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Uma leitora conta que errou, em concurso recente, uma questão de português envolvendo o verbo "obedecer". Ela ficou entre duas alternativas: "obedecer à sinalização" e "obedecer a sinalização". Marcou esta última e errou. Não passou no concurso. Mas não foi apenas por causa disso.

Muitos concursos hão de vir e tomara que a aprovação em um deles se concretize em 2011. Enquanto isso, vamos examinar a questão. A maioria dos nossos instrumentos normativos sobre a língua diz basicamente a mesma coisa sobre o verbo "obedecer": trata-se de um verbo transitivo indireto. Para quem esqueceu, verbos transitivos indiretos são aqueles que regem preposição. O verbo "obedecer" rege a preposição "a". Portanto, a alternativa "obedecer à sinalização" está de acordo com a lição. O acento grave sobre o "a" assinala que existe crase na construção. Vejamos: eu obedeço a + a sinalização. Mais exemplos para os próximos concursos: obedecer às leis, aos pais, aos instintos, à banca examinadora.

Dissipada a neblina sobre a questão, não nos custa anotar que na maioria dos concursos prevalece uma visão sobre língua que ultrapassa a estupidez, com folga de quilômetros. A turma que elabora a prova de português pega essas questões em livros do tipo "não erre nunca mais" e em e-mails de "atentados contra a língua". O jeito é decorar algumas listinhas.

E depois da aprovação examinar com bastante atenção o que dizem estudiosos, de fato, do nosso idioma. Sobre o verbo "obedecer", por exemplo, vamos aprender que padre Antônio Vieira (alguém contesta esse homem?), Euclides da Cunha, Clarice Lispector (etc. ad infinitum) usaram a forma direta, sem preposição.

Mas do que estamos falando? Desde quando esses autores servem de referência? Então vamos lá: obedecer ao mestre, obedecer à rainha...

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