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Situação

Pedestre ainda sofre para atravessar rua, mesmo dentro da faixa

Atravessar as avenidas mais movimentadas de Londrina ainda é tarefa difícil quando não há semáforo por perto. Mesmo nos pontos onde há a placa da campanha Pé na Faixa, a reportagem constatou o frequente desrespeito dos motoristas.

Na Avenida Guines Parra, zona norte da cidade, em horários de pico, o pedestre precisa ter paciência para cruzar a via. O aposentado Antônio Alves diz que já chegou a esperar quase cinco minutos na faixa. O desrespeito à lei de trânsito preocupa o aposentado, principalmente nos horários de saída da escola. "Poderia ter um guarda municipal aqui para orientar nesses horários, pois são muitas crianças e mães que têm de cruzar a avenida."

A falta de respeito ao Pé na Faixa também é flagrada na área central. Mesmo quando um motorista dá a preferência, os pedestres não se sentem seguros para atravessar a rua porque o carro da pista ao lado nem sempre tem a mesma atitude. Em poucos minutos, a reportagem flagrou, na Avenida Rio de Janeiro, três pedestres que foram surpreendidos por carros e motos que não pararam. "É sempre assim. Isso é um risco para os pedestres", afirmou o taxista Armando de Jesus, que trabalha há 33 anos no ponto de táxi da região. Para ele, falta educação e fiscalização para que a campanha funcione. "Quando há fiscais multando, todos os motoristas param. Se não há, ninguém para", afirma.

Como funciona

O projeto pretendia realizar uma mudança de cultura

- Os pontos escolhidos são aqueles sem semáforo e onde o fluxo de pedestres é intenso.

- Eles recebem sinalização com as placas da campanha, que tornaram obrigatória a parada do motorista quando o pedestre sinaliza que quer atravessar.

- O pedestre deve sinalizar com a mão e aguardar na calçada até que o motorista visualize seu pedido e pare.

- Para evitar que o carro de trás bata, o motorista deve sinalizar com o pisca alerta.

- A travessia deve ser feita sempre pela faixa de pedestres.

- O desrespeito à lei dá multa de R$ 192, além de sete pontos na carteira de habilitação.

Fonte: Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Londrina.

Três anos após a realização da campanha Pé na Faixa – criada com o intuito de proteger os pedestres no trânsito –, o número de atropelamentos em Londrina não diminuiu. Segundo dados do Corpo de Bombeiros, houve queda apenas em 2009, ano em que o programa foi implantado – de 658 atropelamentos, em 2008, para 597. Entretanto, em 2010 e 2011, o número aumentou novamente, com 623 e 620 vítimas, respectivamente.

O Pé na Faixa nasceu de uma parceria entre Ministério Público, Companhia Mu­­ni­cipal de Trânsito (CMTU) e di­versos órgãos e associações de classe. O foco inicial era a conscientização do motorista sobre a importância do respeito à faixa. Mais tarde, simulações no trânsito e palestras foram feitas para que pedestres aprendessem a atravessar as ruas de modo seguro.

O aumento no número de atropelamentos é reflexo da falta de continuidade na fiscalização e divulgação do projeto, como avalia o especialista em trânsito major Sérgio Dalbem, que era o diretor de trânsito da CMTU quando a campanha teve início. "Os motoristas assimilaram a obrigatoriedade de parar na faixa, mas somente quando se mexe no bolso do cidadão há o respeito. O assunto tem de estar em discussão permanente, e isso não ocorreu", avalia.

Rotina

O atual diretor de trânsito da CMTU, Wilson de Jesus, afirma que o Pé na Faixa foi incorporado à rotina de fiscalização nas ruas da cidade. "Nós acompanhamos a questão sem descuidar. Ainda estamos trabalhando e insistindo na prioridade ao pedestre", garante. Segundo ele, os resultados nas estatísticas de atropelamentos virão em longo prazo. "A prática dos motoristas não mudou totalmente porque depende de uma mudança cultural, que leva tempo".

O promotor público Paulo Tavares, membro do Núcleo de Mobilidade Urbana de Lon­drina, concorda que este é um trabalho de conscientização que não se consolida de forma rápida. No entanto, ele diz que o programa já deveria ter dado resultados. "Se tivesse sido mantida ou intensificada a fiscalização, haveria outros números. A participação do poder público é primordial para que o trabalho continue", diz.

Segundo ele, houve uma mudança de comportamento de uma parcela muito pequena da população. Paulo acredita que, se em cada ponto do Pé na Faixa houvesse um agente multando, mais pessoas teriam adquirido o hábito de dar preferência ao pedestre.

Mudança deve partir do motorista

Se nem todos os motoristas respeitam a lei, os pedestres também não são menos desobedientes. Nas ruas, a reportagem constatou que poucos acenam a intenção de atravessar, como determina a campanha. Porém, para o psicólogo Luís Miúra, especialista em comportamento de trânsito, a responsabilidade maior deve ser colocada sobre os motoristas. Para ele, exigir que o pedestre acene a intenção de atravessar a rua, como no Pé na Faixa, é um grande erro. "O carro é uma arma, o motorista deve ter a maior responsabilidade. São os carros que devem evitar os atropelamentos."

Miúra ressalta que os motoristas, de forma geral, têm uma visão distorcida dos pedestres. "Quando um condutor vê um animal na pista, ele instintivamente reduz a velocidade e desvia. Quando é um pedestre, ele chega a acelerar. O motorista tem que parar todas as vezes que perceber a intenção do pedestre de cruzar a rua, independentemente de estar ou não na faixa", diz.

Mudança rápida

O psicólogo foi um dos responsáveis pelo desenvolvimento de campanhas educativas de sucesso, como a realizada em Brasília, onde, segundo ele, o pedestre é respeitado em todas as faixas. "Considero o que aconteceu lá um caso raro, pois a mudança de comportamento foi muito rápida", fala.

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