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O biólogo Márcio Pie, professor da Universidade Federal do Paraná, divide o seu tempo de trabalho entre salas de aula, laboratórios e expedições em áreas de floresta no Paraná e Santa Catarina. Nos últimos cinco anos, o “caçador de sapos” enfrentou trilhas de até oito horas para chegar ao cume de montanhas de até 1.400 metros atrás de minúsculos anfíbios, mas todo o esforço deu resultado. Desde junho, Pie e seus colegas anunciaram recentemente oito novas espécies de sapos antes desconhecidas pela ciência, e outras três estão em processo de descrição.

Os animais são todos do gênero Brachycephalus e estão entre os menores vertebrados do mundo, medindo cerca de um centímetro, pouco mais que o papuásio Paedophryne amauensis, recordista com 7,7 milímetros. E isso só dificulta a tarefa dos pesquisadores. Segundo Pie, os sapinhos são numerosos em seu habitat, cantam às centenas, mas sentem a aproximação do homem e se calam. Para encontrá-los é preciso revirar cuidadosamente as folhas que cobrem o chão.

“É como encontrar uma agulha num palheiro”, disse Pie. “Essas espécies são raras em termos geográficos. Cada uma delas é encontrada apenas no topo de uma única montanha, mas lá os sapinhos são encontrados em abundância”, explica.

O gênero Brachycephalus é um velho conhecido. O primeiro animal foi descrito em 1824, mas das 29 espécies conhecidas, 20 foram descobertas nos últimos 15 anos. Pie explica que, no passado, é provável que tenha existido uma espécie única, que habitava a região de Mata Atlântica entre o Espírito Santo e o nordeste de Santa Catarina. Por ser bastante sensível às mudanças de temperatura, os sapinhos foram se adaptando a regiões mais elevadas com o aquecimento gradual em centenas de milhares de anos, transformando o cume das montanhas em ilhas habitáveis.

Por essa adaptação, os Brachycephalus possuem características que diferem da maioria dos anuros. Por viverem em altas altitudes, os sapinhos estão longe de rios e lagos, habitat tradicional de seus parentes. Por isso, eles não passam pela fase larval dos girinos, tampouco sofrem metamorfose. As fêmeas colocam dois ou três ovos de cada vez e os filhotes já nascem desenvolvidos. Por causa das dimensões, eles possuem uma redução no número de dedos. Além disso, os minúsculos sapos não pulam.

“Eles só andam, caminham pelo chão das florestas”, disse Pie.

Apesar do tamanho, os sapinhos não são presa fácil. A dimensão minúscula os torna difíceis de serem encontrados, e eles estão armados com um poderoso veneno, a tetrodotoxina, que paralisa a musculatura e pode ser fatal até mesmo para o homem.

Estudos ajudam a proteger animais

As primeiras descobertas foram anunciadas em junho, e a última, na semana passada. Além do indiscutível ganho científico, os estudos conduzidos por Pie e seus colegas podem ajudar na preservação das espécies. Dos oito novos sapinhos, apenas um vive em área protegida. E por serem endêmicos a pequenas áreas, são bastante vulneráveis a qualquer alteração no habitat.

“Um incêndio pode extinguir toda uma espécie”, explicou Pie.

Legalmente, as espécies só podem ser protegidas após serem descritas e receberem um nome, trabalho que acabou de ser feito. Agora, os pesquisadores estão fazendo o sequenciamento genético dos animais e trabalham para incluir os sapinhos no rol de espécies protegidas.

“E vamos continuar com as expedições”, prometeu Pie. “Existem outras montanhas em que eu aposto que vamos encontrar novas espécies.”

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