada de reclamações chega mensalmente à prefeitura, responsável por fiscalizar o cumprimento da Lei Municipal 10.625, que proíbe a perturbação do sossego.

No primeiro quadrimestre deste ano, a Prefeitura diz ter recebido 651 reclamações de barulho, 40% delas referente a bares da cidade. Segundo a Secretaria Municipal do Meio Ambiente, 74% dessas queixas já foram solucionadas. "Atendemos as reclamações em até 15 dias úteis, enviando técnicos ao local para medir os decibéis. Damos prazo para regularização, mas emitimos multa em caso de descumprimento", diz Josiana Koch, superintendente da pasta.

Do lado de fora

O engenheiro civil Vi­nícius Takahashi Lau dos Santos defende, porém, que o problema dos bares não está na parte interna, mas do lado de fora. "O bar geralmente tem uma acústica boa, mas o problema ocorre com as pessoas nas ruas, que aumentam o volume da voz devido ao tempo de exposição ao som alto", diz ele, que é técnico de uma empresa especializada em kits antirruídos.

Além de causar traumas auditivos para quem fica exposto continuamente ao barulho, quem mora ao lado de regiões barulhentas também pode sofrer, como explica Marco Cesar Jorge dos Santos, diretor da Associação Brasileira de Otorrinolaringologia. "Quem não dorme direito por causa do nível de ruído fica mais irritado e pode ter alteração de memória e até sofrer com envelhecimento precoce", afirma o médico.

Já Alice Bernardi, da Sociedade Brasileira de Fonoaudiologia, aponta outro problema comum às grandes cidades. "O ruído age como uma droga no organismo, liberando uma substância que dá prazer ao cérebro. Com isso, as pessoas aumentam gradativamente e de forma imperceptível o volume de aparelhos sonoros."

Limites

A lei curitibana do sossego prevê diferentes limites de acordo com o zoneamento da cidade. Para regiões residenciais, a tolerância é de 45 dB no período noturno. Em áreas industriais esse limite chega a até 70 dB durante a manhã. Em caso de descumprimento, a multa pode chegar a R$ 5,3 mil para infrações leves e até R$ 18 mil para os casos gravíssimos, em que som ultrapassa em 30 decibéis o limite permitido.

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