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Escrevo de Bogotá, Colômbia, fazendo hora para voltar. Passei a semana aqui como escritor convidado da Feira Internacional do Livro de Bogotá, onde o Brasil foi o país homenageado. Estava bonito o pavilhão brasileiro, com cenografia de Daniela Thomas, concebida com divisórias de palavras vazadas, quebrando o clássico trinômio "baiana-mulata-carnaval" que nos arrasta mundo afora com a maldição exótica de sempre. Sim, havia o acarajé, mas também, de contraponto, uma refinada homenagem a Clarice Lispector. E assisti a um espetáculo maravilhoso do grupo goiano de dança Quasar.

Na Feira, participei de uma mesa atípica, conversando sobre a distância entre autor e narrador com o escritor colombiano Sergio Ocampo Madrid, ainda não traduzido entre nós. Senti alguma atenção especial das agências de notícias e do jornalismo local sobre a produção brasileira, mas, numa perspectiva mais ampla, continuo pessimista. Ainda é mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha do que os estrangeiros se interessarem de fato pela nossa literatura. Na Feira de Frankfurt de 2013 seremos também homenageados, mas o costumeiro carnaval oficial não esconde o dado básico de que as editoras de fora (e são elas a chave da questão, a livre iniciativa, e não os rapapés diplomáticos) ainda têm pouco ou nenhum interesse pelo que se escreve aqui. O que é um tema sem fim para discussão.

Bogotá, de cara, me lembrou Curitiba – o orgulhoso motorista que me levava ao hotel mostrou-me os ônibus articulados chamados de "TransMilenio", idênticos aos nossos expressos, que em Bogotá atravessam a cidade de ponta a ponta. Cercada pela cordilheira, a cidade é imensa e espalhada, com poucos arranha-céus; o padrão são prédios baixos, de quatro ou cinco andares. O trânsito é o caos de qualquer megalópole. Acho que eles buzinam demais, num código sutil que não consegui decifrar, mas, como não vi nenhum acidente e nem carros amassados, imagino que o sistema funciona. Os bogotanos são muito cordiais, de uma gentileza tranquila que chama a atenção, o que é um contraste com a tensão política do país, ainda sob o terror das Farc. Veem-se soldados aqui e ali, e percebi uma discreta insistência para que turistas não peguem táxis na rua, e sim nos pontos. A palavra "sequestro" não é pronunciada e hoje seria uma possibilidade remota, pero...

Das atrações que visitei, a Catedral de Sal, esculpida no interior de uma montanha, é quase um parque temático católico de estética neotemplária, com um toque de video game; mas, esquecendo o kitsch das luzes, as cavernas impressionam. O Museu do Ouro é muito bonito, uma exposição extraordinária. E o Museu Botero, que lembra uma casa de bonecas para adultos, parece apreender, pelas suas célebres figuras tranquilas, suaves e inexoravelmente inocentes, uma essência colombiana que se deixa entrever no dia a dia do país.

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