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Nos últimos dias, por ocasião do aniversário de Curitiba, muito se falou sobre a cidade e o jeito de ser dos seus habitantes. Quando se especula quem é o curitibano, uma das características mais destacadas é a de sermos um povo fechado, ensimesmado. Muitos daqueles que vêm de fora reclamam da dificuldade de fazer amizades. O curitibano parece, enfim, satisfeito em estar junto aos seus familiares e amigos, abrindo pequenas brechas para incluir "forasteiros" em seu círculo íntimo.

Ainda que essa descrição seja um estereótipo sujeito a muitas contestações, há um fundo de verdade nela. E não necessariamente isso é ruim. A atitude de fechar-se aos "estranhos" revela, olhando por outro prisma, que o curitibano valoriza de forma muito contundente a sua família e seus amigos – com tudo o que isso traz de positivo e de negativo.

De bom, não é preciso descrever muito, está a saudável manutenção da instituição familiar – a base de qualquer sociedade bem equilibrada.

De ruim, o risco de reproduzir na esfera pública relações pessoais que deveriam ficar restritas à vida particular. É isso que vemos, por exemplo, nos recentes escândalos da Assembleia do Paraná, revelados pela Gazeta do Povo e pela RPC TV.

O Legislativo paranaense virou uma grande família fechada à entrada de estranhos, um clube de amigos. O que movia as nomeações de servidores, conforme mostram as reportagens da série Diários Secretos, eram relações de parentesco e compadrio. Redes de padrinhos e apadrinhados se formaram na Assembleia. A contratação sem concurso virou a regra e não a exceção – afinal, a ninguém de fora seria permitido entrar nesse círculo de amizade.

E isso não ocorre só no Legislativo. As reportagens ainda desvendaram que o Centro Cívico inteiro é permeado de relações pessoais entre integrantes de um poder que têm parentesco ou amizade com membros de outros órgãos públicos. Uma característica, por sinal, muito antiga da política paranaense. No livro O Silêncio dos Vencedores, o cientista político e sociólogo Ricardo Costa de Oliveira, da UFPR, demonstra que o poder no Paraná sempre esteve nas mãos de um círculo muito restrito de famílias, da época do Império aos dias atuais.

Talvez haja de fato uma relação entre o jeito curitibano de ser e o que ocorre dentro dos poderes paranaenses. Afinal, foram os moradores da capital os principais responsáveis históricos por moldar as instituições políticas do estado.

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Aos meus leitores, informo que estou entrando em férias. Volto a escrever neste espaço em 10 de maio.

Fernando Martins é jornalista

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