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Como é do conhecimento geral, o futebol é uma das instituições mais corruptas do mundo – quase tudo que toca vira dinheiro escuso e história mal contada, de compra de árbitros aos clássicos superfaturamentos. Há um exemplo atávico que vem de cima: a fantástica Fifa e seus poderes extraordinários. Dom Blatter, o imperador do universo, com sua varinha mágica manda e desmanda, dá conselho a presidentes, pede educação ao público, exige altíssimos padrões de estádios e comporta-se como um supervisor mundial da ONU. Quando encontra um bom quintal, como o Brasil, faz milagres que santos de casa não fazem nunca, ainda que ele ande meio arrependido de nos escolher – agora está todo mundo querendo o tal padrão Fifa, misturando alhos com bugalhos. Ora, dizem os finos suíços da Fifa, a gente que vá catar coquinhos e erga logo os estádios, vamos logo com isso, cambada de incompetentes e preguiçosos!

Melhor trocar o padrão Fifa pela utopia mais concreta do IDH, o índice do desenvolvimento humano. Acaba de sair o nosso, e melhoramos. Trocando em miúdos, ficamos mais ricos, de duas décadas para cá. Uma riqueza que é filha do processo de urbanização mais rápido e agressivo dos tempos atuais (proporções mantidas, mais rápido que o da China). O problema é que, pelos dados da educação fundamental, que continuam nos relegando a um padrão humilhante, e pela espantosa taxa de homicídios, que faz do Brasil um dos territórios mais perigosos do mundo, não há o que festejar. Em suma, somos um país periférico, ignorante e violento, fechando uma equação que, por sua teimosa persistência, nos sequestra o futuro decente que o novo IDH parece prometer.

E o futebol, onde entra nessa história?

Pois bem, em homenagem à recente visita do papa, eu, pecador, me confesso: nesse panorama sinistro, nada me deu uma alegria tão intensa nos últimos anos quanto a vitória do Atlético sobre um Galo de salto alto lá na granja do Horto. Há quantos jogos eles estavam sem perder mesmo? Deixo os perigos do mundo de lado e me concentro apenas no esporte bretão jogado dentro das quatro linhas, que começa com o apito do juiz e que só termina quando acaba – o detalhe mortal que enterrou o Galo. Eu andava meio jururu com o meu time, fazia tempo – estava difícil sentir uma alegriazinha. Até para escapar da Série B contamos mais com a sorte que com o talento. Todo jogo um sofrimento. Emagreci, de ruim. Sem falar dos males da inveja: os coxas alegrinhos com o time nítido que montaram, flutuando lá em cima, e nós com aquelas pedras amarradas nas pernas, vendo a tabela do outro lado da cerca.

Mas o Atlético foi mudando, pegando jeito de time, mostrando inteligência, ganhando ponto e moral, voltando a respirar. Com a vitória sobre o Goiás, não tenho mais dúvida de que dá para encarar esse campeonato. O país não anda lá essas coisas, mas meu IDH de torcedor atleticano está em alta.

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