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O presidente e CEO do Facebook, Mark Zuckerberg
Editores da revista BMJ pedem que Mark Zuckerberg reveja critérios para identificação de notícias falsas.| Foto: EFE

Editores da revista médica British Medical Journal (BMJ) escreveram uma carta aberta ao fundador do Meta/Facebook, Mark Zuckerberg, questionando os critérios usados para marcar como fake news uma matéria publicada em novembro sobre supostas irregularidades nos testes clínicos da vacina contra Covid-19 da Pfizer.

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Na carta, os editores Fiona Godlee e Kamran Abbasi criticam o trabalho feito por uma agência de verificação terceirizada que presta serviços ao Facebook, a Lead Stories. Segundo os editores, o texto foi considerado como “informação falsa” sem nenhuma explicação ou comprovação. Depois disso, segundo eles, leitores da revista começaram a ter dificuldades para compartilhar a notícia.

Em setembro de 2021, uma ex-funcionária da empresa Ventavia, que atuou no teste da vacina da Pfizer, apresentou uma série de documentos internos, fotos, áudios e e-mails que revelaram práticas inadequadas. Essas irregularidades poderiam ter, inclusive, afetado a integridade dos dados da pesquisa e, consequentemente, a segurança dos pacientes que tomaram a vacina. Também foi revelado que, mesmo tendo recebido reclamações sobre isso, o FDA, órgão americano equivalente à Anvisa brasileira, não inspecionou os locais de teste da Ventavia.

Problemas para compartilhar

A partir dessas informações, a BMJ contratou um repórter investigativo para escrever a história. O texto foi revisado por pares externos, procedimento comum entre revistas científicas, antes de ser publicado. Cerca de uma semana após a publicação do artigo, leitores da BMJ começaram a relatar problemas ao tentar compartilhar o texto. Alguns simplesmente não conseguiam completar a operação e outros contaram ter recebido um alerta: “verificadores de fatos independentes dizem que essa informação pode enganar as pessoas”.

Também houve casos em que, ao realizar a postagem do texto no Facebook, os leitores receberam um alerta de que “pessoas que compartilham repetidamente ‘informações falsas’ podem ter suas postagens reduzidas no Feed de notícias do Facebook”. Por outro lado, quem clicava na matéria para ler, de acordo com a carta aberta, era direcionado para a página de uma matéria do Lead Stories, com o título que não corresponde à verdade: “Verificação de fatos: O British Medical Journal NÃO revelou relatórios desqualificantes e ignorados de falhas nos ensaios de vacinas Pfizer COVID-19”.

No artigo, a Lead Stories chama o site do BMJ de “blog de notícias”. Para “comprovar” que o texto publicado pelo BMJ seria falso, a Lead Stories apenas lista as declarações oficiais da própria Pfizer, que “analisou as alegações e concluiu que não foram comprovada”, e do FDA, que declarou que “os benefícios da vacina Pfizer superam em muito os efeitos colaterais raros e os dados dos ensaios clínicos são sólidos”.

“Consideramos que a ‘checagem de fatos’ realizada por Lead Stories é imprecisa, incompetente e irresponsável”, dizem os editores da BMJ na carta a Zuckerberg.

Outros casos  

Os editores da BMJ relatam na carta ter entrado em contato com a Lead Stories, mas a empresa se recusou a alterar sua avaliação. Eles também pediram ao Facebook, sem sucesso, a remoção do alerta sobre fake news e o direcionamento para o artigo Lead Stories. Segundo eles, outras publicações científicas de renome têm sido afetadas pelos parâmetros nem sempre claros usados pelas agências de checagem. “Estamos cientes de que o BMJ não é o único provedor de informações de alta qualidade a ter sido afetado pela incompetência do regime de verificação de fatos da Meta”, dizem os editores.

Eles citam especificamente o tratamento dado pelo Instagram (serviço também pertencente ao grupo Meta/Facebook) ao Cochrane Library, plataforma de revisão de artigos médicos e de saúde. Organização sem fins lucrativos formada por mais de 30 mil médicos renomados e cientistas da área médica, o Cochrane teve suas publicações censuradas pela rede social, sob o argumento de que teria postado “conteúdo que vai contra as diretrizes da nossa comunidade relacionado a conteúdo falso sobre COVID-19 ou vacinas”. Os “conteúdos falsos” seriam artigos que revisaram pesquisas sobre o uso de ivermectina no tratamento da Covid-19, por exemplo.

“Em vez de investir uma parte dos lucros substanciais da Meta para ajudar a garantir a precisão das informações médicas compartilhadas por meio da mídia social, você aparentemente delegou essa responsabilidade a pessoas incompetentes”, dizem Fiona Godlee e Kamran Abbasi, se dirigindo a Mark Zuckerberg.

Para os editores da BMJ, a checagem dos fatos é fundamental e já tem sido realizada pelo jornalismo há décadas e não pode ser delegada a empresas privadas ou grupos terceirizados que não são isentas, possuindo interesses econômicos e ideológicos próprios. “Esperamos que você [Mark Zuckerberg] aja rapidamente: especificamente para corrigir o erro relacionado ao artigo do BMJ e para revisar os processos que levaram ao erro; e, ainda, para reconsiderar seu investimento e abordagem à verificação de fatos em geral”, finalizam os editores na carta.

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