Em 9 de maio, às 13h17, os servidores, os alunos e os aposentados do campus Curitiba da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR) receberam de um canal oficial da instituição um e-mail com o título “Movimento por uma Universidade Popular (MUP): CineMUP”.
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O texto convida para a exibição parcial de um documentário argentino que representa experiências de “ensino popular” em toda a América Latina e que está disponível na íntegra site do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). A sessão está prevista para ocorrer na sede Centro da UTFPR, no Bloco E, sala 306, em 18 de maio – ou seja, dentro das dependências da instituição de ensino. O e-mail também menciona a necessidade de uma “universidade da e para a classe trabalhadora” e acrescenta: “Aproveite para olhar o Manual dos Caloures e conhecer algumas de nossas pautas”.
Não fica claro, na mensagem, se a expressão “nossas pautas” se refere aos autores do convite, o Movimento por uma Universidade Popular da UTFPR, ou à própria reitoria da instituição.
Servidores que fizeram esse questionamento receberam a seguinte mensagem: “Esclarecemos que este material não é institucional e não representa de maneira alguma a UTFPR campus Curitiba ou a Instituição. A informação foi enviada sem a devida autorização e medidas administrativas serão tomadas com relação a essa ação. Pedimos desculpas pelos transtornos”. Procurada, a assessoria de imprensa da instituição ofereceu uma informação de teor semelhante: “Não é, com certeza, de nenhum projeto nosso e desconhecemos esse movimento”.
"Manual dos Caloures" da UTFPR
O “Manual dos Caloures” divulgado no e-mail contém ilustrações representando Vladimir Lênin, Che Guevara, Paulo Freire, entre outros. Com tom de manual oficial, mas com as logomarcas do Movimento por uma Universidade Popular da UTFPR e da União da Juventude Socialista, anuncia: “Sejam bem-vindes à UTFPR!”.
Cita uma frase do ativista político cubano Julio Antonio Mella: “O que caracteriza a Revolução Universitária é seu desejo de ser um movimento social, de compenetrar-se da alma e das necessidades dos oprimidos, de sair do lado da reação, passar à 'terra de ninguém', e juntar-se valente e nobremente às fileiras da revolução social, na vanguarda do proletariado”.
O material também questiona o valor da refeição no restaurante universitário – “R$ 3,50 é um absurdo!”. E pede uma “ciência e tecnologia nacional e popular”. “Essa instituição merece um respeito maior a sua história”, cita o servidor. “Não merece ser ocupada dessa forma, por grupos cuja única motivação é ideológica”.
“Desrespeito à história”
Um dos servidores, que conversou com a reportagem sob a condição de ver preservado seu anonimato, relatou que a mensagem citada anteriormente, mesmo que seguida de um recuo, cumpriu a missão de divulgar ações ideológicas de um grupo externo à instituição. E que essa prática tem se tornado recorrente dentro da UTFPR.
Surgida há 112 anos, em 23 de setembro de 1909, como uma escola de aprendizes, a instituição de ensino foi transformada na UTFPR, em 2005, sobre as bases do tradicional Centro Federal de Educação Tecnológica do Paraná (Cefet-PR). É reconhecida nacionalmente pela qualidade de seus cursos, especialmente em Exatas, com destaque para as graduações nas engenharias.
Na avaliação do servidor ouvido pela Gazeta do Povo, o Movimento por uma Universidade Popular é apenas um dos muitos grupos que, nos últimos anos, tem lutado para se apropriar da instituição. “Essas pessoas não têm respeito algum pela educação, nem pela relevância desta escola para a sociedade. Apenas pretendem usar essa tradição. É uma minoria barulhenta, que ameaça a maioria, que permanece silenciosa”.
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