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Margarete Mendes, fiscal da cooperativa: horários regrados e trabalho organizado | Felipe Lessa/Gazeta do Povo
Margarete Mendes, fiscal da cooperativa: horários regrados e trabalho organizado| Foto: Felipe Lessa/Gazeta do Povo

Transferência não tem prazo

O ponto final na história do lixão do Embocoí deve ser dado com a parceria entre a prefeitura de Paranaguá e a Petrobras-Transpetro, que vai investir R$ 2 milhões na construção do novo aterro. Ainda que a passos lentos, o processo de mudança do lixão de Paranaguá está em andamento. Na quarta-feira da semana passada, a Secretaria Municipal de Meio Ambiente de Paranaguá (Semma) recebeu do Instituto Ambiental do Paraná (IAP) o documento que autoriza a desapropriação de uma área de 48 hectares no Distrito de Alexandra.

O Embocoí surgiu em 1973 e recebe em média 140 toneladas de lixo por dia, de Paranaguá e da Ilha do Mel. O local também recebe lixo hospitalar e os resíduos do porto de Paranaguá.

Em 2005, uma empresa foi autuada por levar lixo gerado por navios atracados no porto. Em fevereiro deste ano, a prefeitura municipal e o prefeito José Baka Filho foram notificados e multados pelo IAP, que classificou o local como um dos piores exemplos de gerenciamento de lixo no país.

Vanderlei Silva, 40 anos, não tem renda fixa e muitas vezes não descansa nos finais de semana. Em diversas ocasiões também trabalha em tempo integral e se queixa da falta de dinheiro para comprar bebidas alcoólicas. "É para firmar o pulso. Quando falta o prato de comida, a gente toma um golinho para não ficar tremendo", explica. Luiz Sandro, 35 anos, cresceu sem carrinhos, bola e outros brinquedos. Trocou a infância pelo convívio com lixo, mau-cheiro, cachorros e cavalos – algumas vezes mortos – além dos urubus.

Ambos são catadores de recicláveis, trabalham no Lixão do Embocoí, moram na Vila Santa Maria, em Paranaguá, e estão apreensivos com a possibilidade de viverem em condições ainda mais degradantes e miseráveis com o fim do lixão da cidade.

O pânico toma conta dos catadores toda vez que recebem notícias sobre a construção do novo aterro sanitário de Paranaguá, no Distrito de Alexandra. O local substituirá o atual lixão e será construído a partir de um convênio entre prefeitura municipal e Petrobras-Transpetro. O temor é que, com a mudança, os catadores e moradores da vila não sejam lembrados. "Não é um bom local para se viver, mas ao menos é o que conseguimos para continuar existindo", explica Sandro.

Cerca de 800 famílias moram na Vila Santa Maria, região ocupada no início dos anos 90, onde a maioria depende da coleta no lixão. Os catadores afirmam que não há nenhum projeto concreto de inclusão dos moradores. "Não escutei nada de nos darem novos empregos ou de um projeto para nós no outro lixão. Nem nos chamaram para uma conversa", diz Sandro. "Queremos apenas uma garantia de que não vamos perder o pouco que temos", afirma Silva.

De acordo com a engenheira ambiental da Secretaria Municipal de Meio Ambiente de Paranaguá (Semma), Caroline Beleski, a prefeitura, o Instituto Ambiental do Paraná (IAP) e a Petrobras estão estudando alternativas para os catadores do Embocoí, como o incentivo a cooperativas de reciclagem. "Eles terão de sair de lá. Uma das alternativas para não deixá-los na ociosidade já está sendo implantada. São os três caminhões do lixo solidário, que coletam recicláveis em toda a cidade e distribuem entre as cooperativas que estão surgindo", diz.

Criada há cerca de um ano, a Associação de Recicláveis de Paranaguá (Arepa) ainda não tem nenhuma estrutura, a não ser algumas balanças e lonas, localizadas em uma área improvisada, ao lado do lixão. E ainda encontra dificuldades para recrutar novos associados. Apenas a metade dos 50 catadores que começaram no projeto permanece.

"Como falta estrutura, muita gente abandona a cooperativa, pois a quantidade de lixo que recebemos dos caminhões de reciclagem da prefeitura ainda é baixa, comparada com a que poderíamos recolher no lixão", observa a fiscal da cooperativa, Margarete Mendes.

Apesar das dificuldades, Margarete elenca as vantagens de participar da Arepa. As tarefas são divididas e o trabalho dos catadores, organizado. "Pelo menos na cooperativa eu tenho horários, algo que só tive antes de vir do Norte do Paraná, há cinco anos. Nosso objetivo é melhorar, cada vez mais".

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