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Quando perguntado se algum dia já ficou doente, o agricultor Brasileiro Mariano Ma­­chado, de 71 anos, coça a têmpora com o dedo calejado pela lida na roça e puxa pela memória para responder. "Doente assim de doença eu nunca fiquei, mas já tive que operar o joelho", diz levantando a calça e mostrando a cicatriz de um palmo de comprimento. "Só dói quando vai mudar o tempo. É bom porque daí eu sei quando vai chover."

Gripes e resfriados ele cura com chás de ervas e mel, que toma junto com o chimarrão diário. Nos fundos do rancho de madeira onde mora, ele planta hortelã, rubi, boldo do chile, erva doce, picão e penicilina, além de inúmeras outras variedades que, de acordo com a sabedoria popular, servem para todo tipo de moléstia. "Eu sempre coloco uma ou duas folhas de penicilina junto com o mate, daí não fico doente", explica o agricultor, enquanto empunha a enxada para cortar o mato em volta dos canteiros.

Seu Brasileiro, como é conhecido no assentamento Emiliano Zapata, na área rural do Botuquara, em Ponta Grossa, conversa enquanto trabalha, parando de vez em quando para tirar um lenço do bolso e enxugar a testa. "Não consigo parar de trabalhar. Ficar parado pra mim é castigo". Para ele, o trabalho é o que dá energia para seguir a vida, evitar doenças e manter a forma.

É com esse pensamento que ele levanta todo dia às 4 horas, toma seu café, trata os animais e vai para a lavoura. Seis porcos, seis gatos e quatro cavalos dependem de seus cuidados. No meio da tarde, quando não está muito longe de casa, faz uma refeição. Caso contrário, deixa para comer só no fim do dia, quando limpa a horta, ajeita as ferramentas, lava o chiqueiro, rega as plantas, trata novamente da criação e organiza tudo que for preciso para o trabalho do dia seguinte. Ele só come o que planta. No seu prato, não entra produto com agrotóxico.

Bicicleta

Brasileiro é aposentado, mas deixa o salário com a esposa, que vive na cidade com um dos sete filhos, todos vivos. Para visitá-la percorre cerca de 10 quilômetros em cima de uma bicicleta antiga, cortando caminho pelo mato.

A vitalidade do trabalho parece dar resultado para o lavrador. Fazia quatro anos que ele não ia ao médico, mas há um mês teve de recorrer ao posto de saúde, por causa de um corte no dedo, atravessado por uma lasca de madeira enquanto carpia. A ferida infeccionou. O médico receitou alguns comprimidos que ele toma diariamente, mas não dispensa a pomada que uma vizinha fez, usando ervas que ajudam a cicatrização. (MGS)

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