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Quatro dias de monitoramento com uma filmadora foram suficientes para que a família de Dona Ilda (nome fictício), de 84 anos, confirmasse a suspeita de que ela vinha sofrendo maus-tratos. As imagens cedidas à Rede Paranaense de Comunicação (RPC) e veiculadas, ontem, pelo Paraná TV 2.ª Edição, mostram a acompanhante Vera Lúcia de Freitas, 42 anos, que deveria zelar pelo bem da senhora, dando tapas no rosto dela, puxando os cabelos, batendo nas mãos e jogando-as contra o colo de Ilda.

Há três anos, Ilda perdeu o marido com quem vivia há 62 anos. Depois disso, a descendente de poloneses entrou em depressão, o que fez com que a diabete se agravasse. Em meados do ano passado, ela teve de amputar parte de uma das pernas e passou a viver em uma cadeira de rodas em um apartamento montado junto à casa de um dos cinco filhos. Vera havia sido contratada em setembro de 2005 para tomar conta da senhora 10 horas por dia.

Segundo o relato de uma das netas, que não quis ser identificada, Ilda emagreceu muito nos últimos dois meses. Aos poucos, ela foi ficando mais deprimida, cabisbaixa, quieta, sonolenta e passou a confundir os familiares. "Achamos que era da idade", conta. Ela lembra que dois fatos chamaram a atenção da família sobre a possibilidade de maus-tratos: Vera teve de sair um dia mais cedo para prestar um depoimento no Conselho Tutelar e um dos netos escutou a acompanhante falando em tom áspero com a avó. "Na nossa frente ela sempre foi boazinha, querida. Não tinha como desconfiar", descreve a neta.

No último dia 20, uma segunda-feira, a família decidiu instalar uma câmera escondida. As imagens eram conferidas diariamente. Na quinta-feira seguinte, foi dado o flagrante. "A gente nunca imaginava que ela sofria esse tipo de agressão", lamenta. Vera foi demitida no início da semana sem saber o motivo. A neta conta que, nesta semana, Ilda voltou a sorrir, cantar e alimentar-se sozinha."A gente está chocado e mais tranqüilo por ter descoberto isso a tempo."

O caso foi levado ao 3.º Distrito Policial (Mercês) e ao Ministério Público. Foram instaurados um procedimento administrativo e um inquérito policial para apurar os fatos. "Só as imagens já são bastante para a prova. Podemos ver um castigo que não deixa marcas, mas que já caracteriza crime", conta o delegado Celso Neves. Ele afirma que a agressora deve ser processada com base no Estatuto do Idoso por tratamento desumano, degradante e humilhante e ameaça à integridade física e psíquica da vítima.

A promotora Terezinha Resende Carula, da Promotoria do Idoso, diz que antes de contratar uma pessoa as famílias devem verificar se o cuidador está capacitado para tomar conta do idoso e se tem vocação para isso. "Em casos semelhantes, a família deve procurar as autoridades competentes para que as providências legais sejam tomadas", afirma. Vera foi procurada pela Gazeta do Povo. Um amigo atendeu à ligação e disse que ela teria ido para a casa de parentes.

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