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Às vésperas do Natal, o Anjo do Senhor apareceu para Madame Champagnat: "Trago uma boa nova à sua família: na noite de Natal o Menino Jesus virá abençoar sua casa!"

Já com as malas prontas para a temporada em Miami, Madame Champagnat ficou estupefata. Passava longe de sua cabecinha que um milagre assim benfazejo pudesse recair sobre ela. Encomendou o jantar, harmonizou dos melhores e mais caros vinhos da adega e tratou de convidar a família e os bons amigos para a visita do Nazareno.

Et le champagne coulait a flôts – diria o poeta Verlaine à Madame Champagnat, que ainda apreciava a primeira rolha quando tocaram a campainha. Era uma índia com roupas miseráveis, daquelas famílias caingangues abrigadas no Viaduto do Capanema: "Dona, um ajutório!", implorou a pobre coitada."Tenho sede e fome de qualquer coisa".

"Não tenho pão velho!" – retorquiu a Madame. "Sinto muito, mas agora estou atarefada com a ceia de Natal!" A miserável pegou a garrafinha de água mineral que lhe foi oferecida e sumiu. Não deu 15 minutos, foi a vez de um homem apertar a campainha: "Não tenho pão velho!" – repetiu a Madame, antes de aquele senhor com uma caixa de ferramentas se apresentar: "Marceneiro, eletricista, jardineiro, reparos em geral. Preciso de ajuda para o Natal, minha senhora!" Ocupadíssima com a prataria, cristais e porcelanas, Madame levou as mãos à cintura: "Onde já se viu incomodar as pessoas numa hora dessa? Passe bem!" – e bateu a porta.

Na lida dos acepipes, alguém lá fora bateu palmas. "Jesus! Será que agora seria Jesus?" – pensou a Madame, correndo a abrir a porta. Era um menino, mas não era o Menino Jesus. Era um menino de rua: "Senhora, tem um pouco de comida?" "Oh, céus! Volte amanhã que eu lhe dou um panetone!".

Finalmente a ceia estava posta, com a família e amigos em volta. Entrementes, as horas iam passando e o Menino Jesus não aparecia. Quando o champanhe deu vez ao sono, cansados de tanto esperar, os convidados foram embora e a melancolia serviu de sobremesa.

De madrugada, Madame Champagnat acordou sobressaltada no sofá da sala. Para seu espanto, viu que estava junto dela o Papai Noel: "Papai Noel? O que você está fazendo aqui?", gritou. "Eu aguardei a noite inteira e Jesus não apareceu. Será que algum anjo maligno mentiu para mim?"

"Não foi o Anjo do Senhor que mentiu!" – respondeu o Papai Noel. "Foi você que não teve olhos para ver. Jesus esteve aqui em sua casa três vezes: na pessoa de uma índia, na pessoa de um marceneiro e na pessoa do menino de rua".

"E agora, o que vai ser do meu Natal?" – perguntou Madame Champagnat. Papai Noel deu uma boa risada – "Rôu-rôu-rôu-rôu!" –, montou no seu trenó e se despediu: "Nos veremos no próximo Natal. Em Miami, quem sabe?"

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