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Cláudio Luiz Mäder, diretor financeiro e de patrimônio do Clube Concórdia, em frente à sede da associação | Aniele Nascimento/ Gazeta do Povo
Cláudio Luiz Mäder, diretor financeiro e de patrimônio do Clube Concórdia, em frente à sede da associação| Foto: Aniele Nascimento/ Gazeta do Povo

Represálias

Conheça os principais pontos do conflito e algumas das retaliações sofridas por membros das colônias alemã e italiana

1938 – Governo brasileiro edita Lei da Nacionalização. Escolas étnicas são fechadas.

1939 – Invasão da Polônia pela Alemanha, em setembro, dá início à Segunda Guerra Mundial. Os Aliados (Estados Unidos, Inglaterra, França, União Soviética, e posteriormente o Brasil) combateram os países do Eixo (Alemanha, Itália e Japão).

1941 – Sede do Clube Rio Branco, no Centro de Curitiba, é apedrejada em março.

1941 – Japão ataca a base naval estadunidense de Pearl Harbor, no Havaí, em dezembro.

1942 – Navios brasileiros são afundados e país declara guerra ao Eixo em agosto.

1942 – Clube Concórdia, no bairro São Francisco, tem a sede invadida e depredada.

1943 – O prédio da Sociedade Garibaldi – o Palácio Garibaldi – é desapropriado e destinado ao Tribunal de Justiça e depois ao Tribunal Regional Eleitoral.

1944 – Força Expedicionária Brasileira vai para a Itália e entra no combate ao lado dos Aliados.

1945 – Entre 6 e 9 de agosto, EUA lançam bombas atômicas em Hiroshima e Nagasaki.

1945 – Aliados derrotam a Alemanha Nazista e a Segunda Guerra Mundial termina no início de setembro.

1945 – Interventor Manoel Ribas determina que a sede do Clube Concórdia seja devolvida aos imigrantes alemães.

1949 – Clube Rio Branco retoma as atividades.

1962 – Sede da Sociedade Garibaldi é devolvida aos imigrantes italianos.

  • A sede do Clube Concórdia, no bairro São Francisco, foi depredada em 1942
  • Após ter sido encampado e cedido à Cruz Vermelha e à Liga de Defesa Nacional, o prédio do Concórdia foi devolvido aos sócios no fim de 1945. Hoje é tradicional palco de eventos e exposições

Clubes de Curitiba fundados e frequentados por imigrantes e descendentes de italianos e alemães foram depredados e encampados durante a Segunda Guerra Mundial. Os incidentes resultaram das tensões sociais provocadas pelo conflito que ocorria do outro lado do Atlântico e que também tinham reflexos na capital paranaense. A rotina dessas associações culturais e beneficentes, porém, já tinha sido alterada mesmo antes de o Brasil declarar guerra aos países do Eixo, o que ocorreu em agosto de 1942.

Em 1938, um decreto-lei do governo brasileiro – conhecido como Lei da Na­­cionalização – proibiu o funcionamento das escolas estrangeiras no país, determinou que todo o ensino fosse em língua portuguesa e que todos os professores e diretores fossem brasileiros natos. "Havia a promessa de Getúlio Vargas de que os imigrantes e seus descendentes seriam assistidos. A falta de apoio e também a tentativa de não perder a identidade cultural motivaram a criação de clubes, hospitais e igrejas", explica o professor de História Contemporânea da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR) Wilson Maske. O governo determinou também a realização de cerimônias religiosas em português e o afastamento de imigrantes italianos, alemães e japoneses das diretorias dos clubes e empresas.

A vida dos estrangeiros também foi afetada por determinações complementares e as associações tiveram de mudar de nome. Verein Deutscher Saengerbund (As­­­­­sociação Alemã de Can­­tores) se transformou em Club Concórdia e o Han­­dwerker Unterstützung Ve­­rein (Sociedade Operária Beneficente) passou a se chamar Sociedade Beneficente Rio Branco. Situação parecida ocorreu com a Sociedade Beneficente Livorno Ítalo Bra­­sileira. "Os sócios italianos tinham medo de represálias. O nome foi mudado para Sociedade Operária Beneficente Livorno, em 1940, e depois para So­cie­­dade Beneficente Dom Pe­­dro II", conta o presidente da entidade, Marcelo Celli. Posteriormente, esses clubes tiveram alterações na estrutura e passaram às nomenclaturas atuais: Concórdia, Rio Branco e Recreativo Dom Pedro II.

O torpedeamento de navios brasileiros e a entrada do país na guerra acirraram ainda mais os ânimos. Os imigrantes eram acusados de conspirar a favor do nazifascismo e a população referia-se a eles como "quinta coluna", termo usado para definir grupos que agem sorrateiramente para ajudar a invasão armada promovida por rivais.

A sede do Clube Con­córdia, no bairro São Fran­cisco, foi depredada em 1942. "Um piano foi jogado do palco do salão principal", afirma o diretor financeiro e de patrimônio do Concórdia, Cláudio Luiz Mäder. Portas e vidros foram quebrados, móveis destruídos e documentos extraviados. Meses depois, o prédio foi encampado e cedido à Cruz Vermelha e depois à Liga de Defesa Nacional. O nome do espaço foi alterado para Casa Olavo Bilac e chegou a ser repassado ao Clube Atlético Paranaense. Com o fim da guerra, o interventor Manoel Ribas determinou que o Clube Concórdia fosse devolvido aos sócios no fim de 1945.

Violência

Multidão se reuniu para apedrejar prédio no Centro de Curitiba

O Clube Rio Branco, outra associação alemã, foi depredado em 18 de março de 1941. "Uma multidão foi à Rua Visconde do Rio Branco, onde ficava a sede do clube, e apedrejou o prédio", afirma Paulo Bebik, ex-presidente da entidade.

O espaço foi fechado e destinado ao Exército. As atividades foram transferidas para a Sociedade Beneficente Cruzeiro do Sul até 1949.

Italianos

O prédio da Sociedade Garibaldi, no Centro de Curitiba, foi desapropriado em 1943. O local foi destinado ao Tribunal de Justiça e depois ao Tribunal Regional Eleitoral.

A devolução aos imigrantes italianos ocorreu em 1962. Outros clubes, como o Duque de Caxias, o Thalia e o Harmonia também foram afetados pelas tensões causadas pela guerra.

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