• Carregando...
“Deveria ter buscado informações no cartório antes. Meu divórcio demorou três dias e isso que tinha um feriado no meio do caminho.” 
Diego Monteiro, instrutor de informática, que oficializou o divórcio há algumas semanas | Antônio Costa/Gazeta do Povo
“Deveria ter buscado informações no cartório antes. Meu divórcio demorou três dias e isso que tinha um feriado no meio do caminho.” Diego Monteiro, instrutor de informática, que oficializou o divórcio há algumas semanas| Foto: Antônio Costa/Gazeta do Povo

Nova chance

18,3% das uniões são de "recasamentos"

As pessoas estão dando cada vez mais novas chances ao amor, por isso os dados sobre recasamentos (onde pelo menos um dos cônjuges era divorciado ou viúvo) também crescem no Brasil. Totalizaram 18,3% no ano passado, 11,7% a mais do que em 2000. "As pessoas já admitem que os relacionamentos não são eternos, houve uma mudança de mentalidade. Hoje ser divorciado não é mais o fim do mundo", afirma o advogado e professor da UFPR Eroulths Cortiano Júnior.

No Rio de Janeiro está o maior porcentual de homens divorciados que casaram de novo (13,73%) em 2009. Já a maior taxa feminina é do Mato Grosso do Sul.

O chefe do IBGE no Paraná, Sinval Dias dos Santos, chama a atenção para um fato curioso na Região Sul quando o assunto é casamento. "Se compararmos o Paraná com o Rio Grande do Sul, percebemos que o estado deles é mais populoso, no entanto, tem um número menor de casamentos", diz. Isto porque, no estado gaúcho há mais idosos, o que faz com que a taxa de casamentos seja menor, assim como a taxa de fecundidade.

  • O casamento de até dez anos é o que dura menos. Confira

Os brasileiros nunca se divorciaram tanto como no ano passado. Em 2010, foram registrados 243.224 divórcios, entre processos judiciais e escrituras públicas – 36,8% a mais do que em 2009. Significa que 1,8 em cada mil pessoas com 20 anos ou mais dissolveu o casamento legalmente. Foi a maior taxa registrada desde 1984, quando teve início a série histórica. Os dados são das Estatísticas do Registro Civil 2010, divulgadas ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Um dos principais fatores que justificam o aumento de divórcios no Brasil se deve ao número de casamentos, que também está em ascensão. Só de 2009 para 2010, houve um incremento de 4,5% nos casamentos. "O aumento de divórcios, ao contrário do que se costuma dizer, não significa o fim da família. É uma questão lógica: aumentaram os casamentos e, consequentemente, crescem os divórcios também", afirma o advogado Rodrigo da Cunha Pereira, presidente do Instituto Brasileiro de Direito de Família.

A explicação para o recorde de divórcios registrados no país também está no Direito: desde julho do ano passado, uma mudança na legislação facilitou o acesso ao divórcio, acabando com o instituto da separação, com os altos preços de alguns processos e com os prazos longos. Antes, o casal que gostaria de oficialmente colocar um ponto final na relação precisava, primeiro, se separar judicialmente por um ano para, depois, entrar com o pedido de divórcio. Ou ainda, precisava provar que estava há dois anos separado para entrar com o pedido de divórcio direto. "Hoje é mais barato, rápido e acessível", afirma o advogado e professor da Universidade Federal do Paraná Eroulths Cortiano Júnior. O divórcio, quando não há filhos e nem litígio, pode ser feito diretamente no cartório e demora cerca de 30 dias. "Os processos de divórcio antigamente eram caros porque as custas processuais eram calculadas em cima do valor dos bens a serem partilhados. Hoje, se paga um valor fixo no cartório", explica Cortiano.

Para o vice-presidente da Associação dos Notários e Registradores do Brasil (Anoreg), Angelo Volpi, é preciso analisar a demanda reprimida antes de se chegar à simples conclusão de que os divórcios estão aumentando. "Esta estatística reflete a dificuldade que antes existia em se fazer o divórcio no país. As pessoas já estavam separadas, mas não oficialmente. Agora elas estão tendo acesso. Acredito que daqui a dois anos vamos saber se estes dados se referiam à demanda reprimida ou se realmente houve um aumento nos divórcios", diz.

Facilidades

Foram necessários apenas três dias para oficializar o fim do casamento de cinco anos de Diego Monteiro, 26 anos, instrutor de informática, e sua ex-mulher. A separação aconteceu em fevereiro deste ano, mas Diego só procurou o cartório há algumas semanas. A demora ocorreu porque, nas buscas pela internet, ele encontrou respostas equivocadas sobre como se divorciar, como, por exemplo, a necessidade de desembolsar R$ 1 mil e ainda precisar de advogado. "Deveria ter buscado informações no cartório antes. Meu divórcio demorou três dias e isso que tinha um feriado no meio do caminho."

O divórcio costuma acontecer, com maior intensidade, em casamentos com duração de até uma década: neste perfil, são 4 divórcios para cada 10. Outro fator curioso da pesquisa é que os divórcios, na maioria das vezes, são consensuais. Apenas em três estados brasileiros a quantia de divórcios litigiosos é maior do que os consensuais. São eles: Maranhão, Paraíba e Alagoas.

Separações acontecem com filhos pequenos

Grande parte dos divórcios que ocorrem tanto no Brasil como no Paraná são de casais que têm filhos menores de idade. Foram 43% dos divórcios em que os pais, no Brasil, tiveram de decidir sobre a guarda dos filhos menores: este índice sobre para 51% no Paraná. Apesar de na maioria das vezes a mulher sair do relacionamento como a guardiã dos filhos, a taxa de guarda compartilhada no Brasil (em que a responsabilidade é de ambos) tem aumentado: em 2000 eram 2,7% casos e, em 2010, foram 5,5%.

"A guarda sempre foi uma disputa de poder. A mulher, antes, fazia questão de ficar com os filhos porque, antigamente, se sentia mal perante a sociedade se não ficavasse com eles. Hoje, com a mudança cultural e o acesso cada vez maior delas no mercado de trabalho, isso mudou", afirma o advogado Rodrigo da Cunha Pereira, presidente do Instituto Brasi­leiro de Direito de Família.

Uma exceção curiosa é a cidade de Salvador (BA), onde 47% dos filhos de casais divorciados, no ano passado, ficaram sob a guarda compartilhada. "Este tipo de guarda foi amplamente divulgado em 2008 com uma legislação específica sobre o assunto. Não que o juiz antes não desse a guarda compartilhada, mas com a ampla divulgação desta possibilidade, a procura por esta opção aumentou", explica o advogado Eroulths Cortiano Júnior.

Por outro lado, Cuiabá (MT) e Goiânia (GO) não registraram nenhum caso de guarda compartilhada em 2010.

* * * * *

Interatividade

Por que é tão difícil manter um casamento duradouro nos dias de hoje? Quem tem mais culpa no fim do relacionamento: o homem ou a mulher?

Escreva para leitor@gazetadopovo.com.br

As cartas selecionadas serão publicadas na Coluna do Leitor.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]